Natsu
Eu buscava o olhar de Lucy, mas nunca tinha resposta. Ela andava cabisbaixa, e eu tinha a impressão de que ela sairia correndo a qualquer momento. Estava aflita, confusa, e o fato de o pai dela estar na ambulância me preocupava muito. Queria ajudar, fazer alguma coisa, mas não conseguia pensar em nada pra dizer, ou fazer.
Caminhávamos em silêncio na chuva. Um silêncio frio e desconfortável. Como sou muito ansioso, ficava o tempo todo olhando pra Lucy, ao mesmo tempo que mexia nos bolsos vazios. Mais uma vez o nosso passeio tinha sido estragado. Soltei um longo suspiro de angústia, e o que recebi foi um olhar assassino de Mira, que abraçava Lucy e murmurava umas coisas pra ela.
Virei a cabeça pro chão e voltei a caminhar em silêncio. Passamos por um quarteirão de lojinhas cobertas com toldos, e todos nos aproximamos para não pegarmos chuva (não que adiantasse muita coisa). Depois de uns dois minutos de caminhada estávamos de volta à República.
Lucy passou direto pela entrada e foi direto pro quarto. Não deu tempo de dizer qualquer coisa à ela. Ao entrarmos, todos os outros que haviam ficado se levantaram assustados, provavelmente porque tínhamos pegado eles no flagra. Normalmente eu riria da situação, mas esse não era um bom momento.
Levy correu para achar a Lucy no meio de nós, mas ao não ver nada, me olhou desconfiada.
— CADÊ ELA? — perguntou, meio que gritando, meio que sob controle.
— Ela está tendo um momento difícil — respondeu Mira antes de mim. Ao ver a cara de Levy, prosseguiu: — É que... a gente viu uma ambulância e... o pai dela estava lá dentro.
Levy cobriu as mãos com a boca e subiu as escadas correndo. Mas não foi só a Levy que ouviu, todos na sala de estar, ali próximos de nós, ouviram. Gajeel fechou a cara e desviou o olhar, Lissana fez cara de coitada, Elfman realizou uma prece silenciosa. Todos reagiram de alguma forma; eu tinha que fazer algo por ela, mas não sabia o quê.
Enquanto todos se recuperavam do choque e se dispersavam pela casa, comecei a andar de um lado para o outro tentando pensar em algo que pudesse ajudá-la, mas nada fazia sentido. Eu não queria apenas conversar com ela; queria dar o meu ombro, sentir a dor dela. Mas temia que Levy já estivesse fazendo isso, e não podia chegar lá, bater na porta e dizer: E aí, é o Natsu. Quer mais um ombro amigo pra chorar? Não, não... Não ia dar certo mesmo. A melhor coisa a se fazer agora é esperar e torcer para tudo dar certo.
Lucy
Arrasada, chocada, abalada, eu estava sentindo tudo ao mesmo tempo. Eu não sabia o que fazer, ou pensar, por isso corri direto para o dormitório. Como esperado, me desmanchei em lágrimas assim que me joguei na cama. Mas eu não sabia o que tinha acontecido com meu pai, e isso me desesperava.
Agora, Levy me consolava, dizendo que estava tudo bem, que Deus estava no controle. A seu pedido, deitei em seu colo, enquanto a fala da minha amiga foi substituída por um gostoso cafuné no cabelo molhado.
— Ei, Levy...
— Sim?
— Acha mesmo que ele tá bem?
Ela deu um longo suspiro antes de responder.
— É claro. Se não, a gente ia saber. Teriam ligado ou sei lá.
Balancei a cabeça, concordando. Ela tinha razão: não tinha motivos para chorar. Orei mais uma vez, silenciosamente, e depois decidi ir ao hospital.
— Tem certeza?
— Aham. Eu só... — fiz uma pausa. — Não quero ir sozinha.
— Quer que eu vá com você?
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Como se num Conto De Fadas - Livro I da série
FanfictionO que você faria se sua família, casa e amigos fossem arrancados de você? Lucy Heartfillia não sabe ao certo a resposta, mas sabe que mesmo triste, "arrancado" não é a palavra certa para usar. Ela sabe que Deus a preparou pra esse momento, e que Ele...