KARA VI

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Kara estava alheia a tudo que estava acontecendo ao fundo naquele momento. Desde que ouvira a voz de seu pai, ainda dentro da Explorer, a garota estava aérea e distante. Agia no automático sem prestar muita atenção ao que ocorria à sua volta. Vez por outra sentia a mão de Suki, que permanecia o tempo inteiro entrelaçada à sua, lhe apertar ligeiramente mais forte. Porém, nem mesmo isto era capaz de tirá-la daquele transe que tinha entrado desde então. Sua cabeça era bombardeada com milhões de pensamentos e a ansiedade tomava conta de tudo.

Kara sempre fora um caldeirão de dúvidas sobre si mesma. Seu maior sonho era saber quem realmente era. Não sabia o motivo de não ter a pele da mesma cor que seu mestre tinha, assim como não sabia a razão de seus olhos serem completamente brancos. Kara apesar de não ser uma Agritoriana, morava em Agritor desde sempre, apesar de não ser uma Kamemaru, fora criada por um, e apesar de não ser uma humana, tinha como melhores amigos, dois humanos. Para Kara, ela nunca se encaixava em nada, sempre se sentia uma invasora ou intrusa no meio de tantas coisas diferentes de si. Kara sentia falta de ver alguém que se parecesse com ela, pelo menos uma vez na vida.

Tinha aprendido sobre a cultura dos humanos com Lídia e Jon Marks e também aprendera sobre a cultura Kamemaru com o seu mestre, mas sabia que nenhuma dessas era a sua cultura. No final das contas qual era a sua cultura? Qual era o seu povo? Os violentos terroristas de Koás? Ou os cientistas sem sentimentos de Teseu? Kara agora sabia o nome do seu pai e o nome de sua mãe. Sabia o planeta aonde nascera e sabia também que era não de uma, mas de duas raças, Teseu e Koás. Mas ainda que soubesse de tais coisas, a garota ainda não tinha a resposta para a pergunta. "Quem sou eu?"

Quanto mais velha ficava, mais dúvidas tinha sobre quem realmente era. As mudanças que aconteciam em seu corpo a deixava cada vez mais confusa. Por que seu corpo estava mudando? Por mais que perguntasse ao Mestre Turtle, ele nunca dava uma resposta satisfatória e sempre desviava do assunto. Apenas Lídia respondeu algumas de suas perguntas sobre as mudanças corporais que ela vinha enfrentando. A humana disse, que agora ela era uma mulher praticamente formada e fisiologicamente pronta para ser mãe. Kara considerou a resposta de Lídia melhor do que a de seu mestre, que em suma, era basicamente resposta alguma. Porém, ela apenas respondeu baseado no conhecimento que tinha sobre os humanos e Kara não era humana. E se tais mudanças não significassem as mesmas coisas para a sua raça?

Kara não entendia o motivo desses pensamentos estarem inundando a sua cabeça naquele momento. Obteve algumas respostas com a recente conversa que teve com seu mestre onde ele finalmente abriu o jogo lhe contando toda a verdade sobre sua origem. Porém saber que neste momento ela estava no mesmo planeta que seu pai, que a alguns dias ela nem sabia que existia a deixou novamente confusa, da mesma forma que costumava ficar quando criança. Sua mente não parava de processar milhões de perguntas que gostaria de fazer a ele. "Por que me abandonou? Por que não me criou? Por que abandonou a minha mãe para morrer em batalha? Por que injetou aquele soro em mim? Você me ama? Me considera uma filha ou uma experiência? Quem sou eu? "

Eram tantas perguntas em sua mente que ela nem tinha notado o que estava acontecendo à sua volta. Apenas sabia que todos estavam mais agitados do que de costume, mas sinceramente ela nem se importava com o motivo, só queria respostas sinceras para as suas perguntas.

– Kara – Disse uma voz ao fundo tentando se sobressair aos pensamentos que pareciam estar aos berros em sua mente.

– Kara está me ouvindo? – Disse novamente a mesma voz como se fosse um eco na cabeça de Kara.

– Kara estou falando com você. – Disse a voz e Kara pôde sentir um puxão no braço que a tirou daquele transe de pensamentos.

– O que foi? Eu.... – Disse ela ainda aérea.

As Crônicas da Ordem e do Caos - A batalha pelo universo (Livro Um) [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora