Capítulo 52

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– Tudo bem. – Disse dando um leve sorriso fechado. O garoto virou-se e saiu andando o acompanhei. Fomos em direção da arquibancada da escola, era o meu refúgio e provavelmente o do garoto de olhos azuis.

Parker colocou seu capacete de campo em uma das poltronas e se sentou-se na outra, fiquei em pé esperando o garoto falar algo. O vento leve trazia o frio que chocava-se com a minha pele coberta apenas por uma saia e uma blusa curta, o uniforme das líderes de torcida.

Eu já estava tensa com a conversa que o garoto mais cedo havia tido comigo, e agora o Parker também quer ter uma conversa comigo, aquilo me deixava inquieta e com medo. Medo do que poderia ser essa conversa.

O garoto olhava diversas vezes para o lado, talvez tentando achar palavras para começar. O vento sacudia os cabelos do garoto deixando mais bagunçados.

– Alison, parece meio patético eu te chamar para ter uma conversa. – O garoto abriu a boca disse e sorriu sem graça. Talvez fosse a primeira vez que eu via o garoto naquele estado.

– Se essa for alguma conversa sobre eu e você, na boa Parker, hoje não pode acontecer! – Disparei deixando o garoto me olhar confuso.

– Você não entende? Não é mais sobre eu e você Alison, é sobre nós dois! – Parker gesticulou a boca trazendo sinceridade em sua voz grave, porém rouca.

– Logan, isso me deixa confusa, a nossa conexão maluca me deixa confusa. – Me sentei em uma das poltronas ao seu lado.

– Eu sempre proucuro respostas para isso, para nós dois! Mas eu acabo encontrando mais perguntas. – minhas palavras saiam da boca como se estivesse me livrando daquilo.

– Desde que o acidente aconteceu a minha vida virou de cabeça para baixo, e cacete! Eu queria poder trazê-la, eu queria que tudo voltasse a ser como antes, mas eu percebi que isso não vai acontecer. Uma vez que algo acontece nunca pode ser desfeito. – O garoto alterou a voz em sinal de irritação.

O garoto me fez relembrar memórias que eu queria ter esquecido, eu queria apagar aquilo, queria fazer com que nunca tivesse existido, os sentimentos vieram a tona tudo junto novamente.

– Na noite do acidente... Eu nunca contei pra ninguém o que tinha acontecido para eu ter ido embora tão cedo da festa... Eu sempre dizia que eu não estava bem por isso tinha ido embora. – Assim que comecei a contar senti os sentimentos voltarem, minhas lágrimas desciam sem nenhum esforço.

– Mas na verdade, na noite do acidente, tinham me pedido para pegar mais bebidas alcoólicas no quarto, eu entrei no quarto e assim que encontrei a bebida, escutei um barulho estranho, eu me escondi de baixo da cama. – Eu chorava tanto como se eu estivesse revivendo tudo naquele dado momento.

– Eu não me lembro muito, mas eram barulhos estranho, no começo eu achei que tinha algum casal bêbado, mas depois eu percebi...

– Eu percebi que a garota não queria aquilo, ela deveria estar bêbada, ela falava que não queria aquilo, e o garoto insistia em fazer o ato, eu fiquei com tanto medo que eu não conseguia se mover.

– Eu sabia que tinha que fazê-lo parar! Eu sabia que aquilo não era certo e que eu tinha que ajudá-la, mas tudo que eu conseguia fazer era chorar. – Meu choro era tão preciso, eu precisava tirar aquilo de mim. Era tão ruim a dor que em sentiam naquele momento.

– Depois que o garoto terminou, ele saiu, eu fiquei uns meros segundos paralisada, mas eu precisava sair dali, quando eu saí eu não vi a garota, muito menos o garoto.

– Eu me senti inútil por não ter feito algo, e me sinto culpada por não ter feito nada! Eu deveria ter impedido que aquilo acontecesse! Eu deveria ter impedido que a vida daquela garota fosse destruída! – Gritei chorando disparadamente, a dor era tão forte daquela memória, era tão ruim.

Senti os braços de Logan acolher-me, fazendo-me sentir-se protegida.

– Não se culpe, você não podia fazer nada. – A voz de Logan saiu rouca, enquanto o mesmo me mantia em seus braços abraçando-me.

– Eu deveria ter feito algo! – Falei ainda em seus braços.

– O canalha que fez isso com a garota poderia ter feito o mesmo com você se você o tivesse impedido. – Logan me tirou do abraço limpando as lágrimas que desciam incontroláveis  do meu rosto.

– Acha que... ele poderia ter feito o mesmo comigo? – Perguntei abismada, o garoto assentiu com o olhar tristonho.

– Alison... Eu não sei nem o que te falar... Eu... daria tudo para tirar o que você sente quando se lembra disso. – O garoto disse atônito mexendo no cabelo hora em hora.

Enxuguei o meu rosto tentando esquecer aquilo. Era tão forte a dor que eu sentia ao lembrar daquilo, que quando aconteceu o acidente a dor da perda da minha mãe foi mais forte e eu acabei esquecendo aquilo.

Mas agora quando me lembro, eu sinto a dor rasgando tudo por dentro.

– No dia em que você fez aquela burrada de tentar suicídio, tudo que eu sentia era medo e culpa, eu queria ter te salvado, eu queria ter feito algo do que ter ficado naquela sala de espera preocupado com você. – O garoto disse me fazendo abaixar o olhar para o chão.

– Na verdade... você me salvou. – Falei deixando o garoto me olhar confuso.

– Aquela não tinha sido a primeira vez que eu tinha tentado acabar com tudo... no dia em que você apareceu bêbado em casa... você me salvou, mesmo não sabendo disso... – Dei um sorriso de lado, enquanto o garoto me olhava assustado e com desespero nos olhos.

– Alison... você... – O garoto não conseguia juntar nenhuma palavra, concordei com a cabeça deixando o garoto escapar uma lágrima dos olhos.

– Por que? – Logan perguntou tentando encontrar respostas.

– Parker, nada explica um motivo de acabar com a própria vida, mas eu já me sentia tão morta, tão seca por dentro, eu sentia que só havia tristeza dentro de mim, aquilo me matava, e os meus problemas mais ainda, a culpa me consumia. Eu sentia uma dor constante dentro de mim que não passava. – Segurei a mão do garoto a depositando em meu coração. O garoto deixou mais lágrimas escaparem de seus olhos.

– Mas agora eu sei que o suicídio não é a solução do problemas, nunca será, eu sei que preciso lutar contra essa dor que existe dentro de mim, e eu vou superar, mesmo com os problemas constantes em minha vida.

– E eu ainda não sei o que é essa nossa conexão maluca, mas acho que um dia descobriremos. – Falei sorrindo, deixando o garoto escapar um sorriso abafado e desviar o olhar dos meus.

– Cacete Alison! Por que você mexe tanto comigo? Por que insiste em ficar em minha mente? Por que você tem que ser diferente de todas as garotas? Por que sinto a necessidade de te proteger? Você não sabe o quanto isso me bagunça. – Os olhos do garoto mantiam-se grudados ao meus.

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