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Brighton, junho de 1822.

ELE NÃO A VIU imediatamente. Em vez disso, Christopher Uckermann passou cambaleando pelo alto cerco feito em cerca-viva, confiante de que finalmente havia encontrado a saída, mas se viu preso no meio do labirinto enluarado, um truque humilhante que o prendia durante a última meia hora. Nesse ritmo, ele jamais encontraria saída. Xingando alto, ele pegou seu chapéu de cerca espinhosa, esforçou-se para reorganizar seu cérebro encharcado de conhaque e focou o olhar embaçado.

E assim surgiu a rainha de gelo.

Em um banco de pedra ladeado por canteiros caprichosamente mantidos, estava uma mulher vestida de prata dos pés à cabeça. Ela era tão fantasmagórica e luminosa sob o luar radiante de verão que ele cambaeou, surpreso, mais uma vez fisgado pela cerca-viva, que o prendeu pelas casas dos botões, os punhos da camisa ou por qualquer outro lugar que tivesse um entalhe conveniente.

Enquanto ele lutava, pela segunda vez para se soltar dos ramos do arbusto, a mulher virou a cabeça calmamente para observar toda a confusão, e ele viu que ela estava usando uma máscara negra nos olhos. Ela sorriu de má vontade, inclinando levemente a cabeça, ao reconhecer sua presença. Podia-se pensar que se tratava da verdadeira Maria Antonieta, não apenas de uma mulher fantasiada como a desafortunada rainha francesa.

Christopher tinha deixado o baile de máscaras para tomar um ar fresco e escapar - particularmente das mulheres -, mas ele não comseguiu dar as costas sem dizer algo educado. Não agora, que ela já o vira. Além disso, havia algo naforma como estava sentada, muito calma e imóvel, que sugeria que não o prenderia em uma conversa. Na verdade, agora ela novamente lhe dava as costas, descartando Christopher como alguém desinteressante.

Ora, mas que bom. A maioria das pessoas esperava que ele fosse cheio de charme, vinte e quatro horas por dia, e isso era um fardo terrível. Como secamente observara Grieves, seu empregado: esse era o lado sombrio de ser um libertino infame - segundo a descrição do lacaio, não a sua. Nessa noite, porém, Christopher não estava no clima para papear nem flertar com ela. Quem quer que ela fosse.

Ele se endireitou, sacudiu sua roupa com o chapéu e olhou-a novamente.

Ela ainda não estava prestando nenhuma atenção.

Será que havia algo errado com ela? Talvez estivesse doente. As mulheres não costumavam ignorar Christopher Uckermann.

Com uma das mãos sobre a boca, ele limpou a garganta ruidosamente. Nada, ainda.

Perfeito, porque a última coisa que ele queria era entreter uma estranha e ajudá-la a se animar e deixar o baixo-astral, as lágrimas ou uma dor de cabeça. Ele já havia tolerado choro demais de mulheres aos prantos, revelando o grande amor que sentiam por outro homem enquanto se debulhavam em lágrimas, fazendo confissões, com o nariz escorrendo em seu ombro. Por algum motivo, ultimamente, Christopher deixara de ser o problema em si e se tornara aquele com quem elas compartilhavam seus problemas. Então, depois de serem tranquilizadas por ele, elas partiam com outro. Recentemente, quando Christopher reclamou com Grieves sobre se tornar uma mistura de pai, confessionário e consultor dessas jovens, o criado comentou: -- Senhor, isso é o que acontece com libertinos que vão envelhecendo. As mulheres passam a vê-los como inofensivos, como alguém que está do lado delas.

MADRUGADAS DE DESEJO - Adaptada | VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora