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Ele franziu o rosto. — Depois que nós voltarmos.


Houve uma pausa. — Você sabe que isso é impossível, Christopher. Principalmente agora. — Ela deu uma olhada por cima do ombro para ter certeza de que eles estavam sozinhos. Quanto menos pessoas soubessem sobre seu verdadeiro pai, melhor. Ela não queria que sua mãefalecida fosse conhecida como bígama, nem que suas meias-irmãs fossem expostas como ilegítimas. Ainda bem que Christopher guardou seu segredo, mas isso não ficaria muito tempo sem que ninguém soubesse, se Fernando os seguisse de volta a Londres, onde ele poderia causar mais problemas. Era evidente que o pai dela tinha marcado James como uma bolsa fácil para saquear.


— Nós tínhamos um acordo, madame. Agora vem me dar sermões sobre manter a minha promessa com Rafe? — Ele riu asperamente, com o hálito visível no ar frio noturno. — Não tive minhas cinco noites com você.


Depois do surgimento de seu pai e da noite à procura de lady Mercy na neve, ela estava exausta, frágil. Não tinha forças para uma discussão vigorosa com Christopher e parte dela estava tentada a ceder — fazer amor com ele novamente, apesar do fato de que eles não tinham futuro juntos.


Era confortável demais nos braços dele, fácil demais ficar e deixar que ele a protegesse. Contudo, ela nunca tinha contado com ninguém pra lutar suas batalhas e não começaria agora. Não podia passar todos os seus problemas para Christopher. Não seria justo, quando ele só queria um casamento simples, descomplicado e desapaixonado.


— Paguei por sua companhia, madame — acrescentou ele, sucinto.


— Você já recebeu aquele colar horrível de volta — ela conseguiu dizer com a voz soando fina, petulante e tola. — Não tenho mais nada seu.


Ele a olhava de cima, com os olhos da cor de um mar revolto. — Tem, sim. — Ela não sabia sua altura, mas ele certamente tinha mais que um e oitenta. Em comparação, ela se sentia delicada e miúda como acontecera poucas vezes em sua vida.


— Não tenho, não. — Do que ele a acusava de roubar, agora?


— Tem o probleminha de mil libras.


— Mil... está maluco?


— O dinheiro que paguei antes de deixar Londres àquele homem que se diz seu pai. Em troca do qual ele me deu você.


Dulce sentiu o sangue esvair de seu rosto, descendo pelo corpo todo até os dedos dos pés. Seu pai a vendera como a uma porca no mercado. Como a uma porca muito cara. Depois veio atrás dela para mais dinheiro.


— De certa forma, eu a comprei dele.


Ela resfolegou, furiosa com os dois homens — um a usara insensivelmente enquanto fingia ter interesses paternais, e o outro que achou que ela poderia ser comprada como um móvel, ou um chapéu novo.


A vergonha apertou seu coração até que ele quase não conseguia pulsar.


MADRUGADAS DE DESEJO - Adaptada | VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora