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— Quando eu pegar aquela mimada, vou esquentar seu traseiro —murmurou Carver Danforthe olhando fixamente o escuro, lá fora.

— Não deveria fazer isso, senhor.

Perplexo, Christopher olhou para baixo, para a menina ao seu lado. Ela nunca ousara dizer uma palavra além de seu tom de sussurro até agora.

— Não estou surpresa que ela tenha fugido. Pelo que ela me conta, o senhor é um homem cruel e horrendo. Ainda bem que não é meu irmão.

Danforthe fungou em desagrado. — Pelo que estou vendo, ela novamente andou dizendo a todos que bato nela com meu sapato, não foi?

Nada de resposta. Após o rompante destemido, Molly Robbins travou a língua.— Minha irmã conta mentiras monstruosas puramente por atenção —prosseguiu o conde. — Já estou bem acostumado a ser o vilão das histórias dela. Mas certamente não preciso me explicar a você. Nem a ninguém. Acredite no que quiser e pode pensar mal de mim se preferir, pequena indigente rural.

Christopher viu a menina se retrair, porém ela não mordeu a isca quando ele lhe disse isso. Na verdade, ela foi notavelmente recomposta sentando-se bem ereta, com as mãos no colo, os lábios apertados. No entanto, a reprovação estava estampada em seu rosto de uma forma quase cômica.

— Ela vai aparecer de novo como o tostão furado do provérbio. —Danforthe bocejou e se espreguiçou. — Ela sempre aparece.

— Um dia desses, ela pode não voltar —, disse Christopher.— Você deveria ficar de olho na sua irmã.

— Você não tem nenhuma irmã, não é Uckermann?

— Não. 

Danforthe se esparramou em seu assento abrindo as pernas compridas com uma expressão de deboche nos lábios. — Então acho que sei mais que você sobre esse assunto. Vou me reservar ao direito de lidar com ela da forma que escolher.

— E quando ela ficar mais velha será ainda mais problemática. —Christopher talvez não tivesse experiência com irmãs, mas conhecia mulheres difíceis.

— Até lá ela será problema de outro, não é?

Danforthe estava obviamente querendo se livrar da irmã da maneira mais rápida e legal possível. Ele não tinha tempo para ela. Seus dias e noites eram passados em busca de prazer. Christopher sabia que o jovem conde mantinha um grupo próximo de amigos semelhantes — jovens varões com nomes como Skip Skiffingham e Sinjun Rotherspur, o tipo de homem que ele próprio fora um dia, antes que o arrependimento o alcançasse e ele percebesse que a juventude negligente não podia durar para sempre.

— Uma vez que minha irmã esteja seguramente casada e fora do caminho, ela não voltará. Já vai tarde.

Christopher ouviu a menina Robbins inspirando de aversão. Danforthe também deve ter ouvido, pois seus olhos cinzentos se estreitaram, focando o outro lado da carruagem, fixados no rosto dela. Lenta e imponente, ela virou a cabeça para olhar o céu negro pela janela da carruagem. Impressionado, Christopher escondeu um sorriso por trás de sua mão enluvada e fingiu bocejar.

— As pessoas que não conhecem todas as circunstâncias e não as ouviram de lábios imparciais — acrescentou Danforthe — não deveriam ser tão rápidas em julgar os outros.

Outra inspirada — dessa vez uma bufada — saiu dos lábios de Molly, mas agora ela continuou olhando pela janela. Christopher olhava pelo outro lado, vendo a noite. Ele torcia para que encontrassem Mercy Danforthe inteira. Ela podia ser uma peste, mas ele não conseguia deixar de se sentir responsável por ela ter vindo para o campo. Ele não fizera nada para incentivá-la, porém ela não pareceu precisar de muito incentivo.

MADRUGADAS DE DESEJO - Adaptada | VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora