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— Ah, muito bem, senhor. Como é terça-feira, eu estarei fora, claro.

Christopher olhou maliciosamente para o empregado. Grieves sempre tirava folga nas noites de terça, e o que fazia era algo que eles nunca discutiam em detalhes. — Seu clube, não é?

O criado hesitou. — Sim, senhor. O Clube de Cavalheiros. Nós cuidamos uns dos outros.

Era só isso — nenhuma explicação além disso.

— Grieves, confesso que me vejo fascinado por seus passeios noturnos pela cidade às terças. O que acontece em seu clube?

— Senhor, eu já lhe disse, não tenho liberdade para discutir essa questão. Todos os membros juram segredo.

— Imagino que todos vocês se sentam ao redor de uma mesa e reclamam de seus patrões, não é? Planejando rebelião.

— Sim, senhor — respondeu Grieves, com a expressão imutável. — Adivinhou precisamente o nosso propósito. — Ele contornou a mesa com as mãos ao longo do corpo. — E agora, preciso lembrá-lo, senhor — por mais que seja doloroso para nós dois... aquele senhor Dillworthy chegará logo após o café.

Pronto, lá se foi a melhora de seu humor. — Mas que diabos ele quer?

— Ele deseja discutir a questão dos custos elevados de Morton Street...

— Mas que droga, Grieves! — Christopher olhava a torrada. — Há quantos anos você já está comigo?

O empregado suspirou. — Quase cinco, senhor. E não parece um dia além de dez.

Houve uma pausa. Patrão e empregado olharam a mesa do café da manhã; depois, um para o outro. Finalmente, olharam de novo para a mesa. Grieves acabou percebendo seu erro e começou a cortar as torradas no formato preferido de “soldados”, ideal para mergulhar na gema de ovo.

Christopher deu um pequeno gemido de aprovação. É preciso ter soldados torrados para o ovo, senão o dia já começa errado. Não havia muitas coisas fidedignas em sua vida, mas alguns hábitos dedicadamente mantidos evitavam que seu mundo girasse depressa demais. Ele se sentia muito solitário, se não fossem essas pequenas coisas tranquilizadoras. Seu criado sugeriu que era um sinal da chegada da velhice. Christopher se recusava a acreditar.

— Agora que já cuidamos dessa questão opressora, senhor, voltemos à inevitável e eminente chegada do senhor Dillworthy, a respeito do lar em Morton Street.

— Humm? — Ele estava ocupado mergulhando o soldado na gema do ovo, na expectativa da primeira mordida.

— Pelo que entendo, ele está aflito pelo aumento dos custos ligados à reforma e...

— O Dillworthy anda resmungando em sua orelha, é?

— Parece que ele não consegue fazer com que o senhor se sente pelo tempo suficiente para resmungar na sua, senhor.

— Não. — Christopher deu um sorriso malicioso. — Você precisa praticar um pouco mais a esquiva. — Ele sabia que o pobre Grieves era um alvo frequente de pessoas que não conseguiam capturá-lo e se contentavam com uma rota alternativa, na esperança de chegarem aos seus ouvidos.

— O senhor Dillworthy me disse que está preocupado com o número de instituições de caridade às quais o senhor doou somas consideráveis durante o último ano. Lady Uckermann reprova suas escolhas, senhor, e, como contador da família Uckermann há alguns anos, ele tem...

— Grieves, eu tenho trin... tenho mais que vinte e um anos, como você sabe.

O criado ergueu enfaticamente uma sobrancelha. — Bem mais, senhor.

— Consequentemente, por mais perturbador que seja para o senhor Dillworthy, escravo de minha avó, sou capaz de tomar minhas próprias decisões financeiras. Durante tempo demais, não prestei nenhuma atenção ao meu dinheiro e à forma como ele era gasto. Agora sei para onde vai cada centavo. E vai para onde eu decido.

— Para um lar de mães solteiras?

— Precisamente. Quero essas reformas em Morton Street concluídas assim que possível, e custo não é problema. Eu disse isso a Dillworthy várias vezes. Aí, minha avó o cerca, quando vem à cidade, e ele se torna um molenga.

— Lady Uckermann se opõe à ideia de jovens damas dando à luz fora do casamento e ela é da opinião de que caridades assim meramente incentivam o comportamento pecaminoso. Segundo ela, essas mulheres devem ser punidas e a castidade deve ser promovida.

— Minha avó já faz sua parte para promover a castidade, sem dúvida — respondeu ele, de esguelha. — Eu, por acaso, discordo dela. Agora tenho controle de todo o meu dinheiro e me atrevo a dizer isso, com mais frequência. E estou começando a gostar da sensação.
Grieves recolheu as folhas espalhadas do jornal, dobrando-as caprichosamente. — É uma grande pena, senhor — disse ele, baixinho —, que tanta gente não saiba do bem que o senhor faz.

Christopher deu de ombros. Ele não assumia esses compromissos para obter aprovação da sociedade.

— Acho que as pessoas só gostam de ouvir sobre suas falhas, para que se sintam melhor sobre a vida delas mesmas — disse o empregado. — O sucesso produz uma fofoca menos interessante.

— Sim, Grieves, as pessoas geralmente são horrendas, egoístas. Exceto você e eu, é claro.

Grieves retirava os farelos da toalha de mesa com uma pequena pá e uma escovinha de prata. — Posso perguntar, senhor, se conseguiu reaver os diamantes Uckermann na outra noite? O senhor deixou o clube de boxe com tanta pressa quando ouviu que lady Southwold os dera a...

— Não. Não consegui reavê-los. Mas vou conseguir. Aquele pilantra francês não vai se safar com isso.

— E lady Southwold, senhor?

Christopger se retraiu com o assunto, mas, pelo menos, Grieves tinha se distraído da conversa das contas. — Lady Southwold evidentemente não é a mulher misteriosa de Brighton. Os nós de seus dedos beiram a masculinidade e ela respira de modo ofegante.

— Minha nossa, senhor, que assustador. Respiração ofegante é um hábito terrível que não se pode tolerar nas mulheres de hoje.

Ele olhou acima, estreitando os olhos. — Hum.

— É de pensar, senhor, se sua lista de traços inaceitáveis se sobrepuser aos aceitáveis, se a mulher certa pode ser encontrada.

— Bobagem. Eu a conheci em Brighton. — Agora, se ele ao menos pudesse encontrá-la outra vez, seu mundo inteiro seria endireitado. — Ela é minha futura esposa e mãe de meus muitos filhos. Precisamos encontrar aquela mulher, Grieves. Simplesmente, precisamos. Ela é a certa para mim e nenhuma outra bastará.

MADRUGADAS DE DESEJO - Adaptada | VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora