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Mulher canalha! Como se atreve a fazer isso com ele? Que seja ela, seu castigo merecido, logo ela.

Com um esforço enorme, ele acalmou a voz, equilibrando-a. — Imagino que não acreditaria em mim se eu lhe dissesse que pretendo mudar meu jeito.

Os olhos dela cintilaram com mais alegria. Ela estava gostando dessa dança escandalosa, obviamente, embora jamais fosse admitir.

— Está se divertindo, Saviñon, com a ideia da minha mudança?

— Será que um libertino mudado deve segurar uma mulher desse jeito e dançar de forma tão obscenamente próxima?

— Com uma mulher, ele pode. A mulher por quem ele está disposto a abrir mão de todas as outras.

Ela desviou, olhando para os outros dançarinos. — Bem, imagino que agradar tantas moças deve se tornar cansativo em sua idade, Uckermann. Mas tenho fé em você — ela deu um tapinha no ombro dele — não vá decepcioná-las.

Parecia inútil. Ela nunca ouvia. Por isso, ele simplesmente teria de mostrar a ela. — Decidi concentrar todos os meus esforços em apenas uma, Saviñon. — Ela ergueu uma sobrancelha e abriu os lábios, mas antes que pudesse falar novamente ele acrescentou: — Você serve.

Ela fechou os lábios apertados, mas a paz durou pouco. Quando falou novamente, foi para lançar farpas e feri-lo. — Você me acha menos cansativa? É melhor continuar com seus acordos e eu continuo com o conde.

Outra onda de calor despontou dentro de Christopher Uckermann, dessa vez uma chama rebelde há muito reprimida. Agora havia sido libertada e disparava loucamente. De alguma forma, ela havia aberto uma fresta em suas barreiras cautelosamente erguidas com aqueles dedos que, segundo sua avó, precisavam de ocupações de uma dama para mantê-los trabalhando. Dedos que ela acabara de confessar lhe traziam problemas quando estavam à toa.

Ciente de que eles eram o foco de quase todos os olhares do salão, ele se inclinou à frente e sussurrou em seu ouvido: — Diga-me onde está o conde, ou vou atraí-lo para fora com quaisquer meios que estejam à minha disposição. — Ela recuou. Ele a segurou com mais força, como se ela quisesse escapar.

Contudo, suas luvas eram grandes demais e deixavam sua mão escorregadia, difícil de segurar.

— De uma vez por todas, acredite em minha palavra, Uckermann — ela exclamou, ofegante. — Você jamais encontrará o conde e não vai atraí-lo me usando, fingindo flertar comigo.

— Bem, se você não deu um sumiço no francês, garanto que ele não foi muito longe.

— O que o faz dizer isso? — Os olhos dela ficaram sombrios quando ele se inclinou para cima dela.

— Porque eu não a deixaria sem proteção, madame.

A luz dançava e girava sobre o formato delicado de seu rosto, refletindo nas pequenas pérolas em suas orelhas. Tomado pelo anseio de saboreá-la, ele abaixou os lábios até quase tocar a ponta do nariz dela. — E eu não ficaria por perto para ver outro homem fazer isso.

Diante de todos os outros convidados, ele decidiu beijar a inimiga, amante de outro homem, diretamente em seus lábios briguentos.

Assim como as palmadas, isso também já devia ter sido feito há muito tempo.

Ele já podia quase sentir o gosto de seus lábios.

Naquele momento, ele se esqueceu completamente de onde estava e da presença de outras pessoas. Entretanto, ela, aparentemente, não. Recuando a mão trêmula da dele, ela irrompeu em meio à multidão, deixando-o segurando sua luva vazia. Ligeiramente aturdido, ele percebeu que não deveria tê-la deixado saber suas intenções. Jamais se dá um alerta a uma mulher como aquela.

MADRUGADAS DE DESEJO - Adaptada | VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora