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Christopher ficou olhando em meio à neve. Agora caia mais forte, com flocos mais gordos. Ele estava quase cego por ela. Preferia estar.

Ele fez seus cavalos pararem no instante em que reconheceu as fitas lilases da touca de Dulce. O que ela estava fazendo em pé no cemitério , nesse tempo, falando com um homem? A neve que caía tinha abafado o som dos cavalos e ele parou a uma distância suficiente que ela não notaria. Enquanto ele a observava conversando intimamente com o conde, depois beijando o homem no rosto, ele sentiu seu humor feliz  rapidamente sumindo até virar pó.

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Ela correu para a casinha da tia de cabeça baixa contra a neve, o olhar lacrimoso voltado para baixo, enquanto o chão voava sob suas botas.

Seu pai estava vivo.

Parte dela queria comemorar o fato de que tinha um parente de sangue. Parecia apenas natural que ela sentisse alguma alegria. No entanto, que prazer ela poderia ter com esse desfecho dos acontecimentos? Ele só viera procurá-la quando achou que podia usá-lapara tirar vantagem. 

Deve tê-la seguido durante meses, visto o que ela fez como conde, depois decidiu que ele deveria ter a sua cota. 

Se Christopher soubesse ficaria horrorizado e se distanciaria dela assim que possível. Dulce não sabia como tivera sua atenção por tanto tempo, pois ele estava acostumado à companhia de damas finas, com modos elegantes — moças que não corriam atrás dele pelas estradas rurais se exibindo, lançando a discrição e o orgulho ao vento.

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A estrada nevada passava depressa sob as patas dos cavalos. Ele tinha viajado todo esse trajeto para surpreendê-la e ele é que foi surpreendido.

Sua intenção era voltar com ela para Morecroft para o jantar, mas agora ele sabia que precisava de tempo para controlar seu temperamento.Mandaria a carruagem buscá-la e esperaria por ela em seu próprio território. Desta vez, ela que viesse até ele.

Traidora! Sirigaita! Será que todas as palavras que saíram de seus lábios eram mentira?

E pensar que ele tinha começado a confiar nela, começado a imaginar...Ele viu o menino bem na hora. Os cavalos desviaram e a roda subiu na margem nevada.

— Ei! Moço, olhe por onde anda! 

Rafe Herrera tinha atravessado a estrada correndo, segurando um pato morto, meio escondido embaixo do casaco.

Christopher xingou. Suas mãos estavam tremendo. — Você que tem de olhar por onde anda, garoto! Eu quase o atropelei. — Ele puxou s rédeas dos cavalos freando a carruagem e manobrando de volta à estrada. —Mas que droga, garoto! Você poderia estar morto. — Essas palavras ecoaram em sua cabeça dolorida, estilhaçando ainda mais os seus nervos.

— Bem, eu não estou, não é? — O garoto respondeu alegremente,olhando para cima, por baixo da franja nevada. — Não precisa ficar todo nervoso. — Ele orgulhosamente exibiu a ave morta embaixo do casaco.

— Olha o que eu tenho, moço.

Christopher engoliu seco e sua fúria foi lentamente passando. O menino estava certo. Ele não estava morto, estava? Estava vivo, com o sangue correndo nas veias. Christopher que lhe dera essa vida.

— Você roubou esse pássaro, Rafe Herrera?

— Nãão! Claro que não. Me deram, tudo direitinho.

MADRUGADAS DE DESEJO - Adaptada | VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora