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Seu pai terminou a terceira xícara de chá e debruçou-se acima da mesa para espetar outra fatia de bacon com seu garfo. Hoje, novamente, seu primeiro pensamento foi a necessidade de sua barriga. Seguida por sua próxima rota potencial para a riqueza.


— Se eu fosse você, Dulce Maria, eu me concentraria nos Shale. Se não consegue pensar no velho, então fique com o filho e herdeiro. — Ele riu grosseiro. — Pelo menos você não terá de se incomodar com tarefas de esposa no quarto. Ele não dará tanto trabalho quanto esse safado doUckermann. Você lidará com o jovem Shale com muito mais facilidade, minha querida. Ainda tem chá no bule?


Ela viu a gordura escorrendo pelo queixo dele. — Não tenho a intenção de me casar com ninguém.


— Bobagem. Você vai se casar assim que a oportunidade certa aparecer. Vejo que o almirante nunca lidou apropriadamente com essa questão em todos esses anos. Ele deixou que você desperdiçasse muitas chances de um marido rico. Comigo ao seu lado, você pode ir longeneste mundo. Agora seu pai está aqui para endireitá-la.


Outro homem que pensava em endireitá-la, pensou. — Você mesmo tinha esperanças de casamento, senhor, com a senhorita Osborne, se não estou enganada.


— A garota com boca de cavalo? — Ele passava um pedaço de pão no prato. — É, seu pai é um cavalheiro próspero.


Sua tia entrou com uma carta endereçada "Ao Conde". Ela rapidamente colocou a carta ao lado de seu prato e se afastou. Dulce tinha explicado a verdadeira identidade de Fernando para tia Lizzie na noite anterior. A quantidade de escândalo que ele era capaz de causar à família Saviñon agora também era evidente para ela.


— Qual é o seu problema, mulher? — Ele resmungou. — Eu não mordo. — Pegando a carta, ele abriu com a faca suja de manteiga, depois passou ao outro lado da mesa, para Dulce. — Diga-me o que está escrito, minha querida.


Segundo tia Lizzie, tinha sido trazida pelo varredor de chaminé de Merryweather, que ficou incumbido de procurar em todas as casas até encontrar o sujeito sumido. a desdobrou lentamente e seu olhar logo recaiu no brasão que ela não pôde deixar de reconhecer. Seu coração disparou no peito.


Naquele dia estava batendo descontroladamente.


— E então, minha querida?

Senhor, sua presença está sendo solicitada na residência Uckermann hoje, às trêshoras da tarde. Esperamos poder resolver essa questão a contento de todos osenvolvidos.


Ele tossiu até um pedaço de pão voar de sua garganta e pousar na mesa. — Parece que eles estão querendo me pagar o que me devem.


Dulce ficou olhando as palavras no papel até que elas dançaram como borboletas. — Não tenho certeza se você deve ir — murmurou. — Era provável que eles não quisessem falar com seu pai pelos mesmos motivos que ele imaginava.


Contudo, ele era um otimista. — Não tenho medo daquele pessoal bacana de Morecroft. Na verdade — ele bateu com o dedo na toalha da mesa e deixou uma marca de gordura —, eu devia processar Uckermann por me bater desse jeito; eu, um velho indefeso, cuidando da minha própriavida...


— Trapaceando e roubando-lhe mil libras.


Os olhos de seu pai se estreitaram. — Eu lhe disse que isso é mentira, Dulce Maria. — Estendendo o braço, ele arrancou a carta da mão dela e ficou olhando, de cabeça para baixo. Um sorriso lentamente surgiu em seus lábios. — É minha palavra contra a dele. É. Vamos ver o queposso tirar daquela velha morcega, lady Uckermann, quando eu acusar seu abençoado neto de tentar me matar com as próprias mãos. Ele deu o primeiro soco. Tenho testemunhas. Certamente tenho direito a alguma coisa. Esses safados ricos acham que podem tratar mal um sujeito pobre e não pagar nenhuma indenização. Veremos.


— Como você fingiu ser alguém que não é, acho difícil que algum magistrado aceite sua palavra contra a do senhor Christopher Uckermann.


Fernando enfiou a carta no colete. — Falando em farsas, é melhor segurar a língua, querida, a menos que queira que eu conte a todos sobre suas aventurinhas de calçolas.


Não havia mais nada que ela pudesse fazer. Ele não seria persuadido a não ir à residência Uckermann pelo seu "direito". Dulce temia que isso acabasse mal, mas ele insistia que era "assunto de homens". Desse modo, ela era impotente para impedi-lo de pegar a carruagem postal naquela tarde.


Christopher girou as muletas impacientemente, encontrando muita dificuldade para andar de um lado para outro sem duas pernas boas.


Grieves observava com cautela. — Não vai sarar mais depressa, senhor, se colocar peso em cima em tão pouco tempo. O senhor ouviu o que o doutor Salt disse, não ouviu? Talvez a recomendação dele tenha escapado direto pela orelha oposta à qual entrou, com tão pouca matéria sólida para obstruir seu curso.


— Sim, sim. Mas não posso ficar aqui engaiolado nesta maldita casa, Grieves. — Ele quase tropeçou ao se virar com as muletas. — Eu tenho de poder conduzir a carruagem de novo. — Preso àquela casa, ele era forçado a suportar doses diárias de Belinda Southwold, que só piorava as coisas.


— E irá fazê-lo, senhor, assim que seu tornozelo estiver sarado.


Christopher tinha acabado de descobrir que sua carruagem estava sobre blocos. Segundo sua avó, estava com uma goteira no teto, as molas estavam inadequadas e a roda não tinha sido consertada bem o suficiente.


Agora aguardava um carroceiro de primeira que viria de Norwich — assim que o clima permitisse. Sua carruagem aberta estava igualmente fora de uso por uma série de pequenos problemas. Lady Uckermann insistia não poder permitir que o neto arriscasse a própria segurança e saúde, novamente aventurando-se fora de casa, até que estivesse totalmente curado e passasse pela rigorosa inspeção do doutor Salt. E a sua também.



MADRUGADAS DE DESEJO - Adaptada | VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora