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Ela sentiu o riso brotando no peito dele. — Imaginei que isso fizesse parte de seu prazer, madame. — Ele deu um tapinha em sua nádega, bem mais suave do que os que ela lhe dera, mais cedo. — O perigo a excita. — Ele parou, depois passou os lábios em sua cabeça, beijando seus cabelos. — Não é por isso que está aqui comigo? Com o homem que você não deveria ter?
Como ele conhecia bem as suas falhas.

Enquanto ela pegava no sono, Christopher saiu cuidadosamente do sofá e vestiu o sobretudo. Ele estava com sede, mas não queria perturbá-la. Ela estava deliciosa com os cílios tremulando sobre as bochechas coradas, os cachos escuros caídos por seus ombros, seus braços macios curvados e as longas pernas esparramadas sobre o sofá de tapeçaria, com total abandono. Ele tinha começado a perceber que ela não fazia ideia de quanto era linda. Ele se lembrou da primeira vez que a viu totalmente crescida, quando tinha dezesseis anos, saindo de seu primeiro baile — que choque tinha sido para seus nervos e que imbecil foi a sua reação.

Subitamente, ele não conseguiu resistir a acordá-la. Deu-lhe um beijo no nariz e ela o franziu. — Eu já volto — sussurrou ele.

— Preciso voltar para a cama.

— Ainda não. Fique. Não ouse se mexer.

— Smallwick, você está dando ordens à sua amante?

— Estou. Se me desafiar, ela será punida.

Dulce sorriu sonolenta e ele aceitou como um sinal de concordância. Christopher prendeu o cobertor ao redor dela, acendeu uma vela na lareira e foi sorrateiramente até a cozinha, no fim do corredor, onde uma busca breve revelou um barril de cerveja na despensa. Ele ficou distraído por um tempo, ocupado demais pensando nas coisas indecentes que ele deixara acontecer naquela sala aconchegante. Pegava canecas e as pousava de novo, seu olhar vagava estupidamente pelas prateleiras com vidros de picles e seus rótulos, como se tivessem a chave do coração de certa mulher danada e fascinante. Era melhor voltar para ela. Não era sábio deixá-la sem supervisão por muito tempo, porque ela podia escapar.

Contudo, assim que serviu duas canecas de cerveja e caminhou de volta à cozinha, ele ouviu um som raspado. Ratos? Ele pousou as duas canecas cheias na mesa da cozinha ao lado de sua vela e pegou uma frigideira de um gancho da parede. O ruído raspado parou e virou um chocalho. Vinha da porta dos fundos. Franzindo o rosto, Christopher pousou a frigideira, pegou sua vela e foi rapidamente até a porta. O trinco de ferro estava sacudindo. Alguém do outro lado estava tentando soltá-lo. Ele destravou o trinco e abriu a porta.

— Sim? — Perguntou ele, com a vela erguida.

Uma silhueta baixinha estava na entrada com um latão de leite aos seus pés, chapéu na mão. — Ah! Eu esperava a senhora Cawley.

Christopher reconheceu o mesmo sujeito robusto que tinha visto saindo pela porta dos fundos logo que eles chegaram. — No meio da noite, senhor?

— Na verdade, é começo da manhã. — O homem sorriu cordial.

Ah, como o tempo voa quando você está se divertindo.

— Meu nome é Osborne. Vim entregar o leite da senhora Cawley.

Puxando pela memória, Christopher relembrou a conversa de antes durante o chá. Osborne devia ser o fazendeiro local que Eliza Cawley tinha mencionado — um viúvo com uma filha difícil que tinha sido mandada para Bath na esperança de que ela se casasse. — O senhor entrega o leite da senhora Cawley pessoalmente?

O sorriso do cavalheiro aumentou, e seus dedos gorduchos remexiam o chapéu. — Ela é uma cliente muito estimada e valiosa.

— Entendo. Então é melhor trazer para dentro. — Ele deu um passo ao lado, gesticulando com a vela, e o fazendeiro carregou o latão para dentro da cozinha e cuidadosamente o colocou no chão de pedra.

— Parece-me familiar, mas não estou lembrando...

— Smallwick é meu nome. Sou criado emprestado da senhorita Saviñon.

— Ah, sim. Ouvi dizer que a senhorita Saviñon tinha vindo visitar a tia. Inesperadamente. Smallwick, você disse? É mesmo? — O idoso franziu o rosto. — Achei que já o vira antes, mas eu... — Os olhinhos pequeninos rapidamente varreram a mesa da cozinha e pararam nas duas canecas de cerveja.

— Eu direi à senhora Cawley que o senhor entregou o leite. — Christopher achou ter ouvido a porta da sala sendo aberta. Agora, ele temia que Dulce pudesse aparecer para ver o que ele estava fazendo. O fazendeiro Osborne poderia ser, a qualquer momento, testemunha do encontro noturno secreto.

— Ah. — O homenzinho olhou novamente os dois canecos de cerveja, depois para as pernas nuas de Christopher por baixo do casaco. — Muito bom, Smallwick. Mande minhas lembranças à senhora Cawley.

Christopher deu uma olhada ao corredor. — Farei isso, senhor. Boa noite.

— Bom dia!

— Sim, isso também.

— Você deve ser um sujeito sedento, Smallwick.

— O quê?

— Duas canecas de cerveja?

Os dois homens se encararam sob a luz tremulante da vela. — Sim — respondeu Christopher. — Gosto da minha cerveja à noite tanto quanto a senhora Cawley gosta de seu leite.
Pausa.

— Disse que está emprestado à senhorita Saviñon, Smallwick. Pretendem ficar muito tempo no campo?

— Isso depende da senhorita Saviñon, senhor. Mas não quero atrapalhar suas... entregas, fazendeiro Osborne. Geralmente tenho o sono pesado. Contanto que eu tenha minha cerveja.
Finalmente ele colocou o homem para fora e fechou a porta. Hum. Interessante. Ele olhou o latão e riu baixinho, quase apagando sua vela. Eliza Cawley devia tomar uma quantidade enorme de leite para ser uma cliente tão valorizada a ponto de o fazendeiro entregar seu pedido pessoalmente. E até o que Christopher entendia, independentemente do que o fazendeiro Osborne dissesse, era, sim, o meio da noite. Gente acordada a essa hora da noite geralmente não estava fazendo boa coisa. Incluindo ele próprio.

Sorrindo, ele carregou o latão para dentro da despensa fria.




Notas: Volto amanhã nenis, provavelmente no mesmo horário, meus dias são bem confusos rs. Beijão e, essa tia Lizzie em rsrs

MADRUGADAS DE DESEJO - Adaptada | VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora