Capítulo 28

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Segundo ele, era culpa dela ter tido apenas filhas mulheres quando elequeria vários filhos fortes, marinheiros, para seguir seu caminho. Esseprovavelmente foi o pecado mais imperdoável de Blanca Saviñon. Isso eter morrido, há dezenove anos, deixando-o sozinho com três menininhasintrigantes. Mas ele mantinha o retrato da mulher em um porta-retratosoval em seu escritório, portanto devia amá-la um pouquinho.


Homens, francamente! Nunca conseguem admitir a verdade sobre simesmos, pois preferem manter uma fachada tola fingindo que ligam,quando não ligam, ou que não ligam, quando ligam. Ela, claro, jamaisfaria algo assim.


Seus pensamentos seguiram de volta a Uckermann. Será que ele já terialevantado? Provavelmente não. Talvez nem estivesse em sua própriacama. Quem podia saber o que o vilão tinha arranjado depois que eladeixou a festa com as irmãs. 


Subitamente, uma carruagem bem bacana, conduzida por quatrocavalos negros, passou depressa por sua janela, pedras voaram na lateraldo veículo cambaleante fazendo com que quase virasse no fosso. Ospassageiros gritaram alarmados, sacudindo de um lado para outro durantedez segundos de tirar o fôlego, segurando seus chapéus e uns aos outros,descartando boas maneiras naquele momento de quase morte.De alguma forma, o condutor da carruagem recuperou o controle.Eles sacudiram, trombando nas raízes da margem, mas voltaram àestrada, todos gemendo, mas quase intactos.


Dulce ajustou seu assento dolorido da melhor forma que pôde noespaço estreito para onde fora designada, ao lado das coxas esparramadasde uma pessoa bem grande, e novamente ficou olhando para fora, pelajanelinha embaçada.


Se ela conseguisse chegar a Sydney Dovedale inteira, a primeira coisaque queria era uma boa xícara de chá e aquecer seus pés perto dalareira. Sim, concentre-se nisso, ela pensou, fechando os olhos de maneirabem apertada para imaginar a cena agradável, bloqueando o odor decorpo e a sensação de umidade do estofamento gasto, que fedia a álcool.Ela se concentrou para não se incomodar com os solavancos queconstantemente balançavam a carruagem e fechou os ouvidos para osraspões zangados dos galhos contra o verniz e as rodas. Tentou não notarcomo a estrada se estreitava até virar uma armadilha mortal, com umaporção de galhos que podiam até ser dedos de bruxas, prontos paraarrastar todos eles para um fim horrível em uma valeta inundada.


Christopher escancarou a porta, arrancou a capa e marchou até a lareira.O ruído da taberna reverberava pelo piso e nas solas de suas botas. —Algum sinal, Grieves? — Ele berrou para o mordomo, que estava pertoda janela, observando o pátio interno da hospedagem.


— Ainda não, senhor. A carruagem postal está atrasada. Perguntou láembaixo?


— Sim. — Ele pegou uma caneca de cerveja e se sentou, esperandoperto de uma bandeja de faisão assado com batatas. — Não há ninguémaqui de nome Saviñon.


— Temos certeza de que ela vem nesta direção, senhor?


— É claro. A única tia que ela tem mora em Sydney Dovedale.Eliza Cawley é irmã de seu padrasto. — Ele deu um gole em suacerveja e ficou olhando o fogo. — Claro que ela pode estar viajandoincógnita.


Grieves virou, surpreso. — Por que ela faria isso, senhor?


MADRUGADAS DE DESEJO - Adaptada | VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora