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NAQUELA NOITE, CHRISTOPHER ENTROU em sua carruagem apressado e de mau-humor. A última coisa que esperava ou queria era ver uma pequena silhueta em seu assento, com os pés balançando e os olhos projetados para fora do capuz da capa contornada de pelúcia. Atrás dele, o cocheiro aguardava com uma lamparina acesa em uma das mãos. Quando Christopher chegou para o lado, a luz tremulante da chama passou por um rosto pálido que o encarava, destemido. Poderia se dizer até belicoso.

— Estou fugindo — anunciou a criatura — para Gretna’s Greens.

Christopher se sentou pesadamente e estendeu o braço, afastando o capuz para revelar uma cabeleira ruiva reluzente. — É Green — ele corrigiu. — Gretna Green. Não Gretna’s Greens.

— Ah. Tem certeza?

— Absoluta.

Ela o encarou como se ele talvez estivesse mentindo para ela deliberadamente.

— E você, lady Mercy Danforthe, vai diretamente para a casa de seu irmão.

— Poderíamos nos casar lá, em Gretna’s Greens.

— Se você não tivesse idade para ser minha filha — murmurou ele, contorcendo-se. — E mais irritante que um formigueiro, em um piquenique. Agora, por gentileza, saia de minha carruagem, mocinha.

— Mas está escuro lá fora. Como vou chegar em casa?

— Do mesmo jeito que veio.

Ela girou os pés nas botas, batendo os bicos no painel lateral da carruagem. — Já mandei minha empregada para casa. Eu disse que ela não precisava ficar.

Se ele não estava enganado, ela estava com farelos de bolo nos cabelos e um borrão de geleia na bochecha. Pelo menos, ela tivera o bom senso de trazer um lanche para a malfadada aventura. Abrindo novamente a porta, ele chamou Grieves, que estava a caminho de volta para casa. O criado deu meia-volta e retornou à carruagem. — Providencie para que lady Mercy seja imediatamente levada em segurança de volta para o conde de Everscham. E diga a ele que ficaríamos gratos se ele se mantivesse mais atento à irmãzinha, no futuro. Se não adiantar, algemas.

— Senhor Christopher Uckermann, o senhor está sendo um tanto insensato — exclamou a criança obstinada.

— Sim, eu sei. Sou bom nisso.

Ela arregalou os olhos e conteve uma lágrima que brilhava sob a luz da tocha do empregado. — E terrivelmente cruel.

— Está vendo? Não posso imaginar por que você iria querer desperdiçar seu tempo com um homem como eu. Pode ir. — Ele a pegou por baixo dos braços e girou cuidadosamente em direção aos degraus da carruagem. Quando suas botas tocaram o chão de paralelepípedos, Grieves solenemente a segurou pelo cangote, com o braço esticado, e levou em direção à casa.

Christopher deu um tapinha no teto da carruagem, que deu um solavanco e arrancou. Ele se recostou, melancolicamente pensando em seu infortúnio de ter atraído essa diabinha de cabeleira acobreada. Não era para menos que seu irmão, o conde, a chamava de Tostão Furado. Talvez ele a mandasse para a rua, na esperança de que ela não voltasse. Por herdar esse título tão jovem, tendo apenas vinte anos, Carver Danforthe estava bem mais interessado na própria diversão do que em ficar vigiando a irmã problemática.
Christopher estava certo de que se ela fosse sua irmã caçula não estaria perambulando pelas ruas de Londres, à noite, e escrevendo cartas de amor com vários corações como pingos dos is. Nem se jogaria em cima de farristas como Christopher Uckermann. De fato, pensou ele, uma vez que ele tivesse filhas, elas não teriam permissão para sair de casa até que tivessem vinte anos; depois, somente em sua companhia. Ninguém sabia dos perigos à espreita tão bem quanto ele, é claro.

MADRUGADAS DE DESEJO - Adaptada | VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora