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Por pelo menos dezessete anos, ele tinha sido apaixonado por Anahí. Ele brincava com outras, entregava-se aos prazeres da juventude, mas seu coração sempre foi reservado para ela. Aquela que acabou por deixá-lo por outro homem, exatamente o que Dulce poderia ter lhe contado que aconteceria se ele algum dia tivesse pedido sua opinião. Quanto a Dulcee, ele nunca a olhou direito, jamais a considerou algo além de aborrecimento.

Agora ele a pedira em casamento. Era incrível! Sem dúvida, ele achava tudo muito divertido. Como era, de fato. Sua barriga doía de tanto rir.

Ainda assim... um dia, esse tolo teria de se casar. Era inevitável. Ele precisava de um herdeiro. Então, uma vez que tivesse uma esposa, eles nunca mais poderiam discutir novamente. Dulce nunca mais poderia chamá-lo de bobo alegre, e ele não poderia lembrá-la de que ela era a mulher mais impertinente e briguenta do mundo.

Ela percebeu que nada seria igual sem Uckermann resmungando atrás dela. E sem seus insultos para evitar que ele fosse um cabeçudo, seu futuro parecia destinado a cartolas cada vez maiores. Ele se casaria com uma criatura tola, admirada demais com ele, para colocá-lo em seu lugar. Exatamente como Pablo Lyle fez.

Ah, sim, Pablo...

— Diante de nossa prévia associação, sinto-me na incumbência de lembrá-la, Dulce Maria, que Christopher Uckermann é um grande malandro.

Ela abaixou o leque. — Diante de nossa prévia associação?

Ele nem ficou vermelho de vergonha; apenas o sacolejo da nova papada, um leve tremular das narinas e ele se levantou, com as mãos atrás das costas. Ela receava que um de seus botões brilhosos logo cedesse e saísse voando, cegando um de seus olhos. — Ainda sinto alguma responsabilidade em relação a você e detesto vê-la cometer um engano tão terrível.

Outro engano terrível, ela pensou. Algo relacionado com deixar que um homem fizesse amor com ela antes que ele mudasse de ideia e preferisse se casar com outra mulher, uma herdeira de dezesseis anos sem nenhum discernimento?

— Não tema, capitão. Qualquer erro será somente meu. Sempre é. Não sou do tipo que culpa nenhuma outra pessoa, independentemente do que acontecer.

Ele ficou olhando para ela, projetando o lábio inferior. — Por que dançar com Uckermann? Você sabe como ele trata as mulheres. Ele nunca tem algo agradável para dizer sobre você. O homem é um salafrário declarado!

Olha quem fala.

— Eu a conheço há muitos anos, Dulce Maria. E só porque me casei com outra não significa que ficarei olhando, enquanto você é usada. — Tempos atrás, ele tinha os olhos claros e acinzentados; agora estavam opacos, a parte branca pontilhada de vermelho. Quando jovem, ele era vivaz, sempre ativo, cheio de bom humor e perspicácia. Agora ele se movia meio se arrastando, seu pescoço estava rijo, a respiração era pesada. — Fico surpreso com suas irmãs, que permitem que você dance com um malandro como Uckermann. Elas certamente estão ansiosas para salvar sua reputação antes que seja irremediavelmente perdida.

— Ops, tarde demais.

— Não seja impertinente, Dulce Maria.

Ao olhar acima, para o rosto inchado do capitão Lyle enquanto ele resmungava sobre mulheres que se desviavam do caminho e medidas severas para trazê-las de volta, ela se sentiu tomada de raiva. Esse era o hipócrita que tirou sua virgindade, uma tarde, no roseiral de seu padrasto. Na época, ele teve a audácia de achar que era sua de direito, já que eles estavam noivos. Depois de algumas semanas, porém, ele desviou sua atenção a outra mulher.

Ela sentiu um forte ímpeto de chutar-lhe o saco e cravar os dentes em seus joelhos.

Mas teve uma ideia melhor. Ela sorriu, na expectativa. — Mas vou me casar com Christopher Uckermann. Você não sabia?

MADRUGADAS DE DESEJO - Adaptada | VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora