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Ele deveria saber que encontraria logo ela, ali, no miolo da coisa.

Dulce Maria Saviñon, promíscua, imprudente e ameaça notória, que teve a audácia de sentar-se naquela cama e questioná-lo. De alguma forma, ele conteve boa parte de sua raiva, embora não conseguisse segurar tudo de uma só vez.

- O conde - disse ele, exigente, caminhando a passos largos até a cama, fazendo ranger as tábuas corridas do piso sob o peso indignado de seus pés. Ele quase bateu a cabeça nas vigas baixas, mas se curvou bem na hora. - Onde está ele, Saviñon? Sei que ele está aqui, em algum lugar. Eu o segui até esta hospedaria.

Ela afastou o que parecia ser um torpor sonolento e apontou para a janela. - Você o perdeu por pouco. Ele se foi.

Ele ergueu a lamparina e o arco de luz passou por cima de um par de botas ao lado da cama. - Descalço?

- Ele o ouviu chegando e saiu apressado.

Ele olhou a garrafa de conhaque e o copo vazio, depois rapidamente olhou os lençóis amassados, antes de voltar à mulher vestida com a camisa excessivamente rendada do conde. - Mas que diabos você está fazendo aqui, com ele? - Pergunta imbecil. Estava bem claro o que ela estava fazendo ali com o vilão.

- Como se atreve a arrombar meu quarto, Uckermann? Saia!

Em vez disso, ele baixou a lamparina, prendeu o chicote nos dentes e agachou para olhar embaixo da cama antes de olhar sob a coberta, com as mãos enluvadas, segurando as pernas desnudas dela. Ela se arrastou para cima do colchão, afastando-se de seu toque.

- Você não vai achá-lo aí, não é? Pelo amor de Deus!

Subitamente, ele sentiu uma dor aguda, seguida de algo se quebrando em suas costas, acompanhado por um ruído de cacos. Estilhaços de louça voaram sobre a cama. Ao recuar, ele viu o jarro quebrado ainda na mão dela, seus olhos reluzindo vitoriosos. Quando abriu a boca para xingar, o chicote caiu na cama e ele deslizou para trás, sacudindo cacos de cerâmica do casaco e dos cabelos.

- Vou levar aquele trapaceiro à justiça, Dulce. - Seu temperamento inflamado emanava fora de alcance, assim como o dela. - Estou lhe avisando.

Ela fungou: - O que ele fez para deixá-lo tão em polvorosa?

- Roubou algo de muito valor para mim.

- Seu espelho?

James olhou fulminante para a megera na cama revirada.

- Muito engraçadinha. Vejo que nenhum homem civilizado a dominou, Dulce.

- Ah, eles não se atreveriam a tentar.

O ar escapou-lhe, em uma risada fria.

- Eu lhe aconselharia que ficasse longe do caminho do conde se achasse que você ouviria algo de bom senso.

Uma expressão levemente divertida surgiu por baixo dos longos cílios escuros. Entretanto, seus lábios orgulhosos estavam projetados no bico habitual, prontos para discutir.

- Como se você tivesse algum direito de me dar sermão, Uckermann! Seu próprio histórico de erros com o sexo oposto daria mais volumes que a Enciclopédia Britânica. Cuide da própria vida antes de se intrometer na minha.

Ambos saltaram para o lado oposto da cama para pegar o chicote caído, mas ele chegou primeiro. Ela deu um pulo ficando em pé no colchão, segurando a coberta junto ao corpo seminu, e novamente ordenou que ele saísse de seu quarto.

Ele se manteve firme, segurando o chicote sobre as coxas. - Para onde ele foi, Saviñon?

Ela ergueu o queixo, jogou os cabelos negros e despenteados por cima do ombro e exclamou, com um floreio que deixaria a atriz britânica Sarah Siddons no chinelo: - Você jamais o encontrará, Uckermann. Pode me torturar quanto quiser, eu jamais o trairei.

Ele teve a impressão de que agora a safada estava se divertindo. Ora, em breve ele cortaria aquela expressão presunçosa pela raiz.

- Talvez lhe interesse saber, Saviñon, que o amante que você protege com tanta pompa foi visto esta noite flertando abertamente com lady Belinda Southwold. Não é tão leal a você, hein?

Para surpresa dele, ela deu uma gargalhada: - Invadindo sua propriedade, Uckermann? Ela não foi sua aventureira mais recente? Ao menos uma delas?

Ele ignorou o comentário: - Vim aqui para recuperar os diamantes que ele roubou daquela dama. Eles me pertencem.

- A você?

Rá! Por essa, ela não esperava. A menos que ele estivesse muito enganado, boa parte do rubor sumiu das bochechas dela.

- São diamantes Uckermann - explicou ele. - Antiguidades inestimáveis que o vilão francês roubou de lady Southwold.

- Ele os roubou? Foi isso que ela lhe disse? Imagino que ela não tenha mencionado o que mais ela ofereceu a ele. Parece que sua dama também não é muito fiel.

Ele deu uma sacudida no chicote, deixando o olhar percorrê-la, vendo sua aparência desalinhada. A gola em babados rendados da camisa do conde emoldurava seu pescoço comprido e esguio, chamando a atenção ao colo, que não merecia sua atenção. Embora uma parte desobediente e sombria de seu ser prestasse atenção a ambos.

Ainda bem que ela estava segurando a coberta ao redor da cintura, pois evidentemente não vestia nada além da camisa. Nem um fiapo. Estava nua como no dia em que nasceu, por baixo daquele pedaço de renda e seda.
Christopher pigarreou. Voltando ao que interessa: - Vista-se, Saviñon. Vou levá-la comigo. Alguém precisa salvá-la de sua estupidez.

- Não se iluda, Uckermann. Não preciso ser salva.

- Então, faça como quiser, sua assanhada, sem vergonha.

- Obrigada. Farei. Seu pateta hipócrita e pomposo.
Já dando as costas, ele recuperou o fôlego e olhou de volta para ela.

- Você é provavelmente a criatura mais irritante e truculenta que já conheci. Em quinze anos que nos conhecemos, você não mudou nada.

- Dezessete - ela corrigiu. - E sua existência é igualmente penosa para meus nervos.

- Você é mal-educada, atrevida...

- E você é tolo, de péssimo temperamento...

- Mentirosa, maquinadora...

- Patife arrogante.

A camisa de renda escorregou em um dos ombros, desnudando a pele.

- Vista sua roupa - ele murmurou, os dedos enluvados apertando o chicote. - Você vem comigo.

- Eu certamente não vou.

- Vai, sim. Antes que eu lhe dê umas chicotadas no traseiro. - Ele contornou a cama e olhou-a cautelosamente, intrigado ao ver a supostamente destemida Dulce Saviñon recuar junto à parede, segurando a coberta como um escudo ao redor de seu corpo.

- Se encostar em mim - ela alertou -, eu grito.

Ele tentou relaxar o maxilar e poupar o desgaste de seus dentes. Ela estava totalmente ereta na cama, como uma mulher que defende seu território - como ele tinha certeza de que ela faria, um dia. Ele só estava surpreso por ainda não ter acontecido.

- Você não deveria estar perseguindo o conde para pegar seus diamantes de volta? A essa altura, ele deve estar a milhas de distância, e aqui está você, discutindo comigo, Uckermann.

Christopher bateu levemente com o chicote na palma da mão esquerda. Por que ele ainda estava ali? Será que aquela manga rendada tinha escorregado mais um centímetro pelo ombro dela? Meu bom Deus, agora dava para ver todo o topo arredondado de seu seio, acima dos babados. E o mamilo mais escuro, através da seda fina. Sua garganta ficou seca; a respiração ofegante parou ali, enquanto ele sentia um pulsar veloz em sua masculinidade.

Não olhe. Para isso, não.

Ela era uma sirigaita atrevida que não fazia nada além de diabruras, sempre que podia, e estava constantemente debochando dele e o fazendo passar por tolo. Por mais tentador que fosse pensar em controlá-la, havia muito ele decidira que outro homem poderia ficar com essa luta. Outro que fizesse bom proveito.

Olhe para qualquer outra coisa. Qualquer coisa...
Subitamente, ele a viu olhar de relance para o edredom cor de cobre. Ele não o notara.
Curioso, caminhou em direção a ele.

MADRUGADAS DE DESEJO - Adaptada | VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora