77

48 6 0
                                    

— Você parece se esquecer, Christopher — disse ela em sua última visita ao quarto dele — que você é a única esperança para o futuro da geração Uckermann. Não posso permitir que outros incidentes recaiam sobre você. Se você tivesse irmãos ou primos, ouso dizer que não meimportaria tanto se você preferisse sair desvairado em um veículo que desafia a morte cada vez que sai na estrada.

Um ligeiro exagero, mas ele sabia qual era sua finalidade, claro. Sua avó achava que ao separá-lo de Dulce, pelo maior tempo possível, ela poderia romper a ligação. No passado, isso talvez funcionasse. Sua atenção tinha a tendência de vaguear e era facilmente capturada por umbelo rosto; mas esse era o velho Christopher.


Nessa tarde, enquanto ele ensaiava com as muletas, ela entrou apressada em seu quarto sem bater, ofegante de ter subido a escada correndo, provavelmente pela primeira vez em sua vida.


— O pai dela, Christopher! O homem que andou se fazendo passar por um nobre francês exilado não é nada além de um enganador e pai de Dulce Maria Saviñon.


Ele virou para encará-la. — Sim. Sei desse fato. — Se não estivesse sentindo tanta dor por conta de seus inúmeros ferimentos, ele talvez se deleitasse muito mais com a expressão do rosto dela.

— Você o chamou aqui? Com que motivo deste mundo? — Ela despencou em uma poltrona próxima, os dedos encolhidos segurando o lenço de renda. — Você não pode ter a intenção de prosseguir esse jogo com a garota Saviñon. Não, sabendo que o pai dela é...


— Achei que a senhora quisesse ter um conde na família, vovó — disse ele, secamente.

— Mas ele não é...


— Que bases a senhora tem para duvidar de sua veracidade?

— Pelo amor de Deus, Christopher, basta falar com o sujeito.

— E é o que pretendo fazer. Como não posso descer a escada, ele terá de subir até aqui, não?


O terror ficou estampado no rosto dela, porém, por trás de seus olhos frios, surgiu uma pontada de angústia, como se ela soubesse que ele finalmente a vencera, finalmente crescera e estava se livrando de suas garras.


— Vovó — disse ele lentamente —, a senhora aceitara a minha decisão nessa questão.


Ela olhou-o, inexpressiva. — Que questão?


— Essa coisinha, a minha felicidade futura.


— Não há necessidade de...


— A senhora não dirá a ninguém sobre a verdadeira identidade desse homem. Ou venderei esta casa com tudo o que tem dentro. — Claro que ele podia fazer isso. Era tudo seu, cada peça de móvel, cada prato.


— E me mudo para outro país.


— Christopher, você não faria...


— Agora só restamos nós dois. Nós, os Uckermann, somos uma raça em extinção. Se quiser que eu a trate com respeito fará o mesmo comigo, honrando meus desejos.

MADRUGADAS DE DESEJO - Adaptada | VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora