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NAQUELA TARDE, DULCE ESTAVA ansiosa demais para ficar sentada com a tia, por isso subiu cedo para se vestir. Ela flertava com a ideia de ficar doente para fugir do jantar na residência Uckermann, mas depois decidiu ser corajosa. Alguém precisava levar lady Mercy de volta ao irmão e ela tinha de enfrentar Christopher corajosamente, sem acanhamento, devolver-lhe os diamantes e dizer que tudo tinha terminado.

Não era o tipo de coisa que se pudesse dizer em uma carta. Pelo menos, ela não. Mesmo nos melhores momentos, sua escrita era cheia de borrões e palavras escritas erradas. Ela não podia correr o risco de nenhum mal-entendido. A ligação tinha de ser rompida agora. Tinha sido um jogo divertido enquanto durou. Sim, foi isso. Com riso alegre, ela lhe diria quanto tinha sido divertido.

Não adiantava hesitar, disse ela, repreendendo seriamente o seu reflexo no espelho. Christopher não ia querê-la com Fernando a tiracolo. Enquanto a história por trás de seu nascimento continuasse um mistério intrigante, ela poderia se safar. Ninguém realmente sabia onde era seu lugar, então ela se deslocava livremente entre as classes. Quem teria objeção? Ela fizera sua história de acordo com o lugar onde desejasse estar, o que sua imaginação pudesse criar. Agora, porém, que Fernando Espinoza surgira em sua vida não podia mais haver fantasia.

Molly Robbins tinha feito um trabalho excelente com o melhor vestido forrado de Dulce, costurando a bainha caída e remendando um rasgo no ombro. Apesar disso, Dulce receava não estar nem perto de nobre o bastante para a residência Uckermann. Seu estilo de vida transitório e a falta de recursos dificultavam que ela se mantivesse no auge da moda.

Suas melhores roupas eram peças que o duque havia comprado há mais de dois anos. Ainda bem que nesta noite ela não estava indo em buscada aprovação de lady Uckermann, ela pensou, com tristeza.

— Está adorável, senhorita Saviñon — exclamou Molly em pé,  atrás dela, já alta o suficiente aos treze anos para olhar por cima do ombro de Dulce.

— Obrigada, Molly. — Contudo, ela estava pronta cedo. E agora? Ela ficaria andando de um lado para o outro, cada vez mais nervosa, suando, indelicadamente. O tempo todo convencendo a si mesma de que não tinha vergonha do próprio pai, não se lamentava por ele ter vindo encontrá-la.

Ah! Os diamantes Uckermann. Ela não podia se esquecer deles. Ela não queria mais nada que a prendesse a Christopher, pelo bem dele. Ela se apressou até o baú, ao pé da cama, abriu a tampa quebrada e se ajoelhou para remexer dentro. Bem, onde mesmo ela tinha posto aqueles diamantes, que começaram tudo isso? Eles que tinham começado e agora marcariam o fim de tudo. Aqui, sim, certamente foi aqui que ela os colocou, embaixo do forro rasgado.

Não. Não foi ali.

Ela deslizou a mão de um lado para o outro através do rasgo, mas a echarpe de seda com o conteúdo inestimável tinha sumido.

Entrando em pânico, ela buscava no baú. Os diamantes haviam sumido. Ela os perdera. Christopher ficaria lívido. Ela já podia ouvi-lo culpando-a pela perda. Ou novamente a acusando de ser uma ladra.

Ela sentou nos calcanhares segurando na borda do baú, pensando nas possibilidades. Agora seja sensata. Eles tinham de estar ali, em algum lugar.

Quando foi a última vez que ela os vira? Antes de deixar a casa da irmã, em Londres. Desde então, ela não olhara mais nenhuma vez. No entanto, seu baú havia sido arremessado no ar, caído, foi dando trombadas, foi aberto e fechado muitas vezes ao longo dos últimos dias.

Molly Robbins tinha tirado tudo dali de dentro na manhã anterior. Ela devia ter visto os diamantes. Era estranho que não os tivesse mencionado.

Será que Molly tinha pegado os diamantes? Não, isso não era possível.

Dulce lhe oferecera qualquer coisa que ela quisesse do baú, mas estava se referindo às roupas. A menina entendeu, com certeza. Ela não era nenhuma tola.

— O que foi, senhorita Saviñon? — Molly se aproximou, vendo sua aflição evidente. Era muito estranho. Ela precisava perguntar à menina sem parecer estar acusando-a de roubo. Ela fechou a tampa. Ouvia cavalos e a carruagem chegando na estrada, lá fora. A carruagem chegara para buscá-la.O coração de Dulce não disparou. Ele voou feito um pássaro.

— Molly, quando você olhou as coisas no meu baú, ontem de manhã, viu um lenço rosa de seda amarrado com um nó?

— Não, senhorita Saviñon.

— Você tem certeza, Molly? Pense bem, pois havia algo de muito valor naquele lenço.

Molly agora parecia assustada e remexia os dedos na ponta da trança comprida. — Eu... eu não sei... não, eu...

— Molly?

— Ah, senhorita Saviñon, eu lamento. Tirei do baú e abri.

Graças a Deus! Pelo menos agora ela sabia onde eles estavam.Então, a menina acrescentou: — Eu os coloquei de volta, onde encontrei. Olhei para eles só um pouquinho, senhorita Saviñon.

Nossa, mas como o alívio sumiu depressa!

— Tem certeza de que os colocou de volta, Molly?

— Sim, senhorita Saviñon.

— Então por que não estão aqui? — A ansiedade deixava seu tom de voz elevado e irritado. Ela precisava devolver aqueles diamantes para Christopher essa noite. Não podia mais haver ligação — nada que o fizesse segui-la outra vez quando ela partisse. — Você pegou os diamantes? Diga a verdade, Molly Robbins.

Molly se encolheu como se fosse chorar. — Eu os coloquei de volta no baú, no mesmo lugar onde os encontrei. Eu juro.

Lá embaixo, sua tia estava lhe chamando. Ela e lady Mercy.

Ela levantou lentamente. — Agora preciso ir para o jantar. —Terrivelmente atormentada, ela deu outra olhada ao redor do quarto comas mãos na cintura. Ela certamente queria acreditar nos protestos de inocência de Molly, mas não podia pensar em quem mais...Ou podia? Agora ela se juntou aos chamados por Mercy Danforthe.

Quinze minutos depois, eles ainda estavam gritando o nome dela porque a pequena fugitiva não estava em lugar nenhum na casa.

MADRUGADAS DE DESEJO - Adaptada | VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora