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— Posso lhe assegurar, Saviñon, eu já dancei com mulheres em estado bem pior. Isso é o melhor que você consegue fazer para se esquivar? Sempre imaginei que você teria desculpas muito mais elaboradas e insensatas, já prontas, para me rejeitar.

A ideia de que ele já tivesse sequer pensando em convidá-la para dançar não poderia ter passado pela cabeça de Dulce. Nem em mil anos.

Ele estendeu o braço. — Não vou embora, então é melhor você dançar comigo. Terá terminado antes que você perceba.

— É isso o que dizem quando vão lhe arrancar um dente. — Ainda assim, ela hesitou, já sentindo todos os olhos em sua direção, todos esperando para debochar de alguma coisa nela. Às vezes, ela conseguia superar seu constrangimento; outras, como naquela noite, quando o destino parecia determinado a atuar contra, a coragem de Dulce falhava.

— Você realmente se importa com o que eles pensam, Saviñon? Achei que você fosse mais corajosa que isso.

— Isso é fácil para você dizer, Uckermann. Você não está com melado de doce no seu traseiro.

— Ah! Mas eu já tive um bigode de tinta, graças a você. — Os olhos dele estavam muito azuis sob a luz de velas. — Então, isso nos deixará quites.

Quites? Aparentemente, ele escolheu esquecer os insultos que lhe fizera tão casualmente por cima do ombro. Isso estava muito longe de quite.

E agora ele vinha tentá-la com dança e Dulce adorava dançar. Até aquele momento, antes do rasgo no vestido, ela aproveitara para dançar com dois parceiros: um garoto com espinhas, meio vesgo, e péssimo dançarino; e um cavalheiro idoso, altamente embriagado, que parecia ter bem mais que duas mãos, e cujo hálito entrava no salão meia hora antes dele. Agora, ela podia ter o prazer de um parceiro bonito — mesmo que arrogante até o último fio de cabelo, e desfrutar dos olhares invejosos das outras mulheres, pois, em suas mentes febris, seu passe aumentou de valor no instante em que esse farrista a percebeu.

Hordas incontáveis de jovens damas esperançosas se espremiam em festas como aquela apenas para se exibirem para Christopher. Para muitas, sua fama perversa, em vez de alerta, era meramente incentivadora. Garotas ingênuas achavam que podiam assumi-lo, fazê-lo mudar. Viam James como um desafio. Dulce culpava os romances.

— Deixe que todos olhem — ele sussurrou. — Agora terão algo de que vale a pena falar. — Ele sorriu rapidamente para Dulce, o que a surpreendeu ainda mais. — Talvez você até lance uma moda nova.

Ela tomou a decisão de ser ousada. Se Christopher Uckermann não se importava que seu vestido estivesse rasgado e que ela tivesse glacê no traseiro, por que ela deveria se importar?

Quando eles se juntaram aos outros casais, não trocaram nem uma palavra. Ela deixaria que ele falasse primeiro. Segundo a experiência de Dulce, nunca havia nada de muito interessante para descobrir de uma conversa com um cavalheiro durante uma dança. Os assuntos se limitavam ao clima, às condições das estradas ou qualquer coisa fútil vista como inofensiva, sem probabilidade de ofender, mas com garantia de matá-la de tédio. No entanto, dessa vez, ela havia prometido a Maite que ouviria.

Falando em suas irmãs... seu olhar desviou casualmente em direção aos convidados e parou nos olhares atônitos das duas, em seus rostos ansiosos, encarando-a do portal da entrada do salão. Seus cachos sacudiam violentamente. Ela pensou ler nos lábios das irmãs Como sempre e Será que ela nunca aprende? Elas até tentaram sinalizar algo com sacudidas frenéticas do leque, gestos mais apropriados para uma criança malcriada ou um cãozinho travesso. Elas queriam que ela descartasse Christopher, parasse de uma vez de ficar brincando com ele, e que fosse até lá, já. Como se ela o tivesse acabado de arrancar de um buraco escavado no jardim e trazido para dentro de casa.

Ela sorriu para elas. Foi ideia delas fazê-la vir a essa festa, quando ela só queria ficar em casa e observar seus seios de meia-idade continuarem a aumentar.
Então, seu olhar se desviou das irmãs e passou por outro rosto conhecido no meio dos casais que se espremiam.

Ah, Deus! Lá estava Pablo Lyle, que tivera a honra duvidosa de ter sido seu primeiro noivo. Agora casado com outra, ele geralmente evitava Dulce de um jeito simpático e condescendente que dava a entender que era pelo bem dela. Às vezes, ela se perguntava se ele temia que ela talvez tentasse se ferir com um garfo de ostras simplesmente por ele ter mudado sua afeição para outra mulher nove anos atrás. Naquela noite, quando ele a viu dançando com Christopher Uckermann, uma expressão de surpresa, depois irritação, surgiu em seu rosto largo e achatado. Dulce nunca se considerou uma criatura malvada, mas aquela hesitação em seu semblante cheio de si foi um tanto gratificante. Afinal, ela era apenas humana.
Uma observação mais sorrateira e alegre revelou que Lyle tinha ficado um bocado gordo, não da forma agradável e jovial como acontece com um homem que se aquietou e está desfrutando a vida. Ele estava meio mal, com uma papada caída, sem dúvida produzida pelo desgaste da vida matrimonial, e seus ombros estavam terrivelmente curvos.

Epa, agora ela havia errado o passo.

Seu parceiro se retraiu quando ela deu um pisão forte em seu pé. Finalmente, parando sua inspeção dos outros convidados, Christopher voltou a dirigir-se a ela. — Parece que seu amante sumiu de Londres. Você se livrou dele por ciúme, por ele flertar com a lady Southwold?

MADRUGADAS DE DESEJO - Adaptada | VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora