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Quando Dulce regressou à casa da tia, mais tarde, naquela noite, uma silhueta volumosa saltou perto dela saindo da cerca viva, no escuro, depois se dobrou aos seus pés, caindo pesadamente contra a porta.


— Filha querida — disse uma voz arrastada —, ajude seu velho pai!


Fui surrado até quase perder a vida por aquele nojento do Uckermann.


Sua tia, que ouviu a batida contra a porta, abriu e encontrou Dulce agachada em cima do rosto ensanguentado de Fernando Espinoza.


— Minha nossa senhora!


Ah, pensou Dulce, ela não sabe nem da metade. — Ajude-me a colocá-lo para dentro, tia Lizzie.Juntas, as duas o arrastaram para dentro do corredor e fecharam a porta.


— Ora, mas esse é o amigo de Jane Osborne — exclamou sua tia com uma vela erguida para inspecionar o homem esparramado em seu hall. — Ouvi dizer que houve uma briga na taberna. Uma barulhada, que loucura. E com o Natal tão perto. É uma vergonha!


Como não podiam deixá-lo no chão e ele estava ensanguentado demais para ir para a sala, elas conseguiram passá-lo para a cozinha e sentaram-no junto à mesa de madeira. Dulce encheu uma bacia de água e lavou seu rosto enquanto a tia esquentava leite no fogão.


— Leite? — Resmungou Fernando. — A essa hora da noite eu preferia algo que caísse menos pesado no estômago. Você não tem conhaque? Ou xerez? Ou um vinhozinho doce?


— Você vai tomar o que lhe for dado — respondeu Dulce asperamente.


— Ai! Seja dócil, querida. Estou todo machucado por aquele salafrário do Uckermann. Agora, você certamente pensará melhor sobre ele depois do que ele fez comigo.


— Imagino que não tenha feito nada para provocar isso...


— Eu estava lá sentado, cuidando da vida, e lá veio ele, pronto para brigar. Nem tive chance de me defender. Nenhuma. Ele claramente não tem respeito pelos mais velhos. Agora graças ao seu homem elegante me expulsaram, mesmo depois que paguei pelo quarto, tudo direitinho. Nãoconsigo pensar onde vou dormir esta noite.


Ela enxaguou o pano e ficou olhando os filetes de sangue na água. — Christopher Uckermann me disse que lhe pagou mil libras por mim. É verdade?


— Isso é uma mentira das grossas — exclamou Fernando.


Dulce sabia em quem acreditar. Christopher talvez fosse um farrista, mas não era um bom mentiroso. No entanto, esse homem, independentemente do que mais fosse, era seu pai. Que tipo de filha ela seria se o jogasse na neve? — Imagino que se eu o mandar para rua irá até a casa do fazendeiro Osborne causar confusão por lá.


— Eu? Confusão?


— Ele parece você — tia Lizzie murmurou secamente.

Dulce limpou as mãos no avental. — Se minha tia concordar, você pode ficar aqui na cozinha e dormir perto do fogão, onde é aquecido, mas isso depende dela.


Ambos olharam para tia Lizzie, que certamente não queria problemas para o fazendeiro Osborne. Quando Dulce sussurrou que era melhor elas ficarem com ele do que deixá-lo ciscando pela vila, criando tumulto, tia Lizzie concordou, relutante.


— Vou explicar tudo — Dulce garantiu.


— Ah, querida. Quase receio ouvir. — Contudo, a senhora saiu apressada para pegar cobertores e travesseiros para o recém-chegado. — Outro homem estranho passando a noite em minha casa. Só Deus sabe o que a senhora Flick teria a dizer sobre isso.


Depois que ela saiu, Fernando esticou as pernas. — Ah, boa garota. Eu sabia que você não podia me ver sofrer.


— Eu o verei sofrer — contente — se causar mais problemas à minha tia. Mantenha as mãos em seus bolsos enquanto estiver aqui, ou vai para a neve se virar sozinho.


— Nossa, filha. Eu só roubo dos que podem pagar. Pense em mim como Robin Hood.


Ela bufou. — Só que Robin Hood roubava dos ricos para dar aos pobres, não para encher a própria bolsa. — Enquanto falava, ela se lembrou da justificativa que dava para seus próprios malfeitos no passado.


Ela sempre arranjava um jeito de tranquilizar sua consciência de que não era errado tirar dos que tinham tão mais que ela. Ela era como seu pai dissera, filha de peixe, peixinho é.


— Vou aceitar um pouco dessa carne com uma fatia de pão antes de fechar os olhos, Dulce Maria, minha querida.


— Para um homem tão preocupado com sua digestão, você deve saber que não é sábio comer assim tão tarde da noite.


— Mas se eu não comer, minha pobre barriga vai ficar me acordando a noite toda. — Ele estalou os lábios e olhou ao redor da cozinha. — Tem um pouco de rabanete para acompanhar?


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Eu odeio esse velhote. Vontade de dar uma facada.

MADRUGADAS DE DESEJO - Adaptada | VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora