Capítulo 10

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 Nora Miller

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O cheiro de comida sendo preparada e a correria dentro da cozinha me recepcionava de maneira agradável.

Elisa passava com a cadeira de um lado para outro dando algumas ordens enquanto mexia em algo dentro de uma pequena panela. Fabrizio acatava as ordens e passava algo para alguns assistentes que trabalhavam conosco.

Acenei para todos e fui atrás da cadeira de Elisa e a puxei.

- Bom dia Nora. - ela diz ao entregar a panela para Joan.

- Como sabia que era eu?

- Você é a única que faz isso. - ela respondeu me lançando um olhar engraçado - Seu irmão costuma a dizer que essa sua atitude só mostra que você é uma criança vivendo num corpo adulto.

Normalmente eu faria algum comentário mal criado e mandaria ela dizer a ele para ir se ferrar, mas não fiz. As coisas ainda estavam estranhas entre nós, e sei que a culpa era minha. Eu havia magoado muito o Eliot e o Tom estava recolhendo os cacos do amigo.

- O Thomas ama você. - ela diz como se tivesse lido a minha mente - Ele só ficou chateado por conta do Eliot, mas ele te ama e se preocupa com você. Não teve um dia desde que você e o Eliot terminaram que ele não tenha me perguntado se você está bem.

- E o que você diz? - ela dá de ombros e guia a cadeira para frente fazendo-me segui-la.

- Que se ele quiser saber que venha perguntar para você. - e essa resposta não me surpreende. Elisa era assim, nunca respondia por ninguém muito menos pelo meu irmão, não em situações como essa. 

Ela basicamente o fazia encarar tudo como um homem que ele era e só interferia quando via necessidade.

- Do jeito que ele é lerdo vai levar meses para vim ver como eu estou. - comento fazendo-a rir.

- Eu sei, eu conheço essa lerdeza. - respondeu e então virou a cadeira para mim. Havíamos nos afastados de todos, mas o barulho ainda era audível - Como você está Nora? - a pergunta não era curiosa, havia uma certa preocupação e algo há mais que não pude identificar.

- Estou bem. - minto ganhando um olhar feio e duvidoso - É sério.

- Se estivesse bem não estaria pulando suas refeições, ou chorando as escondidas. E sim, eu notei e tenho certeza que não fui a única. - falou notando minha cara de desespero e vergonha.

- Elisa...

- Não sei porque você terminou com o Eliot, e sei que não foi porque do nada você parou de amá-lo - abro a boca para responder e sou cortada - Você não precisa se esforçar em mentir para mim, eu não vou acreditar e nem vou perguntar. Acho que se quisesse desabafar já teria feito isso. - olho para os meus pés evitando os olhos dela. Ela era perceptiva, sabia me ler muito bem e não era invasiva como muitos - Mas Nora não entre nesse buraco, não sei o que te levou a isso, mas lembre-se do que aconteceu comigo e com o seu irmão. Lembre-se de como foi depois que ele perdeu à Carly e como foi depois que fiquei paraplégica. Eu cai em um buraco assim, ele era escuro e eu estava me afundando a cada dia nele e foi difícil me erguer e sair de lá, até porque eu desisti quando cai nele. Mas você não, você ainda está nessa parte rasa e por mais que esteja fingindo que está tudo bem, ainda está reagindo e tentando seguir. Mas se você não se abrir com ninguém ou não tentar você vai ficar como eu fiquei. - a essa altura eu já chorava e ao sentir os dedos de Elisa prenderem os meus a olhei e vi que não havia preocupação ou pena em seu rosto e sim compreensão - Você não está sozinha Nora, eu estou aqui viu?

Limpo o rosto e sorrio agradecida.

- Eu sei, obrigada.

- De nada, agora vamos tomar sorvete. 

- Nada melhor do que sorvete para afundar as amarguras. 

- Eu não estou fazendo isso por você, apenas quero tomar sorvete. 

Bufo e reviro os olhos. Certas coisas não mudam.

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Nada melhor que um dia agitado para ocupar a cabeça de uma pessoa que não queria pensar no ex e na vida que teriam caso ela pudesse ter filhos. 

Em algum momento do dia eu até havia me esquecido de Eliot e de tudo o que eu sentia por ele. Esqueci a terrível notícia de que era estéril e que nunca poderia ter filhos. Mas como era de se esperar não consegui evitar em pensar em tudo quando cheguei na casa de James e me deitei na minha cama. Era algo horrível e totalmente doloroso, eu não conseguia parar de chorar e nem mesmo conseguia evitar a dor que se assolara no meu peito.

Era em um desses momentos que eu me aconchegaria nos braços de Eliot e sentiria seus braços me apertarem com força e sua voz dizer que tudo ficaria bem.

Deus eu não sabia por mais quanto tempo aguentaria toda aquela dor que se acumulava no meu coração. Só esperava que passasse logo, porque eu não aguentava mais essa dor e esse abismo que eu estava vivendo.


N/A: Espero que tenham gostado, beijos e até a próxima!!!


Um Presente Chamado Mary ✔ Onde histórias criam vida. Descubra agora