Na cidade de Nova York, por volta das 6 horas da manhã, um discreto raio de sol transpassava as cortinas brancas do quarto, iluminando parcialmente o rosto de Catriona. Diferente dos outros dias, ela foi a primeira a acordar. Sentiu uma mão pesada em volta da cintura e constatou que Sam ainda estava deitado ao seu lado. Ela abriu os olhos e a primeira visão que teve foi a do seu marido dormindo de frente para ela, um lençol cobrindo-o da cintura para baixo, os músculos do peito mais definidos com o passar do tempo, depois de horas de treino, a respiração baixa e vagarosa. Pensou em acordá-lo, sabia como animá-lo logo cedo, mas cansaço, visivelmente ilustrado no rosto dele, fez com que Caitriona desistisse. Ela imaginava que todo aquele sono se devia ao fato dele ter ficado até mais tarde estudando para o exame final do último ano da residência. Ao contrário do que Sam esperava, não tinha nada de tranquilo, a cobrança era maior e as responsabilidades só haviam aumentado durante aqueles anos de faculdade. Em 6 meses, Sam finalmente ia se tornar um cirurgião da Cardiologia. Caitriona estava tão orgulhosa! Ela sabia o quanto ele tinha se dedicado, estudando pelas madrugadas, deixando de sair com os amigos. Não tinha sido fácil para ela também. Se manteve forte, motivando-o a correr atrás do sonho dele, enquanto ela fazia o mesmo com o dela. O tempo era corrido, e eles se viam pouco. E mesmo conversando e mantendo o diálogo em dia, alguns conflitos tinham sido inevitáveis durante aquele período.
Ela quis voltar a dormir, a semana não estava sendo fácil, o excesso de trabalho estava sugando suas forças, e tudo o que ela precisava era que o dia tivesse pelo menos 30 horas. Desde que havia se tornado sócia na Firma Hudson, Young & Associados, a responsabilidade tinha triplicado. Sentou-se na cama devagar e, com muito cuidado, afastou o braço do Sam. Mesmo assim Cait esperou que ele se mexesse, mas seu marido permaneceu intacto. Ainda olhando para aquele homem de 1,91, considerou a possibilidade de se juntar a ele e simplesmente voltar a dormir. Poderia deixar um recado para Alicia e inventar que estava com um resfriado, contudo isso faria dela uma grande mentirosa. Ela sabia que sua sócia não acreditaria. Ela nunca acreditaria! Alicia Hudson, conhecida no tribunal como Senhora Hudson, era uma das poucas advogadas criminalistas de Nova York, que merecia reconhecimento pela sua incansável busca pela justiça. Caitriona tinha uma grande admiração por ela, e talvez tenha sido por isso que elas haviam se tornado grandes amigas.
Vencida pela responsabilidade que lhe aguardara dali a algumas horas, Caitriona decidiu levantar. Ela teria uma audiência às 09:40, não poderia deixar de ir, pois Alicia teria um surto caso isso acontecesse. De frente para o espelho, observando o reflexo do seu corpo nu, Caitriona sorriu para si mesma, percebendo que, 5 anos depois, quase nada havia mudado. Ela ainda era magra, branca, com pernas longas, seios pequenos e cabelo abaixo dos ombros. Ao passar a mão em sua barriga, na margem do ventre, uma pequena memória surgiu em sua mente. Algo doloroso e que lhe perseguiu durante alguns meses. Se não fosse sua mãe lhe ajudando e dando suporte psicológico, não sabia como teria prosseguido com a vida. Sam ajudou também, claro. Mas ele andava ocupado, não dormia direito naquela época, estudando com muito mais intensidade do que agora.
Caitriona suspirou fundo, soltando o ar aos poucos com a boca. Seu semblante era de uma pessoa triste. Passou a mão no cabelo e se esforçou para esquecer aquele fato que ainda lhe afligia a alma. Ela sabia que não deveria mais sofrer, a culpa não era sua! Mas, por mais que se esforçasse, o sofrimento ainda era inevitável. A dor de perder um bebê, para Caitriona, era incomparável e indescritível. Ela não se sentia bem falando sobre aquele acontecimento, lhe incomodava profundamente. Todas as vezes em que tocava em seu ventre, era como se sentisse que o feto estava ali, que se ele fosse chutá-la a qualquer momento. Ela não sabia qual era a sensação, Caitriona estava apenas com 11 semanas quando tudo aconteceu. O feto poderia ser comparado ao tamanho de um tomate-cereja, sendo possível apenas ouvir os batimentos do seu coração. Tinham se passado dois anos desde o momento em que tinha sofrido o aborto espontâneo e lembrava daquele doloroso momento como se tivesse sido ontem.
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Eu Faria Qualquer Coisa Por Você (SC AU)
Fiksi PenggemarCaitríona cresceu ouvindo sobre como deveria se comportar, sobre as roupas que deveria vestir, sobre a forma como deveria comer... Conviver com sua família estava cada vez mais difícil, principalmente com sua mãe e suas irmãs. Os insultos que ela r...