CAPÍTULO 1

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"-Eu gostava muito dele, mas amar de verdade, eu amava você... Ou melhor: eu amo você!"

***

Era domingo e chovia fortemente na cidade de Holtsville. O cobertor grosso cobria todo o meu corpo dos pés a cabeça. Eu estava sonolenta. Não tinha noção do horário, apenas sabia que precisava levantar. O meu pai tinha me intimado para ir à igreja com ele; algo, que infelizmente, não poderia sequer recusar. Eu ouviria as batidas dele em minha porta a qualquer momento. Descobri a minha cabeça, inclinando o pescoço em sentido à janela, e notei que a chuva estava diminuindo.

Para mim, a chuva só combinava com cama, cobertor e chocolate quente. No meu caso, só faltava o chocolate quente. Decidida a levantar, sentei-me na cama, tirei de debaixo do travesseiro um pequeno caderno lilás e comecei a escrever nas suas próximas páginas em branco com a caneta que estava dentro dele. Apressei-me em descrever tudo que estava sentindo. Era uma mania que eu tinha todas as manhãs. O motivo? Eu tinha medo de me abrir com as pessoas, de expressar meus pensamentos e de ser julgada por eles. Em casa eu não tinha liberdade pra isso. A minha família era um tanto sistemática, metodista e reservada.

Minha mãe era fechada e não conversava muito comigo. Ela não fazia questão de manter uma aproximação entre mãe e filha. E, de um certo modo, isso afetava muito na minha personalidade. Eu tinha pena dela, sempre tão amargurada e solitária. Eu nunca a via sorrir, nem quando tinha motivos. Ela vivia dizendo que "Meninas não podem ficar sozinhas com homens". E o meu pai talvez não estivesse tão distante da minha mãe, já que ele costumava ser extremamente conservador. Nós até conversávamos, mas eu nunca me abria com ele. Não o enfrentava, apesar da minha ira de filha injustiçada. Eu não tinha coragem de discutir com ele. Ele vivia me dizendo que "Não há o que questionar quando a resposta for NÃO".

De um modo geral, eles estavam sempre querendo impor regras para mim. Até mesmo minha vó, que já estava em uma idade avançada. A lucidez dela me assustava, nunca tinha visto uma avó tão cheia de energia e de vida como a minha.

Minha tia, apesar não residir conosco, estava presente com bastante frequência. Depois da minha avó, a qual eu tinha um apego profundo, tia Lisa era como uma segunda mãe para mim. Aliás, talvez ela fosse mais mãe do que a minha própria mãe. Era a única que tinha coragem de conversar abertamente comigo e que me explicava sobre assuntos que toda garota da minha idade deveria saber. Contudo, os livros explicavam muito melhor.

Eu tinha idade suficiente para compreender a diferença do certo e do errado, mas os meus pais insistiam em me ver como uma menina de 12 anos. Eu cresci ouvindo sobre a maneira como deveria me comportar; sobre as roupas que deveria vestir; sobre a forma que deveria comer; os meus horários de estudar; e quando deveria falar. Seria muito bom se eles enxergassem que eu não era mais uma garotinha. Eu sei que parece melancólico isso, e se tinha uma coisa que eu não gostava era da melancolia. Eu sempre detestei ver as pessoas chorando ou ter que ir à um funeral. Eu não sabia como reagir diante dessas coisas.

Para completar a família, eu ainda tinha mais duas irmãs. Laura e Olívia. Ambas eram cínicas e sonsas. Sempre fizeram o que queriam, e "Ai da Cait" se dissesse algo. Óbvio que o meu pai cedia fácil para elas, a minha mãe infernizava a mente dele. Eu sabia que elas recebiam privilégios e cheguei a pensar que a minha mãe não me queria quando descobriu sua gravidez. Provavelmente foi uma gravidez não desejada. Enquanto as duas estavam se preocupando em ser bem sucedidas, encontrar seu par perfeito, minha mente estava focada em sair de casa e viver a minha própria vida. De todas as minhas metas, essa era a primeira que precisava atingir.

E, no meio disso tudo, haviam duas pessoas muito importantes e significativas para mim: Sam e Paul. Eu era amiga deles desde criança. Eles eram filhos do amigo de papai, que havia falecido há 1 ano. Meu pai e o Sr. Heughan eram sócios na produção e venda de queijos e leite da Vila em que vivíamos.

Eu Faria Qualquer Coisa Por Você (SC AU)Onde histórias criam vida. Descubra agora