Você teve sua chance e a desperdiçou. Jogaste meu amor no lixo, todo o tempo que doei a ti, ignoraste no teu julgamento e me deixou a deriva, sozinha num mar de tristeza.
Mas agora corra, se afaste de vez. Não adianta, não quero cair mais nos seus l...
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Paulo Bruno Dybala
Meus pés estão doloridos, há horas estou sendo posto ao meu limite.
Era o treino de teste de resistência. Todos nós estamos sendo avaliados desde a simples corridas a exames sanguíneos e de pressão. A temporada 2017-2018 havia nos deixado numa posição boa. A chegada de Christiano Ronaldo trouxe um brilho a mais para a Velha senhora. Essa era uma grande merda.
— Sabe quem está vindo dar uma volta pela Itália? — ouço a voz carregada de sotaque do português metrossexual ao meu lado e ergo a cabeça minimamente. Estávamos correndo na esteira enquanto fios grudados em nós avaliavam nossa condição.
— Talvez venha com o filho, não sei. É a temporada de folga antes dos amistosos, não duvido que traga amigos — ou amigas, concluí.
Pensar nela me fez diminuir o ritmo um pouco e quase desistir da esteira. Até lembrar que ela não devia mais me afetar. Selena não tinha mais esse poder sobre mim!
Grande merda.
Claro que aqueles olhos castanhos ainda me atormentavam. Que seu cheiro ainda me persegue e eu ainda poderia sentir sua pele quente deslizando sobre mim.
Por que você tinha que me trair, Selena?
A conheci após um jogo. Linda e com uma cara emburrada. Percebi de cara que ela não era fã do time do mesmo modo que seu tio - descobri mais tarde que ela era uma merengue blanca! Seus lábios me chamaram atenção primeiro, delicados e cheios, cobertos apenas por um gloss. Percebi que eles não eram definidos na parte de cima tão bem quanto os de baixo. E isso me intrigou.
Uma vez, uma ex-namorada me disse que algumas mulheres cujo os lábios não são definidos, tem dificuldades de passar batom e por isso optam pelo bom e velho gloss.
E a boca carnuda e não definida de Selena me puxaram como um imã. Me vi encantado por ela. Seus olhos castanhos me fascinaram, nunca havia visto um castanho tão profundo, tão puro. Os cabelos negros estavam lindos num rabo de cavalo e lisos. Depois ela me mostrou que eles eram ondulados, mas que preferia-os lisos. E suas pintinhas no corpo, Deus me deixavam babando.
E ai ela destruiu tudo.
— Mais dois minutos, Dybala — a doutora sorri para mim. — Pode ir para casa depois.
— Tanto faz — falo baixo.
Meu humor havia sumido. A possibilidade de encontrá-la me deixou mal. Não queria olhar nos seus olhos. Não queria sentir seu cheiro ou o doce sorriso direcionado a ninguém. Ela não me pertencia mais, só precisava aceitar isso. E, talvez, ela nunca tenha sido...
— Gio está pensando em fazer um jantar para o Júnior, ele tirou notas altas no boletim — Cristiano sorri. Ele era doido pelo filho, e no fundo eu o invejava.
Como queria ter sido pai.
— Vai ser algo mais só vocês ou jantar do tipo o time inteiro? — arqueei a sobrancelha.
— O segundo, provavelmente. Sabes como ela adora um show no copo d'água — ri alto. Cris e suas frases estranhas.
Nos despedimos quando meu tempo bateu e eu fui direto para uma boa ducha. Logo, me vesti com um conjunto refrescante da Juve e, assim que peguei meu celular, vi as várias notificações do Instagram na tela. Centenas de marcações numa mesma foto. Curioso, me encostei no armário e abri.
Me arrependi profundamente.
— Essa não é a Seleninha? Uau! — sobressalto num susto com a voz de Cris ao meu lado.
— Que susto, portuga — balanço a cabeça. — E sim, é ela.
— Como é que um cara como você, ficou com um mulherão desses e ainda foi corno? Quer dizer, porra, teu taco não é tão grande assim?! — brinca. No entanto, não ri.
Eu gargalhei.
— Não tenho culpa se ela não tem caráter, eu dei tudo de mim — dei de ombros. Era a verdade, fim.
— Esse carrinho duplo são os filhos dela né, eu soube que são um menino e uma menina, e que são branquelos. Só.
— Ela nunca postou a face deles — completo sem pensar.
— Você devia amar ela não é?
— Amo, e mesmo assim...
— Tem certeza mesmo que ela te traiu? Cara, eu conheci a Selena e ela...
— Tenho, Cris. Você sabe que eu tenho.
— Mas Paulo, pelo amor de Deus você nunca reparou no jeito que ela te travava? Me custas a acreditar que...
— Porra, Cris eu sou estéril! É por isso que eu sei que não sou o pai, não posso ter filhos — despejo ao jogador 7 o motivo pelo qual não confiei na palavra dela. Pelo qual ignorei a droga do voto de confiança. — Eu... fiz uma vasectomia.
— Você fez o quê?! — Cris exclama, chocado.
— Foi um pouco antes de conhecer Selena...
— Paulo, que merda... Por que fez isso? A preguiça para usar camisinha era tanta assim?!
— Eu só não queria filhos agora! Fiz a vasectomia consciente de que posso reverter isso, mas...
— Mas agora tudo o que você mais quer é reverter? Porque o que você fez é uma burrice, Paulo Bruno — bate na minha nuca. — Você contou isso para ela? Foi sincero?
— Foi antes de nós nos envolvermos e eu ainda não estava pronto para isso, além dos mais, do que isso importa? Aqueles bebês não são meus! — e nem podem ser.
— Tudo bem, não precisar rosnar — ergue as mãos. — Ainda assim, me custa acreditar que a Seleninha tenha te traído.
— Nem todas as pessoas são o que parecem ser.
Dito isso, dou por encerrado nossa conversa e caio fora dali. Precisava da minha cama e um bom jogo de ação para despejar minha frustação. Destravo meu carro e logo o rádio, o som de Habits me faz soltar um riso melancólico. Nunca uma música fez tanto sentido na minha vida.
Porque sim, eu tenho que me "chapar" o tempo todo para tirar Selena da minha cabeça.
Mas cara, é difícil pra caralho esquecer quando tudo em Turim me lembra ela. Eu troquei de casa! De carro e até joguei roupas fora, porque eu não aguentava ver uma camisa e lembrar dela zanzando pelos corredores só com ela e os cabelos bagunçados.
E agora eu tenho que ficar chapado a minha vida toda para esquecer que sinto a falta dela. Obrigado, Tove Lo você acabou de vez com meu dia.
