Lar doce lar

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Sentamos em uma mesa, eu nunca havia visto esse moto clube tão cheio de vida, tão cheio de motoqueiros, em suas jaquetas a mesma logo, apenas mais bem elaborada (agora estampada, as antigas bordadas), uma moto em chamas com uma caveira com cabeça cachorro esquelética com uma foice, escrito na parte de cima do desenho M.C Nova Era. E na parte de baixo Santa Lusia e por fim o traço - e o ano em que o moto clube foi criado, 1960.
O bar era rustico e reformado repleto de madeiras envernizadas, mesas de madeira espalhadas, lotado de quadro de motos e mulheres sensuais com pirulitos nos lábios ou bocas carnudas recheadas de gloss. Rick me encarava do outro lado, queria me matar.

— Alguém deve estar muito puto... — falei apontando Rick com o copo e Sr. Ju olhou.

— Bah, besteira... Isso vai passar, fico feliz que tenha voltado, logo passarei o bastão para Rick e você e ele podem tocar o barco, você pode ser o braço direito de Rick, o verdadeiro cabeça, assim como seu pai foi para mim — ele bebericou a cerveja — sabe, esse clube não estaria aqui se não fosse pelo seu pai, talvez eu devesse ter o escutado mais.

Eu dei um riso, Sr. Ju continuava um falante de primeira.

— Mas aguas passadas não movem moinho — ele olhou para um cara que estava em cima de uma mesa gritando — Santo deus! DESÇA DAI MICA!

Gritou ordenando e o rapaz ficou mais uns segundos más desceu aos risos. Estava bêbado certamente, eu o conhecia, já havia o visto na época da escola quando era mais novo. Engraçado como as pessoas vinham parar aqui.

— Sr Ju...

— Me chame de Ju rapaz.

— Aquela lei de que um homem só pode matar uma mulher se ela estiver armada prevalece?

— Sim, sim, é sobre Maíra? Não é? Então ela estava armada naquele dia que pegou o Jorjão roubando nosso verde. Então sabe como funciona, quando a morte acontece dentro das leis do moto clube não podemos fazer porra nenhuma, mas Rick matou o filho da puta mesmo não podendo.

— Eu faria o mesmo.

— É caralho, era a mulher dele entende? Eu compreendo meu filho.

— Uhum...

— Enfim estamos manchados ate hoje com os Cabeças Quentes, o nome já diz tudo.

Cabeça Quente era o nome do outro moto clube do qual Jorjão fazia parte, parece que antes havia um acordo entre os dois clubes.

— Porra... Que embaçado.

— Mas eles não podem cobrar nada de Rick, só que mesmo assim tenho medo. Rick não sabe mas eles vivem roubando nossas entregas e nós deixamos eles levar.

— Vocês o que?! — pergunto indignados — Entregam a mercadoria a eles?

— Não quero um confronto sangrento, por isso não passei ainda o bastão para Rick se ele descobre...

— Puta que pariu Ju, como estão as economias dessa forma?

— Quebradas, mas o moto clube vai bem por conta do bar, não sei o que fazer para manter a porra do trafico.

— Sabe o quão isso é errado, por que não abandona as maconhas?

— Sabe? Ela que nos trazem fregueses e recrutas, e depois pagamos os malotes roubados não entregue, é o dobro do valor original mas não temos alternativas. Não podemos nos meter em confusão de novo Dan, a policia vive vindo aqui ou acolá, não temos mais tanta parceria com a policia como no passado.

— Entendo, complicado.

— Mas sei que meu filho vai fazer o certo...

— Só se o certo for matar aqueles filhos da puta dos Cabeças Quentes...

— Com você ele fara o certo...

— Não, não Ju, não estou aqui pelo moto clube. Na verdade não tenho vontade de fazer parte disso.

— Não é o que eu vejo, algo em mim diz... — ele apontou minha moto do lado de fora através da janela de vidro — Que você ainda tem o espírito do moto clube.

— Ju, não vim para ficar.

Ele encheu os copos já vazios de cerveja.

— Esta bem, vamos falar de outra coisa não quero ser o velho e chato Ju. — Ele riu descontraído enquanto eu o olhava preocupado — Para onde foi quando fugiu?

— Monte Delta, havia uma tia, meu pai sempre disse dela que caso acontecesse algo que eu fosse ate ela... Sabe?

— Filho da puta sempre com uma carta na manga, e você podia ter avisado...

— Podia, mas o senhor iria atrás de mim que eu sei e também quando fugi não sabia ao certo para onde eu iria apenas fui.

— Entendo... Rick ficou muito mal com sua partida, ele ficou muito mal mesmo, sabe como ele era um meninão dramático e sentimental, até adoeceu, você era como um irmão a ele.

Dei um resmugo, uma garrafa de cerveja foi colocada na mesa chamando me a atenção em seguida a antiga Tatá disse:

— Olha se não é o desaparecido... Pensei que estivesse morto.

— Ah Tatá — falei rindo e me levantei para cumprimentá-la

Ela estava uma coroa muito bem reservada, devia na metade dos seus 50 anos, muito bonita, nada idosa ou caindo aos pedaços. Ela tinha seus cabelos louros curtos e tingidos, uma cara fina e maquiagens fortes (como sempre) usava uma gargantilha, uma jaqueta preta e o colete surrado couro do clube por cima.
Seus olhos eram da mesma forma de Rick, na verdade eles se pareciam um pouco só que Rick era um monstro perto da pequena Tatá que era sua mãe.

— E ai como estão as coisas?

— Tranquilo — respondi

— Me falaram que você estava aqui, então eu disse: tenho que ver com meus próprios olhos... Nossa como você ta bonitão, olha só? Acho que já sei com quem vou pular a cerca... — brincou ele a olhando para Ju que riu.

— Acha que ele vai comer qualquer porcaria? — disse Sr. Ju e eu ri, ela deu um cutucão em seu ombro em seguida.

— Vai se foder! —  mostrou o dedo do meio para Sr. Ju, que caiu na gargalhada.

Ela me olhou com olhares risonhos e acariciou meu rosto.

— Barbudinho, é você cresceu — disse ela balançando a cabeça — E como! — ergueu a sobrancelha.

De repente Rick vinha em minha direção, nervoso, ele se levantou abrupto.

— Filho da puta eu mandei você embora! — ele gritou tentando me pegar.

Sr. Ju e Tata intervieram.

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