O passado deixa marcas I

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Naquela noite depois do dia comum, eu estive pensando muito olhando para o teto estrelado do quarto.
Por que ainda não fui embora?
O que eu deveria fazer?
É muito difícil aceitar estar apaixonado por um grande amigo seu que dorme no quarto ao lado.
No quarto ao lado.
Era onde ele estava? Como ele estava?
Novamente de ceroula? Ou sem ela?
Ainda estava frio, certamente com ela.
E como seria o nosso sexo? O que fariamo? Como apagariamos o fogo de nossos corpos? Será que ele pensava em mim como eu nele?

Me levanto e me sento na cama.
Talvez eu devesse ir agora.
Ele me deu sinal o dia todo que dormiu bem, ele estava querendo dizer que dormiu bem por ter dormido comigo. Eu dei a entender o mesmo.
As trocas de olhares hoje foram gostosas, doces, tenuosas, carinhosas.
Eu devia ir...
Não, não ir embora.
Eu devia ir até seu quarto e dormir com ele de novo.
Devia?
Não devia?

Sinto o chão gelado em meus pés através de minhas meias. Uso calça de moletom, uma camisa de algodão leve, pijama improvisaod de dormir.
Me levanto da cama e dou algumas voltas no escuro.
Merda sou um homem de 29 anos me sentindo um garotinho de 12...
Um garotinho apaixonado.
Talvez eu devesse só espiar.

Me retiro do quarto, na madrugada silenciosa pé ante pé, e vou até a porta do quarto do Rick no mesmo corredor ao lado. Ergo a mão, fechando o punho pensando em bater de maneira sutil.

— Vai acordar a Manu se bater muito forte — ele sussurrou em fazendo pular num susto me virando rapidamente.

Ele tapou minha boca quando viu que eu iria xinga-lo, e riu.

— Shhh.

— Merda, onde você estava?

— Fui colocar a Manu no quarto dela e estava pensando em bater na sua porta... Mas daí você abriu ela e eu me escondi.

Ele sussurrou.
Olho para ele com os olhos cerrados.

— Hmm por que ia bater em minha porta?

— Pelo mesmo motivo que você bateria na minha. — ele abriu a porta —  Vamos entrar logo antes que meus pais peguem a gente.

Entramos pé ante pé. Após ele fechar a porta ele respirou aliaviado, pareciamos dois ladrões.
Fiquei o olhando parado, e ele também me encarando.

— Você está bem? — pergunto

Ele faz que sim com a cabeça torcendo um bico em seguida, como sempre fazia.

— Parecemos dois adolescentes.

Dou riso leve.
Ficamos nos olhando ainda em silêncio em meio ao escuro onde só o reflexo da noite fazia nossos olhares brilharem. Que merda estava acontecendo? Meu coração parecia um tambor eu sentia um vazio no estomago como se uma ansiedade em vê-lo me tomasse conta. Me sentia um pote vazio prestes a tranbordar de cheio. Sim, um sentimento de merda e confuso.
Me viro observando seu quarto, caminho em direção a sua cama de casal, grande e espaçosa e ele vem logo atrás no encalço.

— Vai dormir aqui comigo?

Dou os ombros. Estava envergonhado para responder essa pergunta.
Mas sim era o ue eu queria.
Ele esta só de ceroula como ontem, se aproxima deitando, ou melhor, se jogando na cama.

— Deita aqui do meu lado, vem... — ele diz se cobrindo e abrindo parte da coberta com o braço de modo convidativo.

Me deito o olhando nos olhos cizentos, em seguida acaricia seu rosto.

— Por que ficou me evitando Ricardo? Depois da cabana?

— Não fiquei o evita... — olhei para ele de cara feia como se fosse me xingar com sua resposta caso ela não fosse a certa — Hã... É que, sei lá era estranho.

— O que que foi estranho? — perguntei enquanto alisava com o polegar sua sobrancelha de modo carinhoso.

— Tudo.

— O nosso beijo?

— É tipo, você não estava me testando não né irmão?

— Não — sussurrei alisando sua barba com o polegar e depois com as pontas dos dedos. — Eu estava experimentando.

— E gostou Dan?

— Muito — falei de coração aberto sem sentir nem um peso em admitir aquilo — Acho que senti sua falta também.

— Por que não voltou para mim antes?

— Eu tentei eu juro — falei baixinho.

— Quer me contar o que aconteceu? —  ele disse acariciando minha cintura.

Depois ele desceu um pouco mais a mão acariciando minha bunda de modo sutil. Eu não senti incômodo apenas nem me importei mesmo achando um tanto estranho.

— Minha tia, ela morreu um ano depois de eu ter encontrado ela. — ele continuou em silêncio me fazendo carinho, subiu sua mão colocando-a dentro da camisa sentindo a textura da minha citura em sua pele me olhando enquanto eu mexia em sua barba macia. — Eu fiquei morando com meu tio... E ele não era muito legal comigo.

— Ele quem fez tudo isso? As cicatrizes.

— Não só ele... — falei baixinho e me levantei me sentando na cama

Eu iria mostrar algo a ele.

Levanto a camisa revelando minhas costas, nela havia outras cicatrizes e uma também uma um pouco mais marcada diagonal no abdômen, a mais profunda. Ele se sentou tocando as e eu tirei totalmente a camisa.

— Que merda Dan! — ele me deu um beijo no ombro me agarrando a cintura.

— Quanto mais eu tentava fugir mais aquele filho da puta me machucava. E ele tinha uns amigos que ajudava ele... — dei uma leve pausa — quando fiz 17 anos foi a última vez que eu tentei. O arrombado me enterrou vivo, e deu uma festa, ele achou que eu não voltaria... invadi aquela merda. Eu voltei. Depois de todos os vizinhos verem aquilo fui para um abrigo para menores e fiquei um ano lá, e depois? Fui para as ruas. Eu devia matar aquele arrombado. Mas ele me achou... Me deixava amarrado e falava para todos que eu usava crack e por isso estava naquela merda de estado.

Fiz uma pausa. Eu estava contando tudo de modo superficial e rapido, não queria me aprofundar para não me chatear. As vezes a gente conta as coisas de modo afugentado para não ser tomado por emoções.

— Eu fugi, dessa vez para longe. Conheci o dono de um ferro velho, o senhor Raí, ele me deixava dormir la. Namorei a filha dele. Foi la que montei minha moto, juntei uma grana boa. Me remontei também, e voltei... — respiro fundo. — foi difícil Rick.

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