O retorno. (um dia antes)

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A Guzzi V7 estava rodando a horas, bebia combustível de mais más corria bem, não tanto quanto os modelos atuais, esse modelo do ano de mil novecentos e algumas bolinhas bebia uma bela porção de gasolina, e não era extremamente veloz, afinal as motos de viagem nem sempre são velozes como uma Suzuki atual. Mas não faz diferença, pela primeira vez aquelas rodas rodavam por Santa Lusia e eu estava contente em retornar para aquela pequena cidade de interior, senti falta dela durante quinze anos... As coisas estavam mudadas, embora muitas construções novas o estilo rustico e rural se mantinha tradicional em Santa Lusia, a brisa que o mar trazia para a cidade que ficava perto mas não era litorânea era refrescante.
Eu queria passar em alguns lugares, comecei na casa de uns conhecidos próximos, e depois de matar a saudade de diversos moradores em questão, arrumar um lugar de hospedagem eu fui ver um alguem muito especial, ou melhor... Um lugar, esse deixei por ultimo.
Eu estava determinado a ficar na cidade.

O moto clube mais conhecido aqui estava ainda alocado no mesmo lugar, na pequena estradinha de barro que levava a um bar show de bola, O Nova Era foi liderado pelo meu pai, mas não só por ele, que foi vice presidente do moto clube, como pelo seu amigo Sr. Ju. Que sempre foi presidente e quem sabe seu filho agora? Meu velho irmão Rick.

Era sexta feira, uma sexta calorenta, o lado externo do M.C Nova Era, estava cheio, muitas mulheres com suas jaquetas de couro e óculos escuros na cabeça, homens com tatuagens amostras, piercings, barbas exuberante.

Andei com a moto lentamente sobre eles estacionando no pequeno acostamento de motos onde o povo estava reunido conversando. O lado de dentro do bar devia estar quente de mais por isso muita gente estava do lado de fora.
Ao passar com a moto fui fitado por diversos olhares que queriam matar suas curiosidades, vi Rick antes de parar a moto, eu o reconheço, ele pode estar maior, mais forte, tatuado, eu o reconheceria sempre, seus cabelos escuros, a pele morena e aqueles olhos cinzentos em qualquer lugar.

Coloquei o capacete da moto no guidom, e quando me virei senti um impacto, e todos soltaram um "OOOH" em uníssono enquanto eu era atingido por um soco.

— Filho da puta! — disse Rick me dando outro soco — Filho da puta, o que ta fazendo aqui?!

Ele veio me dar outro, mas em seguida a voz do Sr. Ju interrompeu a ação.

— Já chega Ricardo! — disse o velho — Segurem ele!

Homens o seguraram enquanto eu tentava não ficar atordoado, sentindo minha boca de encher de saliva sangrenta, cuspo no chão, somos o centro das atenções.

— Que porra é essa que ta acont.... — Sr. Ju se depara comigo, olhou-me nos olhos e disse com um sorriso — Não.... Daniel Liz? Hahaha não pode ser real!

— Filho da puta! — gritou Rick — vou te estourar seu merda.

— Alguem da um calmante para esse cara emocionado — Falei apontando e provocando Rick que tentou avançar em mim mas foi em pedido pelos homens.

— Levem o Rick para dentro... — disse Sr. Ju.

Em seguida ele me abraçou com um sorriso alegre e um aperto forte.

— Caralho moleque você cresceu, olha só? Está grande forte, um bom partido, e essas tatuagens? Feias para caralho fez sozinho? — Ele brincou rindo — Estão feias igual sua cara...

— Deixa disso — Falei rindo.

— Você e o Rick devem ter tomado fermento...

— Muito arroz com feijão Ju...

Ele me tocou o rosto e apertou a minha bochecha nada flácida.

— Quanto tempo em rapaz, quinze anos...

— Pois é e uma recepção calorosa dessas, se soubesse tinha vindo antes — falei cuspindo mais sangue.

— Sabe como Rick é, emocionado e brigão, isso não muda nele.

— Notável.

— Ele está pior depois da morte de Maíra.

— Maíra? A Ma? A minha Maíra?

— Sua não... Do Rick, eles tem uma filha.

Eu Tossi um riso.

— Ele casou com a minha grade paixão da infância, fez um filho nela e ainda me recebe a socos.

— Pois é...

— O que você disse? Morte, como assim...?

— É... Ano passado seis meses depois da filha deles nascer uns capangas do Jorjão invadiram o moto clube, o estrago foi grande, Maíra foi baleada.

— Merda ju, coitada.

— Ficamos muito abalados...

— Jorjão não era do moto clube?  Não é aquele gordão lá? — pergunto

— Matamos o filho da puta, ele fez isso porque ela pegou ele desviando nossa maconha, filho da puta.

— Caralho... Que loucura.

— É, Rick foi preso também por conta das mortes, foi uma loucura... Mas foi solto por falta de provas — Sr. Ju piscou.

A piscada significava que eles compraram a policia, então aquela frase era falsa, ele não havia sido solto por "falta de provas", ou algo do tipo, certamente houve algum cambalacho, algum acordo.
Ele tocou em meu lembro.

— Acho que não foi um bom momento para retornar não é?

— Está brincando? — disse o velho rindo — Rick precisa de um amigo de volta. Eu entendo que tenha fugido por conta da morte do seu pai, afinal você era muito novo...

— É — Falei meio triste com a situação.

Houve olhares de confortos entre nós, em seguida ele disse:

— Vem vamos tomar uma e botar o papo em dia....

Amores & MotoresOnde histórias criam vida. Descubra agora