Empurrei ele com força apos sentir seus lábios encostarem nos meus. Ele bateu contra a parede do corredor, e ali diante dos meus olhos eu vi algo que explicava a razão dele estar estupefato, vi algo que só sua bebedeira não era capaz de mostrar mas imbuia de maneira clara o que, eu, minutos depois me recusaria ver, pois há horas atrás eu já me recusava a enxergar.
Rick não estava puto por minha volta, nem pelo meu sumiço, estava puto porque ficou 15 anos vivendo uma vida que não era sua, vivendo uma fase que já havia descoberto talvez em nossas adolescências. Apesar dos hábitos heteronormativo eu sempre vi em Rick uma femilidade sutil, como na maneira como qual afinava a voz ao dar seus piti's, mesmo ela sendo grossa o suficiente para assustar um.
Talvez fosse tão claro e simplório de mais entender e saber que ele é gay, que ele era um cara vivendo a vida de um outro, que logo seria presidente de um clube, e que talvez comandar um frota de homens com afazeres periculosos fosse o ato que ele também não queria, mas naquele olhar eu vi amor, por diversas razões: pelo clube, pelas pessoas do clube e o mais bizarro: por mim.Seus olhos marejaram fracos, e ele abaixou a guarda também se baixando encostado sobre a parede, enquanto seu rosto todo ficava rosado, vermelho, com choro embutido nos poros, ele rubricou, enquanto eu apenas o olhava feito um bicho que eu não me importava.
Dois estranhos, ele e eu, eu um corredor estreito amadeirado, ele deu primeiro um soco no chão, não muito forte, já estava sentado nele, com as pernas dobradas, a outra mao lhe tapava a cara, e limpava as lagrima.— Olha cara eu entendo — falei baixinho
— Vai se foder Dan — ele disse
Meu coração agitava-se em total desespero como se um tambor estivesse sendo tocado. Eu sentia nervosismo e ódio pela confusão.
— Foram quinze anos irmão — sussurrou Rick — Você tem ideia? Quinze anos...
— Eu sinto muito — resmunguei quase sem voz
— Sente muito? — ele me olhou com olhos de ódio, avermelhados do choro e sobrancelhas em V — Sente muito? — ele tossiu um riso irônico — Você não faz ideia das porras e das merdas que eu passei, seu cuzão!
— E eu tenho culpa?
— Se você tivesse aqui! — ele começou a voiceferar — se você estivesse nessa merda comigo, eu jamais teria passado por tanta merda, eu jamais teria me tornado o que sou hoje...
Houve uma longa pausa silenciosa onde só os soluços dele fazia som.
— Eu engravidei Maíra pensando em você, eu casei com ela pensando em você, por saudade de você, e sabe o mais bizarro? — ele limpou os olhos — foi entender que ela também estava comigo por sua causa, por sentir tua falta. Eu demorei a entender que ela sentia tanto sua falta quanto eu, e quando ela morreu... Caralho quando ela morreu, eu a amava tanto, ela era a única coisa que me restou a seu respeito, ela e o clube, porque você amava essa merda.
Ele limpou os olhos chorosos e um sentimento de culpa comessava a me irradiar.
— Ela não morreu por minha causa, mas ela morreu porque não queria deixar o clube que o "Dan-Dan tanto amava" de todas as vezes que eu falei a ela que podíamos largar essa merda toda... Mas não... Tinha que ter o Dan no meio, no fundo eu também não queria deixar o clube por que eu pensava em você e cara... Eu jurava que você havia morrido.
Eu senti meus olhos fraquejarem diante a cena, as vezes ha visões que nunca somos capazes de imaginar e eu nunca iria imaginar que essa era a visão do Rick.
Rick se levantou limpando o rosto e me olhando feio.— Quer saber? Vai se foder...
— Rick, espera... Eu... Eu... — ele saiu as pressas da minha vista.
Dessa vez não tive coragem de o seguir, não sabia se devia ou o que devia fazer, embora ele estivesse bêbado eu sabia que nada daquilo era mentira ou invenção de sua cabeça.
Sequei minhas lagrimas antes que as mesmas escorrerem.
Quando olhei ao fim do corredor Savana estava lá parada, será que ela tinha escutado algo? Creio que não estávamos falando muito baixo e ela não estava lá antes.
Ela se aproximou com um sorriso forçado sem mostrar os dentes.— Merda, você ouviu aquilo? — falei
— Ouvir? Não, não o que houve? O que ele disse?
— Não, só... Eu não sabia que ele... — dou uma pausa
— Que ele?
Pensei em dizer: era gay, ou tinha sentimentos por mim, mas não sei se devia falar algo tao intimo.
— Que ele tinha ficado tão afetado com minha ausência, tipo cara que drama... — reclamei não dizendo o que eu queria.
— Não é drama Dan, as pessoas tem dores, e bem... ele era muito ligado a você, você entende?
— Então por que ele não me agradece por ter voltado logo — reclamei.
— Ele achou que você tinha morrido Daniel, talvez você também não tenha noção como é sentir perder alguém e saber que no final das contas esse alguém nunca tenha se perdido. — Savana falou de modo firme, parecia ter se zangado.
— É... — resmunguei — sei lá também senti falta dele, acha que não pensei que talvez um de vocês estivesse em um caixão.
— Mas isso fez alguma diferença para você? Isso fez você mudar seus sonhos, pensamentos? Você pensou em colocar, por exemplo, o nome de seus filhos com o nome de um de nós? Você sei lá... chorou quando se deu conta de que alguém que você amava sumiu sem ao menos dizer adeus? Você fez isso com todo mundo, e todos aqui podem fingir estar felizes com sua volta, mas sabe qual o sentimento de verdade? É de indignação.
— Então talvez eu não seja tão bem vindo nessa porra — falei dando as costas saindo e já tirando o colete.
— Vê se não some...— ela falou e deu uma pausa enquanto eu também dei uma leve parada de andar — De novo.
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Amores & Motores
RomanceDepois de anos Daniel retorna para a velha cidade em que cresceu e reencontra seu velho amigo no antigo moto clube totalmente diferente do que era no passado há quinze anos atrás. Daniel e Ricardo começam uma disputa de implicância, ambos cresceram...