Jantar

1.4K 192 3
                                    

Parei um pouco antes de bater a porta. Arrumei a mochila nas costas, agora eu não podia voltar atrás, certamente ja me esperavam do lado de dentro, ja haviam espiado pela janela quando o som do motor da moto ecoou.
Que porra eu estava fazendo da minha vida?

Bato na porta, e no mesmo segundo ouço a tranca da mesma e Rick abre ela.

— Ah, minha mãe falou que era você... Ela falou que vai ficar aqui né cara... Mano fica de boa a casa é sua — ele deu uma pausa enquanto eu o encarava confuso — Por isso ela ta fazendo o jantar hoje... Espertinha ela quase nunca faz o jantar.

Fiquei fulo da vida. Como pode? Ele finge bem que nada aconteceu, talvez eu devesse fazer o mesmo: fingir.
Cumprimentei ele com um sorriso e um aperto de mão e fui entrando.
Eu estava me sentindo tão confuso. Não sei se era certo de eu estar ali.

Tatá me recebeu aos beijos.
Sr. Ju estava na sala vidrado na televisão.
Todos os 3 vestindo o colete do clube, eles pareciam acordar com aquela merda colada no corpo.

— Coloque a mochila no quarto. Estou terminando a janta, só esperar um pouquinho — disse ela.

Escutei Ju e Rick gritarem palavrões. Certamente estavam vendo jogo. E estavam, foquei minha audição na televisão e escutei apitos, gritos e narraçoes.
Sai do quarto e fui até a sala. A casa estava cheirando a fritura, algo que vinha da cozinha.

— Senta ai assiste o jogo com a gente — disse Ju

— Ãh... — eu não gostava muito de jogo mas sentei confuso olhando para a televisão — Sr. Ju eu queria me desculpar por...

— Filho da puta, juiz de merda! — falou Sr. Ju vidrado me interrompendo — Ta tudo bem filho, esquece o que aconteceu ontem.

Sr. Ju não tirava os olhos da televisão, ja Rick ele me olhava e quando eu olhava para ele voltava o olhar para a televisão, eu conseguia ver sua cabeça virando e seus olhos me fitado, de soslaio eu tinha bons reflexos oculares.
Ele me olhava por alguns segundinhos e focava no jogo.
Em dado momento nos encaramos, não foi uma troca de olhares foi uma encarada brava e repulsiva.
Filho da puta! O xinguei mentalmente de modo com que ele também me xingasse.

Olhei para a televisão o jogo ja estava nos minutos finais. Nada de gol. Sr. Ju não desistiu assistiu até o último minuto. E segundos após o término do jogo Tatá apareceu na porta da sala, no batente com as mãos na cintura.

— Venham o jantar está na mesa.

Sr. Ju foi na frente, eu e Rick atrás, ele me olhou de cima a baixo. Caralho como ele me deixava desconfortável de verdade agora. Sem excitações apenas um incômodo.
Sentamos na mesa como se fossemos uma familia, era uma mesa pequena e redonda que mantinha todos de certo modo perto.

— Fiz seu prato... Risoto e estrogonofe — disse Tatá se vangloriando — Bife a milanesa do Ricardo e a sobrimesa favorita do Julian.

Eles negaram com a cebeça como se ela não precisasse ter feito tudo aquilo.

— Você é a melhor mulher do mundo!

Manu a pequena filha de Rick estava na cadeirinha conosco na mesa, e comia papinha ja de forma independente, mesmo com uma certa dificuldade motora e se sujando toda. Eu a olhei.

— Ela é igual Rick odeia ajuda, ama independência — ela deu um riso. — Vamos nos servir

Rick limpou a sujeira da pequena e acaricia sua cabeça de cabelos ralos cor mel.

Durante o jantar eu contei um pouco do que vivi no tempo em que estava sumido nada muito relevante. Contei por cima que fui morara com a minha tia mas não falei das dificuldades que enfrentei, parece ser triste falar de problemas como tal e não gosto que me vejam com pena. Sr. Ju fez uma pergunta:

— Fizeram as pazes? — perguntou para mim e Rick.

— Uhum — resmungou Rick enquanto dentava seu bife.

— Acho que estamos de boa — falo dando um sorrisinho.

— Que bom. Está trabalhando Dan?

— Não Sr. Ju. Meu objetivo nem era ficar aqui na cidade, eu... Só... Nem sei porquê voltei na verdade.

— Pode trabalhar no Moto clube querido. — disse Tatá

— Eu disse que não vou voltar!

— Temporariamente filho. — disse Sr. Ju. — Pense a respeito. Licença.

Ju se levantou saindo da mesa terminando o seu jantar. Tatá também retirando meu prato vazio e os demais

— Tome um banho querido. Descanse, arrumei o quartinho para você já.

Eu já havia notado o quarto arrumado.

Amores & MotoresOnde histórias criam vida. Descubra agora