Sr. Ju ficou parado me encarando ao meu lado, com a boca entreaberta como se fosse falar algo, mas apenas negou com a cabeça, como se ficasse preocupado, ele era bem rechunchudo com uma barba grisalha e tatoos antigas e desbotadas, usava um pequeno óculos de leitura as vezes pendurado no pescoço ou na ponta do nariz.
Eu encarei.
— Tata, pediu para Dan fazer uma entrega?
— É a das nove, não tenho ninguém para ir. As meninas não podem fazer esse tipo de serviço.
— Merda, sabe que ele não pode fazer isso sem um colete do clube.
Sr. Ju levantou da bancada.
— Colete?
— É a regra, não pode fazer entrega sem colete.
Sr. Ju foi até uma portinha que antes não existia no corredor de acesso a sala de reuniões. A sede do clube estava muito mudada, estava maior, tinha um salão, um acostamento, bacana eu tinha curiosidade de explorar cada canto do lugar para saber o que havia de tão novo, mas quanto menos eu soubesse melhor.
Ju saiu com um colete do moto clube couro preto surrado, ele bateu no mesmo chacoalhando e agitando o po.
Aquele colete era antigo a logo do mesmo era a logo antiga igual o colete do Sr. Ju. Feito em um bordado perfeito, as atuais também tinha a logo nas costas mas a logo da mesmas, uma caveira em chamas na moto era um pouco menor, e também tinha cores menos foscas. Ele me estendeu a jaqueta.Na parte da frente onde coloca-se o etiqueta pequena com o nome só havia uma marca de que a etiqueta com o nome havia sido arrancada. Eu reconhecia aquela jaqueta, aquele zíper improvisado ao invés do original.
— É um pouco velha, mas guardei de lembranças. Era a de seu pai.
Apenas balanceia a cabeça.
— Mesmo que você não volte ao clube sempre quis que isso ficasse com você. É só um presente sei que não quer estar de volta.
Respirei fundo e peguei o colete, eu podia recusar. Mas aquela era a única lembrança de meu pai depois de quinze anos de sua morte. A única recordação, senti que eu devia ter voltado antes, tem tantas recordações de meu pai que eu queria de volta, uma delas estava em minhas maos.
Peguei com força nas mãos e olhei ela com apreço.
Senti meu nariz começar a queimar, como se eu fosse chorar e talvez eu fosse— Olha eu ia lhe entregar ontem, mesmo você não querendo fazer parte do nosso clube eu iria entregar de qualquer forma. Use, ou guarde, é seu.
— Obrigado Sr. Ju.
Ju passou por mim e eu entrei na outra porta, no banheiro. Coloquei o colete em cima do balcão da pia.
Banheiro masculino as vezes mesmo limpo fede, urg!
Me apoiei sobre a pia me olhando no espelho, em seguida coloquei o colete por cima da camisa azul escura.
Me olhei novamente.Acho que falta uma barba maior para completar o visual, não sei por que aparei a mesma.
Meus cabelos estão um tanto bagunçados, o velho castanho claro feito mel.
Eu sou meio rustico, combino com esse bar, com essa jaqueta, tenho a região do nariz quase sempre avermelhada, minha barba é ainda mais escura que meus cabelos um tanto desbotados, exceto pelos fios grisalhos que também me começava a surgir cedo de mais.
Meus olhos é semelhante aos verdes claros do meu pais, exceto por ser um verde escuro, talvez tenha puxado um pouco minha mãe, tenho as orelhas pequenas e um rosto grande, forte, lábios finos, mas bonitos.
Respiro fundo me olhando com aquele colete.
Estou parecendo ele.
Será que ele estaria orgulhoso.
Nem me vejo, vejo o meu pai com a barba cheia e grisalha.Respiro fundo e ne retiro do banheiro. Do lado de fora Savana está sentada apoiando uma das mãos sob o rosto e o cotovelo na bancada. Ela me olha surpresa, em seguida Tatá me olha também com o mesmo olhar.
— Santo deus igualzinho ao antigo Tom... — resmunga Tatá
— Pensei que nunca o veria assim — diz Savana.
— Sem empolgação só vou lhe fazer um favor Tatá.
— Eu ainda vou te convencer a ficar — disse ela
Dai me espiou da pequena cozinha atrás do balcão, talvez estivesse curiosa com os comentários.
Sr. Ju saiu de uma outra porta ao outro lado, com dois recrutas, nas jaquetas dos recrutas não havia a logo, apenas o nome do moto clube e dos próprios recrutas. Os recrutas não carregavam o símbolo do clube ate pertencerem a ele de verdade.
Sr. Ju segurava uma caixa media de papelão, se aproximou e me entregou.— Basta você entregar aos nossos parceiros do leste. Eles estão esperando na praça Sete da Alvorada Pentecostal. Sabe onde fica?
— Só se a praça saiu andando e está outro local caso contrario sei sim. — briquei e ele riu.
— Só entregar ao Robin ele vai te dar dois paus... Conta a grana e volta.
Sai do bar, do lado de fora uma lamborghini preta estava parada no meio do patio e uma mulher empertigada estava tirando uma criança do banco de trás, quando ela se virou se deparou comigo a encarando.
Eu a conhecia eu acho.— Dan-Dan?
Além da Savana, Maíra me chamava de Dan-Dan, essa coroa era a mãe de Maíra e eu a reconhecia.
— Creuza? — disse e ela deu un sorriso largo e extenso balançando os brincos.
— Querido — ela se aproximou acariciando o meu rosto
Meu deus como todos haviam envelhecido rápido por aqui, Sr. Ju, Tatá e agora Creuza.
Eles eram a velha guarda do local.
Ela se aproximou tocando meu ombro.— Você está um gato olha só, mudado, grande, você sumiu pensei que estava...
— Morto. — completei e ela riu.
— Oh, como Maíra sentiu sua falta, sentiu tanto, chorou, essa menina entro em depressão ficou mal, meu deus a dor do primeiro amor...
— Sinto muito pelo o que aconteceu com ela.
Ela deu um sorriso doloroso.
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Amores & Motores
RomanceDepois de anos Daniel retorna para a velha cidade em que cresceu e reencontra seu velho amigo no antigo moto clube totalmente diferente do que era no passado há quinze anos atrás. Daniel e Ricardo começam uma disputa de implicância, ambos cresceram...