Afeto

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Tirei minha mão debaixo da sua mão de modo sutil. Ainda estava um silêncio não sabiamos o que dizer.

— Então... Como foi esse tempo que você esteve longe? Arrumou alguém?

— Não... Na verdade morei com uma "namorada" mas acho que era algo como companheirismo... — fiz uma longa pausa —  Você e Daí hen?

Ergui a sobranselha o olhando.

— Acho que é companheirismo também. Sabe eu preciso de ajuda por conta da minha filha. É complicado.

Ficou um breve silêncio.

— Mas acha que ela não gosta de ti?

— Cara nem fodo ela.

— Então de fato ela deva gostar...

— Sei lá.

— Como ficar com alguém que não faz sexo? Deve ser meio estranho. Acho que você esta usando ela, ela deve ser apaixonada...

Ele tossir um riso.

— Acho que terminamos sabe e ela não foi embora ainda por gostar do clube e ser útil.

— Deveria mandar ela ir ou ter uma conversa franca, não pode segurar os outros Rick.

— Ja fiz isso...

Acho que eu estava sendo invasivo.
Me levantei. E ele se levantou pegando o rifle, atirou em todos os CDs os destruindo. Rapidamente.

— Vamos depois coloco outros... — disse ele apoiando o rifle nos ombros.

— Uau... Você continua o mesmo exibido de sempre.

Ele tossiu um riso.
Retornamos ao forte. A pequena casa, ele se lançou na cama olhando para o teto após jogar o rifle no canto. E eu peguei uma revista porno velha do compartimento secreto e me sentei folheando a mesma.
Como eu podia achar graça nessas imagens? Eram só fotos de mulheres nuas, todas abertas, insinuosas, amadoras de mais ou perfeitas de mais para ser de verdade. Nada tão excitante quanto antes.
Notei por cima da revista pelo desfoque do meu globo ocular que ele me assistia, me observava deitado na cama. Olhei para ele, e fizemos uma breve troca de olhares.

— O que foi? — pergunto voltando os olhos para revista sabendo que ele ainda me encarava.

— Sintia falta da sua companhia silenciosa. —  o olhei e ele me olhava daquele jeito... Como quando estamos apaixonados admirando algo.

Isso era constrangedor. Que estranho meu amigo apaixonado por mim, talvez eu devesse ir realmente embora e não voltar nunca mais.

— É estranho agora... — resmungo sem tirar os olhos da revista.

Eu não lia nada, nem observava nada, só estava envergonhado.

— Não farei nada que não queira.

— Seus olhares são estranhos. Seu jeito. Sei lá...

— Isso é mentira — ele respondeu e tossiu um riso —  Você quem parece com medo de mim, depois daquela conversa.

Será? Me pergunto

— Sempre te vi como te vejo agora, sempre te acariciei como lá fora... Sempre fomos mais proximos do que você imagina, quando você estava por perto é claro. — ele acrescentou.

Sim ele não estava errado. As vezes deixavamos um o outro fazer afagos, carinhos, nos aninhavamos. Cara como é estranho pensar nisso agora: Fazíamos carinho no rosto um do outro, éramos muito ligados. Mas esse atos so aconteciam quando estávamos só nós a sós.
Na frente dos outros as vezes tinhamos habitos mais jocoso, colocavamos o pé no colo um do outro quando sentávamos em bancos cumpridos ou sofás. Empurravamos um o outro de leve.

Homens não sabem trocar carinho em publico, mas gostam de tocar outros homens, por isso estão sempre se batendo, se trombando, até mesmo pegando por brincadeira na parte íntima dos outros. Não sabem trocar afeto, nem afago, bagunçam os cabelos rapidamente durante o consolo, são fracos de afeto. Acham que afetos devem ser trocados somente com mulheres, mas falham por achar e as vezes tratar meninas feito homens, sem toca-las direito, acaricia-las de verdade, falham pela falta de afeto.
Talvez eu tenha perdido isso, o afeto que eu tinha com ele, minha irmandade pessoal, meu carinho cuidadoso, minha preocupação em cuidar dele como um irmão mais novo, mesmo ele sendo o mais velho.

Ele estava certo. Ele sempre foi esse cara carinhoso sem se preocupar com o fato de sermos dois homens, como outros homens que acham que ser carinhoso com outros pode pegar mal. Nossos pais achavam isso bonito. Eu as vezes escutava eles falarem: "é lindo como a amizade deles são tão amorosa".
Ao invés de nos fazer evitarmos um o outros eles nos ensinaram a pensar um no outro, pois era assim no moto clube, estavamos sempre pensando no coletivo.

— Deita aqui. — ele sugeriu

Pensei que eu não queria mais parecer um estranho por ele ser gay, sempre fomos próximos. Me recusar a deitar era afirmar que eu estava sendo intolerante com ele, se eu fosse adolecente ja teria pulado em cima dele com revista e tudo zoando e certamente folheariamos junto enquanto zombavamos das fotos.
Sim essa era a parte divertida, zombar das fotos para não ficarmos excitados.
Dei um leve riso.

Coloco a revista de lado e me jogo de bruços naquela cama improvisada, que era nada mais que um colchão fofo suspenso e forrado.

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