Amores & Motores

Reflexão.

Coloco as balas na roleta da arma, giro a roleta, bato na mesma encaixo na arma.
Puxo a roleta.
Tiro as balas.
Coloco as balas na roleta da arma, giro a roleta, bato na mesma, encaixo na arma.
Puxo a roleta
Tiro as balas e coloco de volta.
Giro a roleta.
Penso... Estou sem sono.

Essa pensão é uma porcaria, cheira a mofo e a cimento fresco, há pessoas esquisitas, uma prostituta no quarto ao lado, um velho babão no outro, um moço torto no quarto da frente, uma adolescente rebelde com cabelos coloridos e piercings no quarto ao lado do homem torto.
Eu os vi quando cheguei.
Eram estranhos, e eu também parecia um.
Penso em Rick, ele parecia muito abalado com minha presença e eu entendia isso, se fosse ele quem me abandonasse eu piraria também.
Agora estou de volta, devia agradecer.
Senti saudades desse lugar.

Penso na casa do meu pai, passei por ela quando deixei o clube. Não é a casa de meu pai, outra familia vive lá, está reformada, bonita, mas com a mesma estrutura, paredes de tijolos e lisas, assoalho de madeira envernizada, jardim, agora tem um jardim.
Eu quero aquela casa de volta.
Mas preciso levantar uma grana alta, não me venderiam barato a única alternativa para isso é o moto clube.
Mas não quero fazer parte daquela merda de clube.

Sinto falta da adolescência, era gostoso, o tempo o clima as brincadeiras. Rick, Maíra e eu matavamos aula para fumar maconha escondido nos parques.
Maira e eu tínhamos um namorico.
Era bom.
Não me importo que ela e Rick tenham ficado juntos depois que fui embora, era previsível que isso acontecesse, na verdade fico feliz, ninguém cuidaria melhor dela do que Rick.
Ou não, afinal ele matou ela com o moto clube, assim como o moto clube matou meu pai.
Na verdade não foi culpa dele, mas se ele realmente se preocupasse com Maíra teria a tirado de lá, saido daquela vida de merda.
Talvez eu possa tirar Rick de lá, destruir o clube.
Giro a roleta da arma.
É una bela calibre 38, cromada, prata, cano longo.
Tenho uma pista a respeito da morte do meu pai, ele sempre dizia "se algo acontecer comigo, procure sua tia do Monte Delta". E foi o que fiz, ela tinha uma carta de meu pai, entregou a mim quando fiz vinte anos, era uma carta com detalhes e nomes de um homem que o ameaçava.

Vou honrar meu pai, e depois vou sumir, como fiz. Mas dessa vez sem parecer um cão covarde.

Preciso dormir.
Parar de pensar.
Apenas dormir.