Confuso

1.5K 183 8
                                    

Me retirei do quarto pé ante pé, não sei por que mas eu parecia um rato sorrateiro saindo do seu esconderijo.
Quando me virei dei um pulo, senhora Tatá estava atrás de mim, ela não queria me assustar, segurava a pequena Manu no colo e me olhou risonha.

— Não quis assusta-lo me perdoe.

— Porra Thalita! —  reclamei no mesmo tempo que ela falava — Desculpa ta tudo bem... Eu... Eu to indo deixei as roupas emprestadas em cima da cama.

Falei rapidamente me virando. Eu tinha de sair dali.

— Daniel... — ela chamou me fazendo parar. — Onde ten ficado, ou dormido?

Me virei.
Eu podia ter pensado e inventando uma historia conhecendo Tatá do jeito que eu conhecia, solidaria como sempre e altruísta. Mas por alguma razão eu só quis dar a resposta sem pensar muito.

— Pensão.

Porra não devia ter falando.

— Esta pagando um lugar para descansar sabendo que tem a gente? E seu quarto continua aqui do mesmo jeito... Tá não nego: foi um quarto de hóspede durante um bom tempo, mas agora que você está aqui pode ficar nele...

— Tatá eu agradeço mas...

Mas... Que desculpa eu daria? Qualquer uma não adiantaria.

— Sei que está confuso em relação a tudo, sente falta das coisas... Mas você não sente falta da sua família substituta?

Merda... Isso é chantagem emocional.

— Além do mais notei que voce e Rick fizeram as pazes e o quarto dele continua aqui no mesmo corredor ao ladinho do seu querido. Como quando eram pequenos.

Puta que pariu. É isso! É ele quem eu devo evitar.
Em seguida a porta do banheiro que ficava do lado esquerdo do corredor onde estavamos trilhando falas se abriu e Rick saiu de la de dentro, meio desligado.

— Não é querido?

— O que mãe? Eu tava só dando uma mijada não sujei o chão...

— Não seja tolo Rick, estava dizendo para o Dan que ele pode ficar, o que acha?

Ele veio em minha direção tocou no meu ombro com um tapinha e um aperto. Como se me cumprimentasse.

— Vai ser muito bem vindo bro.

Ele disse e passou reto por mim. Como se nada houvesse acontecido. Como se ele não estivesse incomodado.
A proposito será que ele estava incomodado?
Acho que não tão quanto eu, qual era o meu problema? Rick pegou as chaves do chaveiro é se retirou da casa enquanto eu assistia a cena incrédulo.

Tatá me tocou.

— O que acha querido?

— Esta bem. — falo confuso sem saber no que estávamos falando.

— Oh ótimo então pode trazer suas coisas!

O que? Não, não foi o que eu quis dizer Tatá.

— Vou deixar tudo ainda mais arrumado e preparar um bom jantar eu ainda me lembro seu prato favorito. Vai ser legal! Tomaremos umas e você contará tudo! Tudinho pois sou curiosa, só não demonstro mas sou — ela falou em disparado antes de eu falar o que eu pensava.
Eu esqueci de negar.

Fechava o zíper da minha última mochila. O que eu havia além de roupas e itens de higiene básica. Pensava se eu havia coletado tudo. Meus utensílios, minhas tralhas, eu estava sentado na cama sentindo aquele cheiro húmido de mofo e cimento fresco com terra, era a isso que a pensão cheirava.
O dia havia voado e tudo o que fiz hoje foi dar voltas de moto, falar com algumas pessoas, reorganizar meus pensamentos pois estavam muito bagunçados.
Ja era sete da noite Tatá me telefonou a pouco tempo dizendo estar me esperando e que inclusive fecharam o bar mais cedo. Eu não pude mais negar, eu estava com isso em mente: negar no último minuto e não comparecer. Mas de eu fizesse isso, o que pensariam?
Fui embora de novo e abandonei todos?
Não me importo, que sou um ingrato?
Não, não. Eu estava tentando limpar minha imagem de faltante, de ingratidão. Eu queria ter tudo de volta, mas agora eu não entendia mais o que eu faria?
Eu resolveria as tretas do passado do meu pai?
Ou ficaria a par das coisas do clube e voltava a endeusar o clube Nova Era?
Ou Rick? Que eu estava preso em uma tensão sentimental, pois como eu o beijei? Onde eu estava com a cabeça? Que porra foi aquela?
Quanto mais eu pensar, mais vou ficar confuso e me perder.
Talvez eu possa fazer um pouco dos dois, ficar a par das coisas do clube e resolver os perrengues do meu pai.

Amores & MotoresOnde histórias criam vida. Descubra agora