Todos os títulos são canções.
Samba a dois - Los Hermanos..
CLARA
Namoro é sempre um desafio. Estar com Ester durante esses meses é uma mistura de prazer e sofrimento. O clássico relacionamento agridoce. Quando estamos juntas o sexo é incrível, parece que todas as coisas se encaixam e o mundo pausa para que possamos aproveitar todos os segundos de prazer.
Em contrapartida, o convívio com Fernanda - ex de Ester, faz com que nossa relação seja lotada de turbulências. Chegamos em casa e lá estava ela, pronta para o churrasco de dia do trabalho (uma combinação clássica, não é mesmo?):
- Porra, vocês demoram demais! Esse tempo todo para comprar uma carne?
Respira, Clara, finge demência e segue o jogo.
- Nanda, estava super cheio, pegamos uma fila absurda no supermercado para comprar as cervejas também.
Eu não faço IDEIA de onde Ester tira tanta paz para respondê-la. Seguimos para o local do evento, lá tinham algumas amigas em comum e amigas das amigas também. Foi ali que a vi pela primeira vez.
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RENATA
Feriado. Dia de maresia, de descansar para continuar a rotina que nos esmaga o tempo inteiro. Preparei mentalmente a programação do dia: pijama, Netflix, pipoca e brigadeiro. Aquela passeada no aplicativo de pedir comida me poupariam o trabalho de preparar o almoço.
Celular tocando: Laís. Ignorei solenemente a ligação, a vontade de atender alguém é abaixo de zero. Outra vez. Ignorei novamente.
Mensagem no Whatsapp:
Laís: eu sei que você tá rejeitando minhas ligações, ATENDA!
Eu: não quero. Não vou pra lugar nenhum hoje, me esquece.
Laís: POR FAVOR! É um churrasco, jogo rápido. Se você não gostar, volta pra casa!
Eu: não, esquece. Já tô programada e planejada pro meu dia de maresia com as gatas.
Laís: PUTA MERDA, larga essas gatas. Semana passada estava sem saco nenhum pra ir com você no evento da OAB e fui obrigada. Levante e se arrume. Chego aí em 20 minutos. Vamos no seu carro, porque se você quiser volta pra casa. Bjs.
Ter amigas de décadas é isso, não tive espaço para questionar. Levantei preguiçosamente do sofá, fui tomar um banho. No caminho do sabonete, resolvi sentir meu corpo mais uma vez. Rotina desenvolvida meticulosamente durante anos.
Deixei o sabonete escorregar pelos meus seios, desci pela barriga até chegar no meu sexo. O poder de uma depilação é algo maravilhoso. "Até eu me desejaria", pensei. Aproveitando o ensejo, deixei o sabonete e lado e comecei um toque leve e ritmado, sentindo meu clitóris enrijecer gradualmente. "Ainda dizem que existe alguma coisa melhor que gozar, impossível". Mantive o ritmo por um tempo, me controlando para não acelerar e manter aquela sensação de prazer o máximo de tempo possível. Acelerei e o orgasmo veio como esperado: proporcionando o relaxamento que eu precisava antes de exercer a simpatia num churrasco que não conhecia quase ninguém. Coloquei um shorts e uma camiseta, o bom e velho batom vermelho e estava pronta. É feriado, pedir mais que isso é exploração.
Pouco depois, Laís chegou e fomos para o bendito evento. Apresenta uma, apresenta outra, até que chegou uma menina (considerando que tenho 45 anos, uma menina) com uma blusa preta contendo uma citação ousada: minha pele é linguagem e a leitura é toda sua.
- Ester chegou com a namorada, vamos lá que vou apresentar vocês.
Ah, então a menina da blusa ousada era namorada de Ester. Como já a conhecia, cumprimentei e fui apresentada à Clara. Ela ficou conversando com Laís, Ester se afastou, e pouco depois ficamos só nós duas. Continuamos a conversar e notei quão interessante aquela moça se mostrava: médica, terminando um mestrado, 25 anos. O mal do ariano é gostar do desafio e do impossível, e não conseguir guardar tudo que se pensa.
- Se eu fosse sua mulher, você não usaria essa blusa. - falei brincando, num tom de provocação.
Sem pestanejar, ela me respondeu:
- É, mas eu não sou sua mulher, e, se fosse, usaria sim.
Me instigou, a tal da Clara. Continuamos uma conversa descontraída, onde descobrimos em comum a paixão pela fotografia. Quem diria que o churrasco dos desconhecidos ficaria tão interessante? Foi uma tarde leve e cheia de gargalhadas, numa energia tão boa que me surpreendi, o tempo passou sem que pudéssemos notar. Já era tarde quando a moça anunciou que precisava ir embora:
- Gente, pra mim já deu. Amanhã tenho experimento cedo. Preciso estar disposta, senão vai dar errado - disse, já levantando.
Alguns protestos alegando que estava cedo, mas ela já estava decidida. Ester ficaria um pouco mais. Ela começou a se despedir de todos, até chegar em mim:
- Renata, foi um prazer te conhecer! Espero que apareça mais vezes nos nossos encontros!
Gaiata que sou, não resisti:
- Aqui meu cartão, se precisar de uma advogada, só ligar!
A moça que o corpo é linguagem pegou o cartão, guardou cuidadosamente na carteira e saiu.
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Minha pele é linguagem
RomanceClara, 25 anos, médica e terminando um mestrado, num mundo completamente diferente do dela por causa de um relacionamento. Renata, 45 anos, advogada. Mora com as duas gatas, com uma bagagem de relações (frustradas). Elas se encontram por acaso e a v...