Tudo sobre você

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Todos os títulos são canções.
       Tudo sobre você - Zélia Duncan

CLARA

Saí decidida do quarto parecendo dona de toda segurança do mundo, mas a verdade é que enquanto Renata explodia de prazer nos meus dedos, meu coração tamborilava acelerado com a adrenalina e a tensão caso alguém abrisse a porta. Não consegui resistir a advogada. O cheiro, a pele, a boca, os beijos... tudo nela me atraía. Entrei na UTI ainda devaneando; fui ao banheiro lavar as mãos e fazer uma breve higiene, a excitação era tamanha que precisei trocar a calcinha. Antes de sair, deixei uma mensagem para Renata:

Eu: se precisar de suporte de vida, me chama! Rs.

A mensagem quase que imediatamente ficou azul e a resposta dela veio em poucos segundos:

Renata: vem, que eu fiquei louca para sentir você. Volta, senão morro. 😏

Eu: se você visse o estado que cheguei aqui na UTI... mas já recuperei minimamente a dignidade para atender.

Renata: bom plantão, linda. Até amanhã.

Eu: até, meu bem. Aproveita e descansa. 😘

O plantão seguiu tranquilo e para a minha sorte o colega havia chegado antes das 7h. Quando estava saindo para pegar meu carro que ficava no estacionamento em frente ao hospital, não pude acreditar no que meus olhos estavam vendo: Ester, em pé com um buquê de flores. Assim que me viu, veio em minha direção.

- Amor, vamos conversar, por favor.

- Já lhe disse que não temos o que conversar, Ester. Por favor, me deixa em paz - vê-la pareceu fazer com que toda a tristeza voltasse, mas a frieza já havia tomado conta de mim em relação a ela.

- Clara, foi um deslize. Não vai se repetir - falou com lágrimas nos olhos.

- Realmente, não vai. Porque eu não tenho como te perdoar, Ester. Você sabe de toda história dos meus pais, do quanto sofri e vi minha mãe sofrer. Não vou repetir a história, Ester. Não vou! - estava seca por dentro, por mais que ainda estivesse triste - Estávamos numa fase tão boa da nossa relação, sabe? Eu realmente acreditei que seríamos para sempre.

- Podemos ser, Clara... podemos ser! Só você me perdoar - estendeu o buquê de lírios brancos para mim. - Olha, comprei as suas preferidas.

- Obrigada, Ester. Mas não são flores que vão me convencer, eu estou decidida - ela seguia com o buquê estendido para mim, peguei-o. - Não quero mais nada. Já estou olhando um apartamento, em breve pegarei minhas roupas na casa que era nossa.

- E-eu saio do apartamento e você volta para lá, Clara - falou chorando - Não vou conseguir viver no lugar que era nosso.

- Eu que não vou conseguir viver no lugar que você me traiu, Ester. Pegarei apenas minhas roupas e o que levei de valor afetivo. No mais, não quero nada. Adeus, Ester.

- Não vou desistir tão fácil de você, Clara.

Ela virou as costas e saiu abatida, passando as mãos nos olhos, sem me dar a chance de responder. Suspirei pesado e fui até o segurança que ficava na porta do hospital. Alisson trabalhava ali desde que era residente, sempre simpático.

- Tudo certo, doutora? Precisa de alguma coisa? - perguntou.

- Tudo, Alisson. Preciso que me faça um favor - falei ao rapaz estendendo o buquê. - Entrega essas flores no setor oncológico. Pede para entregar para as pacientes de lá. Obrigada.

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