Detalhes

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Todos os títulos são canções.
Detalhes - Roberto Carlos.

CLARA

As duas semanas seguintes passaram mais rápido do que poderia imaginar, e já estava no aeroporto deixando Renata para que pudesse embarcar no vôo até São Paulo. Nossa rotina era algo tão bem estabelecido, que estava levemente aflita em pensar que passaria uma semana sem a companhia dela. Para poder cuidar das gatas, ficaria no apartamento da advogada.

- Vou sentir sua falta - ela disse já na entrada do portão de embarque.

- Eu também, Doce. Mas vai passar logo. Assim que pousar você avisa, tá bom?

- Aviso, claro - respondeu me puxando para um selinho demorado.

- Enquanto isso Larissa nem me traz no aeroporto! - falou Alex brincando. - Pense bem antes de casar, minha amiga.

- Quando a gente casar você vai deixar de me trazer no aeroporto, meu bem? - indagou a advogada, me surpreendendo.

- Não, vou continuar te trazendo sempre.

- Essas palavras estão gravadas, Clarinha! Sou testemunha de Renata, caso algo mude daqui alguns anos!

- Combinado, Alex! - respondi rindo.

- Quero isso no acordo pré-nupcial! - ele falou. - Preciso assegurar minha sócia.

Todos rimos e o clima continuou descontraído, até que o vôo foi anunciado mais uma vez e nos despedimos. Voltei para o apartamento de Renata, que parecia grande demais sem ela ali.

- Mal chegou e já está com essa carinha de saudade, Clara? - comentou Dilma, minha amada funcionária que agora dividia o serviço entre o meu apartamento e o de Renata.

- Nem fale, Dilma - respondi oferecendo um sorriso. - Acabei acostumando com a presença diária dela.

- Morar junto é assim mesmo. Eu nem sei como dormir sem Gerson, até quando estou retada, procuro a costela dele pra me encostar.

- Ainda bem que não moro com Renata, né? Seria ainda pior.

- Clara, minha filha. Eu tenho intimidade o suficiente com você, e idade para ser sua mãe, então vou te falar - proferiu enquanto enxugava as mãos e se encostava na bancada. - Vocês estão morando juntas sim. Mas em duas casas. Dorme um dia cá, outro lá, só não dormem separadas. Qual foi a última vez que você dormiu sem Renata?

- Não lembro - parei um pouco para pensar. Na verdade desde o acidente, não dormimos separadas - me dei conta depois da pergunta da jovem senhora.

- E já vão fazer três meses que eu estou entre aqui e lá - disse com simplicidade. - É bom pra mim, que trabalho com você e Renata a semana toda e ainda ganho dois salários - falou rindo. - Mas vocês precisam prensar em oficializar isso, menina!

- Eu tenho receio, Dilma - falei em um suspiro. - Traumas do passado, você sabe - ri sem humor.

- Clarinha, Renata é tão diferente de dona Ester - disse acolhendo minhas mãos nas suas. - Ela mesmo sendo toda poderosa, me trata bem. Dona Ester era meio bruta, sabe? E grosseira também, mal falava comigo, fazia questão que eu chamasse de senhora, mesmo sendo tão jovem. Já Renata é tão tranquila, além de ser atenciosa, cuidar de você, gostar da sua família. Eu reparo em tudo, sabia? E lá na outra casa com dona Ester sempre tinha aquela amiga de vocês, quase um casal de três.

Até minha secretária do lar notava a frequência exarcebada que Fernanda estava no meu apartamento com Ester. Eu errei sendo tão permissiva quanto a isso, mas ainda lembro quando a engenheira me falou que não abria mão da presença da ex nas nossas vidas. Somos melhores amigas e já superamos completamente a relação amorosa! Me falou em uma das primeiras conversas sobre a moça. Melhores amigas que transam, amigas com benefícios. Nem sei como chamar. No fim das contas, infidelidade.

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