Coração bobo

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Todos os títulos são canções.
       Coração bobo - Alceu Valença.

ESTER

Depois que Clara saiu de casa batendo a porta, um silêncio se instalou por alguns segundos. Era difícil controlar a situação, mesmo entendendo o lado de minha namorada, Fernanda fazia parte da minha vida há pelo menos 10 anos.

- Que menina sem noção essa que você arranjou, Ester!

- Nanda, por favor. Ela não é sem noção, eu me incomodaria se fosse o oposto.

- Ah, então você está dizendo que a sem noção aqui sou eu? - vociferou.

- Não, Fernanda! Mas vamos ser coerentes, né? A gente sabe que não rola mais nada entre a gente, mas dá uma insegurança.

- Não rola porque você não quer, já te disse que a gente deveria se dar outra chance - Fernanda falou baixo o suficiente para que eu escutasse.

- Nanda, esquece isso. Já tem anos que nos separamos. Nós somos amigas e ponto. Vou me arrumar para poder ir na obra fazer a vistoria.

- Vê se não coloca aquelas calças apertadinhas pros peões não irem à loucura! - brincou, buscando deixar o clima mais leve.

- Sai, ridícula. Lá todo mundo me respeita - sorri e entrei no quarto para me arrumar.

Sou engenheira civil e trabalhar nesse mercado exige uma postura mais séria, mesmo tendo amizade com diversos dos funcionários que trabalham comigo. De fato evito ir com roupas muito apertadas para não atrair olhares indesejados, e também pelo meu conforto, claro. Quando saí do quarto, Fernanda já estava pronta para trabalhar (ela deixa aqui em casa algumas trocas de roupa caso haja necessidade) e ofereci uma carona. No caminho evitamos conversar sobre a briga de mais cedo. A deixei na porta do trabalho e segui para a obra. "Merda, olha esse trânsito", pensei quando vi o que teria que encarar imediatamente. Demorei mais de 2 horas para chegar, e no carro fiquei refletindo sobre tudo que aconteceu. O que eu faço? Não posso simplesmente tirar Fernanda da minha vida, e sei que cortar esse hábito será difícil. É um costume que ela tem mesmo antes de ter me mudado para morar com Clara. Em contrapartida, não tiro a razão de Clara, mesmo que tente amenizar sempre. É complicado conviver com minha ex o tempo todo.

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CLARA

Voltamos para o laboratório e concluímos todas as atividades. Me despedi de Luana e fui direto para o hospital, precisava pelo menos de um banho para começar o plantão. Às 19h, entrei na UTI para começar a passar os pacientes. Não existe nada no mundo que faça com tanta alegria e dedicação. Um residente me parou para tirar uma dúvida, a enfermeira me chamou para um procedimento em um leito específico e quando vi, já passavam das 22h. Fome, fome, fome, fome. Meu estômago estava gritando por um alimento.

- Ninguém come aqui não, é? - entrei brincando com as enfermeiras que estavam no descanso médico e algumas técnicas também.

- Hoje o ritmo tá intenso, doutora! Vamos pedir algo agora, daqui a pouco chega! - me respondeu Luci, uma das enfermeiras mais doces e atenciosas que já conheci desde que formei.

- Certo! Vou atualizar os prontuários enquanto isso.

- Vamos pedir japonês, pode ser? - me perguntou Gabriela, uma das técnicas.

- Perfeito, Gabi! - saí e fui atualizar os prontuários.

Cerca de 40 minutos depois, Luci veio me avisar que nosso pedido tinha chegado. Meu coração quase explodiu de alegria e dei um sorrisão. Quando ela voltou para o descanso médico, escutei-a falando e rindo:

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