Quem sabe

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Todos os títulos são canções.
       Quem sabe - Los Hermanos.

RENATA

Terminei a reunião e passei no mercado para comprar algumas coisas. Queria preparar um jantar para Clara. A moça de cabelos cacheados estava mexendo comigo mais do que imaginava. A intensidade do que estávamos vivendo aumentava vertiginosamente e eram raros os dias que não nos víamos. Enquanto devaneava sobre o último mês que havia passado, meu telefone tocou.

- Alô!

- E aí, querida, por onde anda? - perguntou Lais do outro lado da linha.

- No mercado, e você?

- Huum, o que teremos de especial hoje pra essa ida ao mercado? - perguntou - Sou sua amiga a tempo suficiente para saber que você só faz compras uma vez ao mês e em finais de semana - riu e não pude evitar de fazer o mesmo, Lais me conhecia demais.

- Clara vai pra lá jantar hoje - respondi tentando esconder minha animação.

- Mas isso é especial? Vocês jantam juntas o tempo todo!

- Hoje ela foi buscar as coisas na casa de Ester. É um ponto final definitivo.

- Aaah, explicadíssima a empolgação da senhora - respondeu - E aí, vai pedir a novinha em namoro? - gargalhou.

- Acho que nem tenho mais idade pra isso de pedir em namoro - falei pensativa - Meio coisa de adolescente, você não acha?

- Tá louca? - ralhou - Óbvio que não! E vai ficar nesse negócio de subentendido, é? Peça a menina em namoro! Já que vai fazer esse jantar especial, aproveite o ensejo!

- Só você pra falar esse tipo de coisa. Vou pensar! - disse rindo - Deixa eu adiantar aqui, porque ela disse que não vai demorar lá na casa de Ester.

- Amanhã quero saber como foi esse pedido! Beijo!

- Beijo, Lai.

Fiquei com a ideia de Lais na cabeça, realmente meu desejo era ter uma relação mais concreta com a médica e hoje seria um dia significativo para isso. Fim de um ciclo, início de outro. Resolvi passar em uma floricultura perto de casa e comprar um buquê de flores para Clara. Já havíamos conversado antes e sabia que as preferidas dela eram lírios. Escolhi os brancos, em homenagem à música de Isabella Taviani que diz "lírios brancos combinam com meu bem, borboletas e risos, lua cheia também". Sorri já imaginando a reação dela ao descobrir o motivo da cor das flores.

Cheguei em casa 19h, alimentei Jurisprudência e Petição e comecei a organizar o jantar. Temperei os camarões, fiz um molho de queijos e já deixei a panela que cozinharia a massa com água. Quando Clara chegasse só precisaria selar os camarões, misturá-los ao molho e cozinhar a massa. Coloquei a mesa para nós duas e deixei o buquê que havia comprado descansando ao lado do lugar que Clara costumava sentar. Tudo estava encaminhado, só faltava ela.

Tomei um banho, escolhi um vestido preto longo de alças finas e prendi o cabelo em um coque. Quando olhei no relógio já passavam das 20h e Clara ainda não tinha dado sinal. Peguei o celular para mandar uma mensagem e a última visualização havia sido às 18:43h.

Eu: doce, tudo bem por aí?

A mensagem não chegou no celular de Clara, apareceu apenas um visto (✔️). Ela poderia estar em algum lugar que a internet não estivesse boa. Sentei no sofá para esperar, as gatas vieram e se aninharam junto a mim.

20:40h e nada de Clara. Nem a mensagem tinha sido entregue. Resolvi ligar e caiu direto na caixa. Comecei a ficar aflita, será que tinha acontecido alguma coisa? Cogitei a possibilidade da médica ter feito as pazes com a ex, mas pelo que ela havia me relatado, seria improvável. Uma sensação ruim começou a tomar conta de mim. Decidi esperar um pouco mais antes de fazer alarde ou preocupar mais alguém. A televisão estava ligada, mas meus pensamentos me impediam até de saber o que estava passando.

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