Leoa

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Todos os títulos são canções.
Leoa - Pedro Salomão.

RENATA

Despertei com os raios de sol atingindo meu rosto, não havíamos fechado as cortinas. Me esgueirei da cama com cuidado para não acordar Clara, coloquei um short de malha e um top para fazer uma corrida na praia. O chalé que estávamos ficava a menos de cinquenta metros da areia, e nada melhor que um exercício para organizar os pensamentos. Enquanto corria, a mensagem de Fernanda pairava na minha cabeça como uma nuvem escura, contrastando com o dia que fazia. Preciso falar com Clara sobre isso. Pensei. Não fazia sentido não dar o recado para a médica, ela resolveria como agir.

Quando voltei para o quarto, a morena seguia dormindo. Como pode ter tanto sono acumulado em uma pessoa só? Entrei no banheiro para tomar um banho e desfazer-me do suor que escorria do meu corpo. Saí do banho, coloquei um biquíni cortininha marsala e joguei um vestido leve por cima, havia planejado um dia diferente com Clara, precisava acordá-la para dar seguimento ao meu roteiro. Deitei ao lado dela e comecei um carinho leve nos seus cabelos.

- Acorda leoinha, vai rugir lá fora - comecei a cantar. - Te dei dez minutinhos já faz meia hora.

A morena de cabelos cacheados abriu levemente os olhos e sorriu pra mim.

- Bom dia - falou se espreguiçando.

- O seu bom dia rouco me dá tanta paz... Estica o corpo todo como o gato faz - completei a música.

Clara me puxou para um abraço e voltou a fechar os olhos.

- Vou dormir de novo para você me acordar assim - disse sorrindo e fixando as órbitas nos meus cabelos molhados. - Você já tomou banho? - questionou arqueando as sobrancelhas bem desenhadas.

- Não só tomei banho como já corri na praia também - respondi.

- Traidora! - disse abrindo a boca em um drama engraçado. - E me largou aqui sozinha dormindo?

- Não quis atrapalhar o sono da princesa - justifiquei. - Só te acordei agora porque temos planos.

Os olhos da morena pareceram brilhar de empolgação com a informação.

- Temos? - falou sentando na cama e me fitando animada. - Quais?

- Surpresa - sentenciei tocando levemente no seu nariz.

- Tudo na viagem vai ser surpresa? - indagou cruzando os braços e franzindo o cenho.

- Não seria, mas é engraçado ver você curiosa - respondi.

Clara veio pra cima de mim fazendo cócegas nas minhas costelas. Não sei em que momento ela descobriu que ali era meu ponto fraco.

- Para - falei alto entre risos. - Eu vou morrer!

- Isso é pra você repensar sobre essas surpresas, doutora Renata - falou gargalhando.

Consegui me virar e colocar a médica por baixo de mim, segurando seus dois braços. Abaixei até seu ouvido e falei baixinho:

- Agora que eu não conto mais nada dessa viagem - ato contínuo, dei um beijo na curva do pescoço da morena. - Vá se arrumar que temos horário - disse depositando um selinho leve, levantando da cama e puxando-a junto.

- E qual o traje? - perguntou enquanto ia para o banheiro.

-Biquíni! - respondi enquanto ligava para recepção solicitando o café no quarto e informando que dentro de meia hora estaríamos prontas para sairmos.

No momento que Clara saiu do banheiro, não tive como evitar observar a beleza da menina. Ela trajava um biquíni mostarda também de cortininha, mas a calcinha era presa por um laço de cada lado, valorizando o bumbum bem desenhado da morena. Enquanto caminhava para pegar alguma coisa na mala que dividíamos, meu olhar lascivo a seguiu.

- Que foi, não está bom? - perguntou realmente preocupada.

- Está... fantástica - disse com um sorriso sacana e arrancando outro dela.

A morena prendeu uma saída de praia de fundo branco e estampa de folhas na cintura e sentou na mesa comigo, o café já estava servido. Comemos rapidamente e descemos até o lobby do hotel, onde um carro já nos aguardava com o motorista.

A viagem durou em torno de dez minutos e já estávamos paradas em frente a um Ferretti Yacht. O barco era simplesmente deslumbrante, totalmente equipado com sala, cozinha, mesa de jantar, uma suíte confortável. A área externa não deixava a desejar, com assentos e almofadas espalhadas para proporcionar o máximo de conforto. Trabalhado em tons escuros de madeira e estofados claros, era realmente um deslumbre.

- Hoje nosso dia será literalmente no meio do mar - falei animada entrelaçando a mão na de Clara e levando-a para dentro.

- Uau! - exclamou. - E cadê o marinheiro?

- No caso, é marinheira - sorri. - Essa que vos fala.

- E você tem habilitação, licença ou sei lá qual o nome que se dá pra pilotar um barco desse tamanho? - falou arqueando as sobrancelhas.

- A senhorita não sabe, mas boa parte da minha vida foi no mar com seu Miguel. Ele é apaixonado por barcos - expliquei. - Tanto eu quanto Otávio somos habilitados para conduzir embarcações. Herdamos a paixão de meu pai.

- Que máximo, Doce! - falou impressionada. - Você sempre me surpreendendo - disse enlaçando minha cintura e me aproximando para um beijo rápido.

Subimos até a cabine de comando, ajustei alguns parâmetros, inseri a latitude e longitude e ativei o piloto automático.

- Agora vamos curtir nosso dia - falei me aproximando de Clara para um beijo.

- E quem vai cuidar disso tudo aqui enquanto estamos curtindo? - indagou apontando para o painel repleto de botões.

- O piloto automático - respondi sorrindo. - Vamos, o dia está maravilhoso!

Chegamos até a parte externa do barco e ao olhar pro céu não havia sequer uma nuvem. O mar azul se estendia e cada vez mais a vila de Maragogi diminuía. A médica, que já estava apenas de biquíni, estirou-se para tomar um pouco de sol e eu caminhei até o frigobar para pegar duas cervejas.

- Seria muito mais refinado se eu lhe oferecesse uma taça de champagne, mas eu sei que isso aqui te faz muito mais feliz - disse esticando uma long neck contendo o líquido dourado.

- Você acertou totalmente, Doce! - exclamou após sorver um pouco da bebida, enquanto eu sentava ao seu lado.

Próximo de onde estávamos havia uma pequena cesta de vime com protetores solares de diversos fatores e bronzeadores. Alcancei o que oferecia mais proteção, e comecei a passar pelo corpo. Tudo que eu não precisava era de uma insolação. Clara ajudou a passar nas minhas costas e buscou outro com FPS mais baixo para espalhar na sua pele naturalmente acobreada.

- Eu não preciso desse tão potente - brincou comigo.

Aos poucos, a embarcação parou onde havia colocado as coordenadas geográficas. Estávamos no meio de um azul quase que transparente e nossos olhos não conseguiam enxergar nenhuma terra próxima. Ao notar que estávamos paradas, Clara sentou e permitiu deslumbrar-se pelo que via.

- Que tal um mergulho? - sugeri tocando de leve na sua coxa esquerda, despertando-a do devaneio.

- Vou amar! - disse já levantando e oferecendo a mão para me puxar.

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