Sombras no verão

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Todos os títulos são canções
Sombras no verão - Teago Oliveira

CLARA

A surpresa em saber que uma das minhas referências quando se tratava de biologia parasitária correspondia era a mesma pessoa que foi casada foi a mulher que me relaciono foi inevitável. Durante o trajeto buscava não pensar muito sobre o assunto, mas nos momentos de silêncio vinham frases que Renata havia proferido quando conversamos sobre o antigo relacionamento dela: "me traiu com uma colega de trabalho", "tivemos um divórcio difícil", "um bloqueio para me relacionar novamente", "precisei de um bom tempo de terapia para poder entender que a culpa não foi minha". Agora eu tinha um rosto para a mulher que causara tantas feridas em Renata.

Ao chegarmos no apartamento, Renata partiu para a adega afim de buscar um vinho para brindarmos; Alice e Priscila separavam as taças e eu fui colocar um short e uma rasteira para ficar mais confortável. Ainda no quarto mandei mensagem pra Lais, convidando-a para nossa pequena comemoração. Ao voltar para sala, Luana comentou que nossa orientadora havia perguntado onde comemoraríamos e se poderia juntar-se a nós. Sempre gostei muito de Daniela e minha resposta imediata foi que sim. A estudante pouco tempo depois me informou que após terminar o expediente da universidade, Dani viria para comemorarmos.

Fui até a cozinha para separar alguns frios e petiscos enquanto não dava o horário para a entrega da comida japonesa que Renata havia feito o pedido com o auxílio da sobrinha e da cunhada.

- Estou tão orgulhosa de você - disse a advogada me enlaçando por trás e depositando um beijo no meu ponto de pulso.

- E eu feliz de um jeito que nem sei explicar com tudo que está acontecendo - respondi virando-me e dando um selinho nela. - Pelo fim do mestrado, por você aqui...

Virei de frente e iniciamos um beijo intenso, cheio de saudade e desejo. Minhas mãos desceram para a bunda da advogada, que me prensava na bancada. Ela desviou da minha boca, percorreu com a língua meu pescoço, meu colo. Nossos corpos em brasa, quando fomos brutalmente interrompidas:

- Muito bonito! - falou minha mãe, nos causando um susto tão grande que Renata deu um pulo e se afastou como se estivesse fazendo algo errado. - Todo mundo na sala e as bonitinhas se agarrando no cantinho - completou brincando.

- Dona Sandra, não é nada disso - respondeu com a mão no peito, certamente o coração tão ou mais acelerado que o meu.

- Então a cena que estava acontecendo aqui não era você agarrando minha filha? - disse em um tom divertido, causando um rubor imediato na tez branca.

Minha mãe cruzou os braços como a espera de explicações.

- Agarrando? Não, não... - o constrangimento era latente, e mesmo sabendo que era brincadeira, fiquei com pena.

- Foi uma clássica cena, Mama - disse abraçando a advogada por trás e dando risada. - Mas se a senhora continuar nessa inquisição, mata Renata.

- Ela precisa acostumar com a sogra, minha filha!

Todas rimos e o alívio em Renata foi tão grande que senti o corpo relaxar um pouco nos meus braços. O clima divertido perdurou junto com as outras que estavam na sala. Priscila negou a taça de vinho com a desculpa que precisaria de alguém sóbrio para dirigir no final da comemoração e aparentemente não levantou suspeitas. No início da noite, Lais juntou-se a nós e pouco depois o interfone tocou anunciando que minha orientadora estava na portaria aguardando autorização para subir. A campainha tocou e fui recebê-la numa animação, que acabou assim que abri a porta e constatei que ela não estava sozinha: Giselle a acompanhava. Tentei manter o sorriso que estava no rosto, mas provavelmente não obtive muito sucesso.

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