Encontro

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Todos os títulos são canções.
Encontro - Maria Gadú

CLARA

Cheguei na faculdade de Alice e ela já estava na porta com a cara emburrada.

- Caramba, mano, por que você nunca consegue chegar no horário?

- Mano? Mano, Alice? É isso que a faculdade está te ensinando? - repreendi rindo já arrastando o carro.

- Tá engraçadinha demais pra quem terminou um quase casamento, hein? Quero saber que alegria toda é essa, queridinha - falou colocando o cinto de segurança.

- Estou tentando levar as coisas de uma forma leve - me defendi.

- Tá leve demais, Clara. Não é possível que já tenha outra - disse me fitando. Não pude evitar rir lembrando do dia anterior com a advogada - Esse riso. MEU DEUS. Tem outra já. Como você consegue?

- Eu não disse nada, Lice. Oxe - me concentrei para não rir, mas não consegui. Minha irmã me conhecia demais.

- Não precisa dizer, minha filha - ela falou - nos conhecemos desde que saí da barriga de dona Sandra. Eu conheço você mais que qualquer pessoa desse mundo. Pode contar.

- Você vai surtar. Eu sei.

- MEU JESUS CRISTO, CLARA. QUEM VOCÊ PEGOU? FOI ALGUMA EX?

- Não!!! Que ex? É desconhecida para você.

- E de onde é? Foi a tal amiga que você dormiu na casa, né? Eu sabia! Quando a Mama falou que você estava na casa de uma amiga que nós não conhecíamos, eu SABIA que era mulher nova. Como pode, senhor? Esse mundo colorido é muito maravilhoso. A menina acabou o casamento e já tem outra. Queria ser lésbica também - enquanto ela falava, eu ria - Vamos, me conte. Quero detalhes. Riquezas de detalhes. Transou?

- Alice!

- Transou! - gargalhou - Me conta quem é essa gata misteriosa.

- Gata misteriosa, Alice? Você está com um vocabulário péssimo! O nome dela é Renata.

- Renata? Tipo a música do latino? "Renata, ingrata, trocou o meu amor por uma ilusão!" - revirei os olhos com aquela comparação, mas ri.

- Espero que ela não seja ingrata, e não seja uma ilusão. Amor não tem, né, dengo?

- Daqui a pouco você se apaixona de novo. Nunca vi, é um negócio intenso esse vale do arco-íris! - não pude conter o riso, tinha um pouco (ou muito) de verdade naquele comentário - Uma rotatividade altíssima! Só não case logo. Ó a merda que a outra fez.

- Nem quero me apaixonar tão cedo, tá louca? Nem casar! Tô traumatizada, dengo - falei com um tom mais triste. Meu coração estava imensamente magoado com Ester, e sabia que não passaria tão rápido - mas isso quero contar junto da Mama, pra não precisar repetir essa novela bizarra.

- Vamos falar sobre a de ontem então, dengo. Renata, né? O que faz, como vive, quantos anos? Agora, no Alice Repórter - sempre palhaça.

- Quanta pergunta! - ri - É advogada. Dona de um escritório grande. Acho que tem uns 40 anos...

- Quê? QUARENTA? - ficou chocada - ELA PODERIA SER NOSSA MÃE! - gargalhei com o susto que Alice tomou.

- Mas não é, dengo. Graças a Deus, não é - devaneei lembrando da advogada.

- Esse sexo foi bom mesmo, ó a cara que você está - falou me fitando.

- Deixa disso. Mas foi bom mesmo, viu? Bem do incrível. Me fez bem, Lice, eu esqueci por umas boas horas o que tinha acontecido com Ester - falei enquanto encostava o carro na porta da casa de nossa mãe - vamos, pequeno monstro, alimentar sua fome.

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