Cor de Marte

Capítulo 4

- Filha? É você? - Meu pai perguntou enquanto eu subia as escadas.

- Sim pai, acabei de chegar de viagem. - me apoiei no corrimão cansada, afinal dirigi por 4 horas.

- Por que não avisou que vinha hoje? Eu teria te esperado. - ele falou pegando a mala das minhas mãos e me ajudando a leva-la.

- Pai, já são quase 2 da manhã, não ia fazer o senhor me esperar até esse horário. - Disse indo em direção ao meu quarto.

- Você sabe que eu não gosto que você dirija essas! - Como sempre ele estava preocupado.

- Eu sei, e o senhor sabe que sempre viajo essas horas... - Falei despreocupada e me jogando na minha cama. - Pode deixar a mala aí pai. - sorri para ele agradecendo a ajuda.

- Muito bem! Lembre-se, amanhã acordarmos cedo, você vai comigo para o escritório. Preciso que você revise algumas coisas para mim e pegue umas assinaturas... então, Durma bem Sininho - Meu pai ao terminar de falar saiu do meu quarto.

- Boa noite, papai... - Ele já havia saído quando falei.

Meu pai tem um escritório de advocacia, embora eu tenha todo o suporte do meu pai, para se caso eu queira advogar algum dia, nunca me vi neste ramo da advocacia. A princípio quando terminei meu ensino médio a pressão, por parte principalmente da minha mãe, para cursar direito era muito grande, o que me fez ser do contra então resolvi cursar arquitetura, a fase rebelde da minha vida. Ainda consegui levar o curso por uns três anos, faltando pouco menos de 2 anos para me formar minha tia me chamou para passar uma temporada em sua casa, fazer um intercâmbio, morar fora do país e foi quando eu larguei tudo, não estava feliz com o curso que eu havia escolhido para mim, meus pais estavam me pressionando e não falavam comigo na época, pois haviam descoberto que eu não era tão "perfeita" como eles achavam. Minha mãe acabou pegando minhas mensagens com minha namorada da época, e foi assim que minha sexualidade foi exposta. Para eles, eu ir morar fora deve ter sido a oportunidade perfeita, ninguém falaria da filhinha "perfeita", eles conseguiriam esconder da sociedade, ao mesmo tempo não teriam que aturar minha cara e nem com o "problema". eu sabia que quando voltasse teria que dar outro rumo a minha vida.

Quando voltei do intercâmbio minha relação com meu pai melhorou 100%, no fim ele percebeu que a pessoa que eu amar não muda nada e minha vida particular só diz respeito a mim, já minha mãe... ela até hoje não assimila bem. 

Fiz a prova para ingressar na universidade particular de Miami, ela tem um ótimo prestígio quando referido ao curso de direito. No início achei que seria mais uma obrigação na minha vida, mas acabei gostando e me descobrindo no curso, não me vejo advogando, mas me vejo na polícia judiciária (termo jurídico para as polícias de investigação) quero ser delegada, mas antes disso vem a prova da Ordem dos advogados.

Com a cabeça cheia de pensamentos acabei pegando no sono e acordando com meu pai no meu quarto.

- Sina, acorda filha. Já está na hora! - ele bateu na porta do meu quarto.

- Já tô indo pai. - respondi percebendo que ainda estava com as mesmas roupas de ontem.

Peguei meu celular para constatar as horas e percebi a quantidade de mensagens que havia recebido da Heyoon.

* mensagens *

* Sina, vc já chegou? * - 2:30 am

* Sina, eu tô preocupada, você ainda não chegou em casa?* - 3:00 am

* Sina, é sério! Cadê você? Eu tô esperando vc mandar mensagem dizendo que está bem. * - 3:10 am

* SINA, ASSIM QUE VIR ESTA MENSAGEM RESPONDE!* - 3:30 am

* Eu estou indo dormir... espero que você esteja bem! Boa noite Sininho... * - 4:00 am

- Meu Deus, eu esqueci de avisar a Yoon! Ela deve ter ficado muito preocupada... - Pensei alto, me perdi tanto em meus pensamentos na madrugada que esqueci de avisa-la.

*Yoon, me perdoa meu bem. Eu cheguei e acabei topando com meu pai Ele me ajudou a trazer as coisas para meu quarto e peguei no sono, só vi o celular agora de manhã. Me perdoa mesmo, não tive a intenção de te deixar preocupada.* - respondi a Yoon, essa hora ela ainda deve estar dormindo. Com certeza hoje ela só vai acordar ao meio dia.

Coloquei um terninho despojado e fui ao encontro do meu pai no escritório, já que ele não havia me esperado, consequência da minha demora.

- Pensei que você não vinha mais! - Ele falou quando entrei em sua sala.

- Eu disse que viria, só perdi a hora... - sentei na poltrona de frente para ele.

- Bem... não vamos perder tempo. Preciso que você veja se saiu algumas decisões ou sentenças desses processos aqui, veja o que falta neles e protocole. Sina, preciso que você cuide do processo do senhor Jeong também, está faltando a assinatura dele na procuração... - Ele me deu a lista com os números dos processos para que eu analisasse.

- Só esses? - Questionei de forma debochada vendo a quantidade de processos.

- Nem faz essa cara, são apenas 10 processos. - ele falou ajeitando a pasta dele e dando um sorrisinho.

- então Ainda bem que terei todo o fim de semana para isso... - Falei ainda olhando a lista, sabia que ia demorar um pouquinho, já que teria que olhar processo, por processo e ver o que tá faltando em cada e ainda dar andamento.

- Não esqueça da assinatura do senhor Jeong, pegue a assinatura, scanei a procuração e anexe ao processo digital. - Ele falou se encaminhando para a porta.

- Qual o mais urgente? - Perguntei antes que ele saísse.

- Todos são urgentes, se não houvesse uma certa urgência nem colocaria para você resolver em pleno fim de semana. - Ele falou rindo da minha cara.

- Eu mereço! Explora mais sua filha, trabalho escravo é crime sabia? - falei rindo também.

- E quem disse que é de graça? Quem paga seu apartamento? Seu carro?  Sua comida e sua faculdade? - ele riu mais alto ainda.

- Golpe baixo! - me rendi depois do argumento utilizado por ele - Tudo bem, vou olhar o que estes processos precisam, anotarei ao lado e depois vou na casa do Sr. Jeong e pego a assinatura dele. - Jeong, aquele sobrenome não me era estranho.

- Tenho que correr se não perco o voo e ai você terá um funeral para ir e uma cliente para defender... Porque sua mãe irá me matar se perdermos o avião.