Capítulo 34

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- CUIDA SINA, ESTOU ESPERANDO! – Ela não parava de berrar, estava vendo a hora ela ter um treco.

- Mãe, eu... eu ia... eu ia te contar... mas

- MAS NADA SINA DEINERT, EU PENSEI QUE ESTÁ FASE JÁ HAVIA PASSADO! – Ela me interrompeu antes que eu pudesse falar.

- Fase? Como assim mãe? Você acha que minha sexualidade é fase? – Disse indignada.

- VOCÊ É A MAIOR DECEPÇÃO DA MINHA VIDA SINA! – Ela cuspia as palavras de desprezo.

- Decepção é a senhora, por este seu jeito, este preconceito, esta mente antiquada! – Meu nível de estresse e ansiedade começavam a subir, estava começando a ter falta de ar.

- CALE SUA BOCA MENINA INSOLENTE! – Ela estava fora do controle – EU SOU SUA MÃE!

- POR SER MINHA MÃE QUE DEVERIA ME RESPEITAR! – Comecei a me alterar, sentia cada vez mais o ar se esvaindo e uma falta de ar querendo tomar conta, segurei e tentei controlar.

- EU EXIGO QUE VOCÊ TERMINE COM ESSA MENINA! – Ela estava fora de si, não sabia mais o que falava.

- EXIGIR? – Como assim minha mãe queria exigir alguma coisa de mim? Principalmente uma coisa dessas. – Não estou acreditando nisso!

- Você ouviu Sina! – Ela parou na porta do meu quarto. – TERMINE. ESTE. NAMORO! – Ela saiu fechando a porta do meu quarto.

Minha ansiedade insistia em atacar, um ataque cardíaco, palpitações, não podia deixar isso tomar conta, esse medo que crescia, não podia deixar isso acontecer, tinha que fazer alguma coisa, tinha que falar, tinha que me defender, tinha que me impor e não deixar minha mãe achando que iria mandar na minha vida como ela fazia quando eu tinha 15 anos, quando ela tinha algum controle sobre mim, quando eu tentava ser a filha perfeita para agrada-la.

Sai pela porta do meu quarto, batendo forte e indo atrás da minha mãe, não ia deixá-la fazer isso comigo, não agora que tenho 27 anos na cara e não sou mais a menininha 100% dependentes, meu pai me apoia é isso que preciso.

- MÃE! – Gritei indo atrás dela.

- Não quero papo Sina, termine com aquela menina ou esqueça que eu sou sua mãe! – Ela ia em direção ao quarto dela enquanto eu corria atrás da minha mãe.

- Agora a senhora vai me escutar! – Chamei a atenção da minha mãe entrando em seu quarto e fechando a porta – Eu estou cansada!

- Cansada de que? – Ela ousou me interromper novamente.

- Deixe-me falar agora, você já cuspiu o que queria! – Estava séria e irritada, mas acima de tudo estava cansada, cansada de sempre tentar agradar minha mãe e ter que esconder quem eu realmente sou dela. – Eu sempre fiz tudo para te agradar, sempre fingi ser a filha perfeita que você tanto achava que eu era, mas eu cansei mamãe, eu literalmente cansei, fisicamente e mentalmente. Quero viver minha vida você gostando ou não!

- Como você ousa Sina? – Ela falou indignada.

- Não mãe, como você ousa? Como você ousa exigir que eu abra mão da minha felicidade? Que tipo de mãe é você? – Eu falei indignada.

- Sina, eu não vou falar novamente. – Ela falou irritada. – TERMINE. COM. A. MENINA JEONG.

- E se eu não terminar? O que a senhora vai fazer? – Desafiei minha mãe.

- Arrume suas coisas e suma da minha casa! – Minha mãe me encarava sem nenhuma emoção em sua face.

- Essa casa não é só sua! É minha também, afinal eu sou sua filha! – Bati de frente com minha mãe.

- Não mais Sina, você tomou sua decisão! – Eu nunca tinha visto ela tão fria em toda minha vida – Não é mais minha filha.

- Não faça algo que iria se arrepender mãe, por favor. – Tentei conversar com ela, mas ela me deu as costas.

- SUMA DAQUI! – Não podia acreditar no que ela berrava. – Vá embora da minha casa agora!!

- Mãe... por favor. – Falei Já chorando.

- AGORA SUA... SUA... ANORMAL! SUMA DA MINHA CASA!

- Quer saber?! QUE SE. FODA!

Minha mãe veio para cima de mim querendo me bater, mas a assegurei e sai pela porta correndo.

Não esperei mais para escutar o que ela falava, não aguentaria mais ficar ali, tinha que realmente sair daquela casa, como minha mãe pode dizer aquelas coisas? Como ela pode? Eu ainda não entendo como tem pessoas que pensam assim, e o pior meu pai nem estava em casa, o que seria pior creio eu. Mas e agora? Para onde eu irie? Não vou chegar na casa da Heyoon do nada.

Enquanto passava mil coisas pela minha cabeça fui até meu quarto, peguei algumas peças de roupa e coloquei em uma mochila, não ia levar muita coisa, só uma muda de roupa mesmo, depois eu via o que ia fazer.

Sai correndo de casa, mas para onde eu iria? Casa da Yoon nem pensar. Any não estava por aqui... Entrei no meu carro chorando, o choro queria me descontrolar, tentei controlar e comecei a dirigir sem rumo, nem pensei em ligar para o meu pai, eu só queria sair dali o mais rápido possível.

Por que isso está acontecendo? Por que minha mãe é assim? Por que ela falou essas coisas? O que eu fiz de errado? Não, eu não fiz nada de errado, eu apenas estou sendo feliz e ela que não aceita minha felicidade.

Só tinha um canto que eu poderia ir, um lugar que eu sabia que iria ficar em paz e nada, nem ninguém iria me atormentar. Iria voltar para Miami, mesmo sem ter condições de viajar, até porque as lagrimas estavam dificultando a minha visibilidade para dirigir.

Sai cantando pneu, queria me afastar o mais rápido possível daquela casa e daquela mulher que se dizia minha mãe até pouco tempo, que dizia me amar incondicionalmente quando eu era criança.

Entrei na autovia, acelerando cada vez mais o carro, 100, 120, 140, 160 km/h. Não estava me importando com a velocidade ou se eu iria receber alguma multa por velocidade, eu só queria sair de perto daquela cidade, de perto daquela mulher, precisava de ar, precisava respirar, queria não me sentir tão sufocada como estava me sentindo neste momento.

De repente uma luz começou a encandear meus olhos, não sabia direito de onde estava vindo, até porque a água em meus olhos dificultavam a nitidez da minha visão e quando dei por mim eu tinha furado a barreira e ido para a contramão, tentei desviar do primeiro carro, puxei o carro para o lado direito, livrando de mais um carro mas acabei perdendo o controle, senti apenas um solavanco.

Sentia minha vista escurecendo aos poucos, mesmo sem eu estar com vontade de fechar os olhos. Será que eu estava morrendo? Será que este é o meu fim?

Começou a passar um filme pela minha cabeça, minha infância na casa de praia com meus avôs, irmãos e meus pais, minha adolescência com meus amigos, Diarra, Sabina e Joalin, meu primeiro dia na faculdade, o dia que eu conheci Any e Jeky, o meu aniversário, o dia que todas as pessoas que eu amo se reuniram e ela, a mulher da minha vida, Heyoon Jeong. O dia que conheci Heyoon, nosso primeiro beijo, a primeira vez que fizemos amor, meu pedido de namoro, nossos últimos dias juntas. Acho que esse é o fim, sempre ouvi dizer que quando estamos para morrer passa-se um filme das nossas vidas diante dos olhos.

Eu só queria poder vê-la mais uma vez, ver a cor de marte. Desculpa Heyoon, não vou estar ao seu lado como a gente havia combinado.

- Yoon... – Foi a última coisa que falei antes de apagar por completo.

Cor de MarteWhere stories live. Discover now