ANDANÇAS - PARTE II

4

Não é novidade pra ninguém que a fofoca rola fácil nesse morro, né? Então, assim que cheguei, todo mundo já sabia da minha gravidez.

Liara: Garota, não se fala de outra coisa aqui, hein?!

Laura: Eu quero é paz, Deus que me perdoe. Gente fofoqueira! — revirei os olhos e demos risada.

Cheguei ontem e volto a trabalhar amanhã, tirei o dia hoje pra resolver as coisas do salão e já marquei minha primeira consulta de pré-natal. Marquei no postinho daqui mesmo, a Dra é maravilhosa, então, sem problemas.

Tinha deixado a Joice com a dona Lurdes, e quando cheguei em casa, meu telefone começou a tocar. Olhei no visor: dona Sônia.

📱dona Sônia 📱

"Oi tia"
"Oi minha linda. Tudo bem?"
"Tudo e a senhora?"
"To levando, minha filha. Saudade de vocês."
"Ah tia, saudades também." — disse meio sem jeito.
"Você vai trazer a Joice pra me ver?"
"Vou sim, vou levá-la aí na sua casa agora à tarde, tá?"
"Tá bom, minha filha. Um beijo."
"Tchau. Beijo."

—— fim da ligação ——

Eu duvido que tenha sido por vontade própria que ela ligou, eu já tinha a avisado que quando chegássemos, eu ia levar a Joice pra ficar com ela. Deve ter sido aquele nojento.

Mais tarde, busquei a Joice, e fui arrumá-la pra levar na avó. Subi e dei um banho na pequena, ficamos brincando um pouco no banheiro e ela pediu pra ver minha barriga, que não tem nada demais, nem cresceu ainda.

Joice: Ô mãe, tem neném aí, né? — balancei a cabeça que sim e ela deu um sorrisão, inclinou o corpo pra frente e deu um beijo na minha barriga. — Que lindo!

Assim meu coração não aguenta, né? Essa menina é um anjo mesmo. E eu com medo dela rejeitar.

Laura: Garota! Eu te amo. — dei um cheiro no pescoço dela e ela começou a rir, tem muita sensibilidade no pescoço.

Botei uma roupa simples nela e arrumei uma bolsa pequena. Fui a pé mesmo, de mãos dadas com ela, tem um tempão que a gente não passeia por aí.

Quando cheguei na casa da dona Sônia, a Alice veio me atender, me deu um abraço demorado, pegou a Joice, encheu de beijos e chamou a dona Sônia.

Sônia: Oi meus amores. — veio na minha direção, ela tinha emagrecido muito, eu não a via há algum tempo e me deu um abraço forte. — Cadê a coisa mais linda da vovó?

Joice era toda derretida pela avó (e pelo pai também), então, era tranquilo ela ficar lá, mesmo que eu tivesse medo dele fazer alguma coisa. Eu temia por mim, porque tenho certeza que com ela, ele nunca faria nada.

Sônia: Entra, Lau. Toma um suco comigo, o Wellerson não chega agora não.

Fiquei meio sem jeito de recusar o convite, então, entrei. Pouca coisa tinha mudado, os porta-retratos eram os mesmos, e pasmem, ainda tinham fotos minhas por lá. Fotos minha com a Joice, com ela, com aquele embuste, e tinha dele com a Carla, mas dona Sônia com ela? Nenhuma.

Fomos pra cozinha e ficamos conversando, enquanto a Joice brincava na sala com a Alice. Comi um pedaço da broa maravilhosa que ela faz e tomei suco de acerola natural, parece até que tava combinado, eu sou apaixonada.

Dona Sônia e eu falamos tanto que eu perdi a noção da hora, só me toquei, quando ouvi uma voz conhecida na sala.

Boca: Puta que pariu! Nem acredito que o amor da minha vida tá aqui. — ele falava na sala, com a Joice, meu corpo todo endureceu, fechei os olhos por um tempo e tentei acalmar meu coração.

Era uma mistura de medo, com nojo, com sei lá mais o quê, eu só sei que eu não conseguia nem falar mais nada, eu parecia uma estátua.