ANDANÇAS - PARTE II

1O

VAGNER

Eu tô ligado que é muito difícil pra Laura ir embora, mas ficar sem ela lá é foda. Tudo bem, que eu fico embarcado 15 dias e fico 15 em terra, mas seria melhor ela estando lá, sei lá.

To pensando nessa porra direto, papo reto. Mas, ela tem que pensar muito na Joice e não tá errada não, sei que ela faz de tudo por ela.

Como a Laura está se sentindo mal no começo da gravidez, acabamos acordando das meninas passarem um tempo aqui com ela, enquanto minha irmã faz a parte de cima lá e reforma a parte de baixo.

Vagner: Mãe, vou levar a Joice comigo, buscar a Manu na escola, passar lá no salão pra buscar a Laura e vamos almoçar na pensão da tia Rosa, já é?

Lurdes: Tudo bem, filho. Vou aproveitar pra resolver algumas coisas na rua então, ta?

Vagner: Tá bom.

Lurdes: Vagner? — olhei pra ela. — Tá acontecendo alguma coisa?

Vagner: Não, mãe. Por quê?

Lurdes: Você pode enganar a todos, mas a mim, não. Tá acontecendo alguma coisa sim, mas se você não quiser falar, tá tudo bem. — apenas sorri e saí pra sala.

Difícil pra caralho mentir pra minha mãe, hein. Perdi a prática, po.

Mais tarde, desci com a Joice, busquei a Manu na escola e fui pro salão, esperar a Laura sair pro almoço.

Laura: Quanto amor da minha vida junto. — abriu mó sorrisão quando nos viu, Joice soltou da minha mão e foi correndo abraçá-la.

Vagner: Viemos te buscar pra almoçar fora, tá afim? — aproximei e dei um selinho nela. — Boa tarde, gente. — cumprimentei quem estava lá.

Laura: Claro que tô, amor. Joice, vai dar um beijo na sua madrinha, na sua tia e fala com as meninas.

Eu fico babando olhando a minha mulher, tá maluco. Todo dia ela me encanta mais, po. O jeito simples dela, tá ligado? Ela não muda por nada.

Já estávamos sentados na pensão, Laura comendo e dando comida pra Joice e a Manu desenrolando sozinha, uma moça já. Eu fico bolado, pensando no dia que ela levar um namorado pra me apresentar, tomara que esse dia não chegue.

Joice: PAIÊ! — deu um grito na mesa e saiu correndo em direção à porta.

Encontrar com esse cara era sempre estresse, a gente nunca foi amigo não, só bagulho de futebol quando era menor, nada além.

Boca: Família reunida, maneiro hein Laura. E aí, Vagner. — se aproximou da mesa com a Joice no colo.

Vagner: E aí, Boca.

Laura: Joice, vem terminar de comer, filha. Vai esfriar. — ideia zero que ela deu pro camarada.

Boca: Vai lá, filha. — botou-a na cadeira e ficou parado do lado. — Ai Laura, depois nós tem que terminar aquele desenrolo lá. — Laura olhou pra cara dele, arqueando a sobrancelha e ele saiu.

Laura: Esse teu pai, Joice... — falou balançando a cabeça em negativa.

Vagner: Que desenrolo é esse, Lau? — tomei um gole do suco da Manu.

Manu: Ô dindo! — falou me reprovando.

Vagner: Foi mal, gordinha.

Laura: Desenrolo nenhum, amor. Boca tá fazendo graça, né? Você não conhece? — só concordei com a cabeça e terminei de comer.

Fiquei cheio de ideia na mente, né. Quem não ficaria? Nos despedimos da Laura, ela voltou pro salão e voltamos pra casa.

Tá ligado quando tu tenta esquecer o bagulho, mas ele fica martelando na tua mente? Então, é isso. Minha mãe já tava em casa, botou a Manu pra fazer dever, levou a Joice pra tomar banho e eu fui pra churrasqueira, estalei uma e fiquei preso nos meus pensamentos.

Será que a Laura ainda pensa em voltar pro Boca? Querendo ou não, eles viveram mó tempão juntos, tem a Joice também. Eu sou inseguro mermo, mas tento mostrar que não, dou meu máximo pra não arrumar caô com essas paradas. Mas po, que desenrolo é esse? Tá maluco. Do nada.

Quando a Laura chegou do salão com a Vanessa, eu tava fazendo a janta e minha mãe tava vendo alguma coisa na televisão com as meninas. Ela nem veio aqui, só escutei perguntando onde eu tava e subiu...

Laura: Tá aprontando o que aí, mô? — apareceu depois de um tempo na cozinha e me deu um beijo nas costas.

Vagner: Fazendo janta, po. Uma gracinha pra tu.

Laura: Ah tá. — sorriu e foi beliscar alguma coisa na geladeira. Tá igual a uma draga.