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BOCA

Sônia: Você não vai fazer isso, né meu filho? — minha coroa tava falando, enquanto eu catava uma blusa pra ir na Laura. — Me responde!

Boca: Claro que vou, po. Minha filha me chamou, mãe... Qual foi? Vamo lá comigo.

Sônia: Eu sei que ela te chamou, mas Wellerson, para de querer provocar a Laura, deixa a menina viver o casamento dela em paz, deixa.

Boca: Mãe, coé... Vamo lá comigo. To indo pela minha filha, nada de Laura não. — achei uma blusa e me vesti. — Qual foi, tu vai?

Sônia: Vou, pra garantir que você não vai fazer merda.

Boca: Sou nenhuma criança não, po. Tá maluco... — fechei a cara e a coroa saiu.

Eu amo a Laura ainda, po. Isso não é novidade, mas tá ligado que não vou estragar o aniversário da minha filha, e só to indo lá, porque prometi pra ela hoje cedo.

Falando nisso, mó parada. Hoje eu pensei sobre minha vida, sobre o caminho que eu escolhi e sei lá, mano, não é bagulho de arrependimento, tá ligado? Porque se eu não tivesse entrado pra essa vida, muita coisa ia ser diferente, eu ia poder andar tranquilo com a minha filha por aí, po. Mas também não ia poder dar os luxos que dou pra ela.

Vagabundo acha que o crime é Disney, que é dinheiro fácil, baile, mulher, que é só alegria, carro do ano, moto, festinha privada. Não, filhão, não é. Pra tu se envolver nisso aqui, tu tem que renunciar à sua vida, tá ligado? Tem que entender que a qualquer momento, tu pode não estar mais aqui e seu destino é: grade ou cemitério.

Eu não tive outra escolha, só eu sei tudo o que passei, tudo que me fez chegar aqui. Não tinha outro caminho. Mas é isso, tudo pela firma.

Dona Sônia deve estar indo casar, tá pra lá de 20 minutos se arrumando, po. Mó viagem!

Boca: Bora, mãe. Vai chegar pro aniversário de 15 anos?

Sônia: To pronta, não posso ir toda esculhambada, moleque. Anda!

Já vacilei muito com minha mãe, ela deu a vida dela por mim, tá ligado? Se não fosse por ela, eu acho que estaria morto hoje, papo reto.

Sônia: Não vou de moto, Wellerson.

Boca: Qual foi, mãe?! Dois minutinhos, po.

Sônia: Se eu to dizendo que não vou, é porque não vou. Bora, vamo a pé.

Boca: Caralho, tu tá brincando, né? Qual foi?!

Sônia: Bora logo! O tanto que você tá falando aí, a gente já tava lá. — neguei com a cabeça, vou ficar batendo boca essas hora com minha mãe não.

Boca: Bora, então. — neguei com a cabeça e fui com ela.

Tô nem acreditando que minha coroa me fez andar, já perdi a conta de quanto tempo não ando pelo favelão, tô vendo que varias paradas mudou e eu não tava nem ligado.

Vagabundo passa por mim e nem acredita, qual foi, po.

Chegamos na Laura e eu fiquei meio escaldado, já sabendo do problema. Minha mãe apertou a campainha e logo a mãe do Vagner apareceu pra abrir o portão. A cara da velha quando abriu o portão e deu de cara com a gente, nem disfarçou po.

Lurdes: Boa noite.

Sônia: Boa noite, Lurdes.

Boca: Opa. Dá licença! — já passei por ela e puxei minha mãe.

Papo reto, encontrar o pessoal lá na churrasqueira me trouxe várias lembranças, tá ligado? Era pra eu estar lá, não esse moleque, po. Vários bagulhos ruins começaram a nascer dentro de mim, papo reto.

Joice: PAIÊ! — minha filha deu um grito quando me viu, veio correndo na minha direção e a galera se assustou maneiro quando me viu. — Eba! Minha vovó veio também.

Sônia: Claro, meu amor. Vovó já tava cheia de saudade. — abaixou e deu um beijo nela.

Joice: Vem, pai. Vem ver o pula-pula que o tio Vagner comprou pra mim. — pegou na minha mão e saiu me puxando.

Laura foi receber a minha coroa, levou ela lá no pessoal e ficaram conversando.

RD: Qual foi, doidão. — fizemos um toque de mão e ele me deu uma cerveja. — Tu é maluco.

Boca: Qual foi, po. To em paz. — tomei um gole da cerveja. — Só brotei porque prometi pra pequena de manhã.

Joice: Olha pai, olha dindo. Olha o que eu sei fazer. — deu uma cambalhota no pula-pula.

Boca: Ô garota, cuidado. Pelo amor de Deus. — ela só riu e fez de novo. Eu tô fodido com essa menina.

RD: Devagar, Jojo.

Joice: Tá, pai. Tá, dindo.

RD: Eu acho que tu tem algum problema de cabeça, po. — tomou a cerveja. — Quando tu tomou aquelas porradas, alguma coisa saiu do lugar. — debochou.

Boca: Qual foi, RD? Tá de marola, po. É minha filha... To te entendendo legal não.

ANDANÇAS - PARTE IIOnde histórias criam vida. Descubra agora