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Boca: Vou sair de lógica contigo, Laura. Para de falar merda! — se exaltou também.

Laura: Que saia, po. Bom que saia mesmo, porque é só assim que você consegue resolver as coisas, né? Não consegue ser homem o suficiente pra resolver, sem sair de lógica. — a essa altura, já estávamos gritando na cozinha, um de frente pro outro e nada que a dona Sônia falasse, fazia com que a gente parasse.

Boca: A garota cansa de reclamar que você só dá atenção pro Luiz Felipe, Laura. Quer meter bronca de certinha?

Laura: Ela fala isso, porque uma dessas putas que você carrega pra sair com vocês, encheu a mente da garota de merda. Porque nem pra selecionar com quem sua filha convive, você serve. A garota acha normal você ter várias namoradas, e ele ter um monte de tia. Olha a porra do exemplo que você dá pra ela, po. Imagina essa menina na adolescência? Vai aceitar ser amante, porque isso é normal diante do que o maior exemplo dela faz.

Boca: Você só fala merda, Laura. — bateu com uma cadeira no chão.

Laura: Eu falo a verdade, e você não aceita. Você não gosta de escutar verdade. E olha que ser pai era seu maior sonho, imagina se não fosse, né? Imagina o tamanho das merdas que você faria. — respirei fundo. — Eu não tenho mais nada pra falar, só espero que você tenha consciência de que você tá criando uma filha, não um bode.

Ele ficou me olhando sem entender nada, e eu virei as costas, indo em direção a sala. Chamei dona Sônia e começamos a conversar na varanda.

Combinei com ela que a Joice passaria sim, um tempo lá, mas eu a buscaria todos os finais de semana. Ia inverter com o Boca, no caso.

Laura: Mais tarde, quando ela estiver em casa, venho trazer algumas coisas pra ela. — me despedi da dona Sônia e voltei pra casa.

Não era isso que eu queria fazer, é óbvio. Mas talvez fosse o único jeito do Boca entender certas coisas, quem sabe, até amadurecer.

Cheguei em casa e o carro do Vagner estava na garagem, parece que alguém chegou mais cedo, né?!

Vagner: Onde você tava, Laura? Que eu to te ligando pra caralho e tu não atende?

Laura: Boa tarde pra você também, Vagner. Eu estava resolvendo a vida da Joice.

Vagner: E não me atendeu por quê?

Laura: Porque o telefone ficou aqui, eu não ia demorar. Aliás, nem demorei. — passei por ele e fui direto tomar banho.

Vagner: Carol tá aqui pra te ajudar, mas não é pra ficar com o Luiz enquanto você tá batendo perna pela rua não.

Laura: Vagner, faz um favorzinho pra mim, por favor?! Me erra e deixa eu tomar meu banho em paz.

Vagner: Você acha que tá certa em sair e deixar o Luiz com a Carol? Acha que eu não to na razão de ficar puto por te ligar e você não atender?

Laura: Que parte do "celular ficou em casa", que você não entendeu?

Vagner: O que tu foi fazer na casa do Boca, Laura?

Laura: Conversar com a dona Sônia...

Vagner: Conversar o quê, Laura? O que tanto você conversa com eles?

Laura: Eu tenho uma filha com o Wellerson e se eu não tiver ajuda da família paterna dela, que é com quem ela mais convive, não vai dar pra mim. Não sei se você já percebeu...

Ficou quieto e saiu do banheiro, finalmente, me deixando sozinha pra ver se conseguia relaxar.

Depois do banho, desci e ele não estava mais em casa, deixou avisado com a Carol que ia na mãe dele com o Felipe e que mais tarde, voltava.

Carol: Vagner tá me saindo um crianção também, hein. O que ele quer que você faça? Abandone a Joice?

Laura: Era só o que me faltava, sabia? Eu tô no meu limite. Como eu queria o Roger aqui, pra me ajudar nisso tudo. — respirei fundo e deitei no sofá.

Acabei dormindo no sofá, e acordei com o barulho da porta, era o Vagner voltando.

Vagner: Minha mãe deu banho nele la, tá? — arqueei a sobrancelha. — Algum problema?

Eu me poupei e não respondi. Assim que ele o botou perto de mim, Luiz acordou e ficou me olhando. Brinquei com ele um tempão e depois subimos, dei de mamar a ele, pus pra arrotar e fiquei na cadeira de balanço, até ele dormir.

É incrível! Sempre que eu acho que vou conseguir viver uma fase tranquila na minha vida, eu não consigo. Eu devo ter sido muito pecadora nas outras encarnações, porque não é possível a quantidade de merda que acontece comigo.

ANDANÇAS - PARTE IIOnde histórias criam vida. Descubra agora