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Acabei esquecendo de levar as coisas pra Joice, mas amanhã eu levo, aproveito e saio com ela e com o Luiz, pra tomar um sorvete, passear.

Já estava deitada quando o Vagner apareceu no quarto, foi direto pro banho e voltou sem dizer nada.

Laura: Tô cansada de achar que nossas brigas estão resolvidas e no final, parecer que tudo acumulou.

Vagner: Eu tô cansado de tanta coisa, Laura. — sentou na cama.

Laura: Então, me fala, ué. O que tá te cansando?

Vagner: Eu sei que você não tem culpa dessas paradas da Joice, mas esse comportamento dela me cansa. Nenhum de vocês tem pulso com ela, cara.

Laura: Vagner, eu juro que tento, eu não sei mais o que fazer. Já conversei, já botei de castigo, já fiz o que podia ser feito, mas de que adianta eu dizer aqui que não pode e la no pai dela, ele dizer algo totalmente contrário? Hoje, eu fui lá, rodei a baiana, fiz o que pude e vou deixá-la lá, por um tempo, mesmo que não seja da minha vontade... — deixei as lágrimas caírem. — Eu não posso simplesmente abandonar a minha filha, só porque ela não tem exemplos bons, ela é só uma criança. Sei que ela não pode se esconder atrás disso e eu não posso deixar correr frouxo.

Vagner: Ô Lau, tá difícil pra nós dois. Eu tô ligado, mas queria que tu me entendesse também. Na maioria das vezes, eu não tô puto contigo, cara, é com a situação, entendeu? — balancei a cabeça positivamente. — Vim mais cedo hoje, porque tu sabe como eu sou ansioso, e consegui um desenrolo com meu encarregado, pra gente viajar no final de semana que vem.

Laura: Que? — enxuguei as lágrimas. — Como assim? Por que não me disse nada? Semana que vem?

Vagner: Eu queria fazer surpresa, pô. — levantou, foi no armário e voltou com as passagens. — Nós 4, né?! — sorriu.

Eu explodi de felicidade, ia realizar um dos meus sonhos, que era conhecer o Nordeste.

Laura: Obrigada, amor. Obrigada! — levantei da cama e pulei em seu colo.

Trocamos alguns beijos, carícias e acabamos transando, coisa que não fazíamos ha algum tempo, já que mais brigávamos do que qualquer outra coisa.

Conversei direitinho com o Vagner e ele entendeu numa boa, que eu iria levar as coisas da Joice e o Luiz Felipe iria comigo, porque eu pretendia levá-los pra tomar um sorvete na praça, ou sei lá.

Arrumei o baby, botei algumas coisas da Jojo no carro e fui pra casa da dona Sônia.

Alice: Meu Deus! Que neném lindo. — ficou toda boba quando o viu no meu colo.

Joice: Que neném, tia Alice? — veio da cozinha. — Ah, é o Lipe. Oi mãe, já veio me buscar? Mas meu pai disse que vou morar aqui...

Laura: Calma, filha. Fala direito comigo, poxa. — sentei no sofá e ela veio pro meu lado, um pouco estranha, mas sentou e ficou fazendo carinho no pé do Felipe.

Sônia: Oi, minha filha. Deixa eu ver essa coisa gostosa, deixa. — veio da cozinha secando a mão no pano de prato. — Ah, meu Deus! Que coisa linda, sua cara ele né?

Laura: Dizem que sim. — eu ri. — Vocês já almoçaram? Tô pensando em levar a Jojo e ele pre dar um passeio.

Joice: Eba! — disse entusiasmada.

Sônia: Ué, Joice, mas seu pai não te botou de castigo? — olhei pra ela, que murchou na hora.

Joice: Mas vó, o castigo é só com ele, não é com a minha mãe.

Laura: Não, não. O castigo é com os dois, ué. — ameaçou a chorar. — Tá de castigo por quê? — não me respondeu e saiu andando, acredito que pro quarto dela.

Sônia: Joice! Vem aqui contar pra sua mãe. — chamou e ela não veio. — Vou buscar ela, filha, pera aí.

Voltaram as duas lá de dentro, Joice enxugava as lágrimas com uma mão, enquanto com a outra, segurava a mão da avó.

Sônia: Explica pra sua mãe.

Joice: Não quero, vó. Conta tu! — deitou do meu lado, apoiando a cabeça em minhas pernas e escondendo o rosto com as mãos.

Laura: Fala, filha. Por que você tá de castigo? — começou a chorar novamente e falar as coisas emboladas. — Fala sem chorar, eu preciso entender.

Joice: Eu derrubei suco no cabelo da minha colega e respondi minha professora, mãe. Mas foi sem querer...

Laura: Joice, eu não acredito. — neguei com a cabeça. — Por que você fez isso? Não te ensinamos a se comportar assim.

Joice: Ela queria brincar, e eu não queria que ela brincasse.

Laura: Mas isso é feio, filha. Tem que brincar com todo mundo, imagina se os seus amigos não deixam você brincar. Você não ia ficar triste?

Joice: Eu ia, mãe. — enxugou as lágrimas.

Laura: Segunda-feira, vou te levar na escola pra ver você pedindo desculpa pra ela, tá bom?

Joice: Mas, mãe...

Laura: Não tem mais, nem menos. Vai pedir desculpas pra ela e pra sua professora. — não respondeu mais nada e ficou deitada no meu colo, enquanto eu fazia carinho no seu cabelo.

Sônia: Minha filha, na terça tem reunião. Você quer que eu vá?

Laura: Não, tia. Era bom que o Boca fosse, sempre eu e a senhora que vamos em todas, agora que ela tá morando com ele, tem que assumir essas responsabilidades também. Aliás, era pra ter assumido desde sempre.

ANDANÇAS - PARTE IIOnde histórias criam vida. Descubra agora