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Eu não podia acreditar. Eu não sei queria acreditar. Naquele momento, a minha vista escureceu, me faltou ar e a única reação que tive, foi sair de lá correndo. Entrei batendo a porta do banheiro e botei tudo pra fora..

X: Moça. A senhora precisa de ajuda? — eu até tentei respondê-la, mas não saia nada de minha boca.

Fui até a pia, lavei meu rosto e a moça que antes me ofereceu ajuda, voltou com um copo d'água pra mim.

X: Sei que é difícil, mas tente se acalmar. O seu bebê precisa de você bem, ele sente todas as suas emoções e sente dobrado. — concordei com a cabeça e devolvi o copo a ela, ainda trêmula. — Tem alguém aqui com você?

Laura: Meu pai... — respirei fundo. — Meu pai tá lá fora.

Saímos do banheiro e fui levada a uma sala, parecia um escritório. Sentei-me em um sofá preto, apoiei meus cotovelos sobre os joelhos e o rosto entre as mãos.

X: Qual é o nome do seu pai?

Laura: Alex de Sá Lima. — não sei como lembrei o nome todo.

Saiu uma moça e entrou a outra.

X2: Meu nome é Monalisa, vou esperar que a senhora se acalme, mas está com os documentos dele aí? — fiz que sim com a cabeça.

Laura: Ele vai trazer. — olhei pra porta e abaixei novamente o olhar, chorando muito.

As nossas lembranças me invadiram, um filme passou pela minha cabeça. Todos os nossos momentos, as nossas histórias, a imagem da tatuagem que fizemos juntos, não saia da minha cabeça.

Meu pai entrou na sala, já vindo logo em minha direção, desesperado.

Se pra mim, já seria impossível. Imaginem pro meu pai, que teria de enterrar um filho...

Depois de resolver a liberação do corpo, velório e enterro, fui até uma padaria que tinha na frente da capela com meu pai, enquanto aguardávamos o carro da funerária.

Fiz as ligações necessárias, avisei a quem consegui.

Sentei num banco, próximo ao balcão, enquanto meu pai pedia qualquer coisa pra eu tentar botar pra dentro.

📺 Governador dá os cumprimentos ao Capitão Ribeiro e sua equipe.
Capitão Ribeiro: Missão impecável! Obtivemos resultado positivo, mas isso ainda não acabou.

Laura: Por favor, tem como desligar a televisão? — falei baixo com a moça que estava pegando um salgado na minha frente.

X: Eu não posso. Desculpa! — eu segurava o choro.

📺 Repórter: Foram confirmadas 15 mortes, incluindo a do braço direito do traficante BN, Roger Patrick Esteves de Lima, mais conhecido como RD.

Laura: DESLIGA ESSA PORRA!!!!! — gritei e todo mundo me olhou. Dei uma porrada nas coisas e saí de lá, atravessando o sinal sem olhar.

Sentei na calçada da capela e me acabei em lágrimas. Chorei tento que parecia que eu ia sufocar... Meu pai tentou me fazer comer alguma coisa, mas rejeitei tudo.

O velório começou e eu pedi que não fosse muito longo. Não dá pra alongar sofrimento dessa forma.

Eu achei que já tinha visto as piores cenas da minha vida, até ver minha afilhada se esgoelar chamando pelo pai, na beirada do caixão. Com toda certeza do mundo, isso me traumatizou.

Todos nós sabemos o fim dessa vida, ainda mais no estilo em que o meu irmão vivia, mas quem é alguém pra julgar? Só Deus pode nos julgar. Sei também que tem gente que entra nessa vida porque é ruim mesmo, mas tem gente que entra por necessidade e com ele, foi assim.

O choro doído da Gabi me dava a sensação de que alguém estava enfiando uma faca no meu peito e rodando. Por Deus, eu queria que tudo isso fosse mentira.

Chamamos o padre fazer a oração, e depois, eu não consegui acompanhar o cortejo, até onde ele seria enterrado. Eu apenas fiquei em pé, parada na porta da capela, com minha visão afunilada e turva.

Laura: Deus, por quê? — eu olhava pra cima, esperando uma reposta. — Eu só quero o meu irmão de volta.

ANDANÇAS - PARTE IIOnde histórias criam vida. Descubra agora