2 ▹ ABISMOS

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Você tem o quadril como o de Jagger e dois pés esquerdos, e eu me pergunto se você gostaria de me encontrar. — Halsey (Finally // beautiful stranger).

      — Ei, eu estou aqui! — proferi fazendo uma careta

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      — Ei, eu estou aqui! — proferi fazendo uma careta.

      Minha vida era assim: nem meus pais se salvavam.

      — Sabemos disso, minha filha — Pilar murmurou enquanto afagava minha cabeça sem retirar o sorriso divertido do rosto.

      — Se falam isso com a minha presença, imagina o que falam quando não estou. — Enruguei os lábios e desempenhei uma expressão de piedade, exatamente como uma criança de dez anos faria. Eu sabia, às vezes eu não era tão madura, mas o que eu podia fazer senão me defender através do vitimismo?

      — Não voltem tarde, garotas — Ricardo nos orientou, e ele ia continuar a falar, porém, já sabíamos de cor o que vinha a seguir: cuidado ao falarem com estranhos, olhar para os lados quando atravessarem a rua... Sim, meu pai tratava a gente como crianças que não sabem sequer se cuidar sozinha, e isso era muito, mas muito estranho. Eu já era maior de idade, assim como minha amiga, mas parecia que, para ele, isso não era justificativa suficiente para nos tratar como adultas. — Amamos você.

      E então eu sorri, sabendo que isso era suficiente para suportar todo os cuidados exagerados e as brincadeiras impiedosas.

      — Não se esqueçam do protetor solar! — minha mãe gritou quando eu já estava na porta, totalmente desesperada para sair de casa. Bianca a respondeu com um outro grito, mas não sabíamos se ela havia escutado.

      A caminhada até o clube foi curta, pois era bem perto de casa. No caminho, passamos por uma soverteria e aproveitamos para nos refrescar com um super sorvete. O da Bianca era simples: morango com chocolate. O meu, no entanto, possuía praticamente todos os sabores da sorveteria.

      Assim que chegamos, pusemos nossas pulseiras e adentramos o parque aquático. Estava cheio, e não sem razão, pois era domingo e o sol castigava nossas peles, brilhando com tanta intensidade que tudo o que eu desejava era me jogar em uma das piscinas e ficar ali para sempre. Mas, ao contrário do meu desejo, apenas me deitei na espreguiçadeira ainda com os óculos de sol no rosto. Minha amiga, por sua vez, retirou o short que usava, expondo seu corpo esguio e me passou o bronzeador, para que eu a empanturrasse de gel.  

      Logo em seguida, me encharquei de protetor solar, sentindo até meus ouvidos incomodados com o creme, e dei de ombros. Deitei de barriga para baixo na espreguiçadeira enquanto conversava com Bianca que estava ao meu lado.

     Era um momento simples, eu bem sabia, mas era bom sentir aquela paz, aquele conforto e aquela sensação de que tudo no mundo estava encaixado em seu devido lugar. Sentia-me tão bem que, por um instante, esqueci da existência de Bruno e de qualquer outra pessoa. Esqueci das memórias ruins e que eu não era tão normal assim.

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