30 ▹ EM CHAMAS

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E se você teve que partir, queria que fosse definitivamente, porque sua presença permanece aqui, e ela não me deixa em paz. — Evanescence (My Immortal).  

      Para não dizer que não tentei, eu forcei meu corpo a levantar do chão encardido quando notei escurecer

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      Para não dizer que não tentei, eu forcei meu corpo a levantar do chão encardido quando notei escurecer. Não consegui. Fracas, minhas pernas pareciam dormentes, como se as pequenas e frágeis gotículas de chuva, que iniciavam sua queda na cidade, as tivessem congelado. Meu cabelo permanecia grudado em minha pele, tão omisso e decaído quanto meu coração apertado.

      — Não... Não... Não — eu expelia como um mantra, ainda encolhida naquela calçada desnivelada. Todos que passavam me olhavam como se eu fosse uma moribunda, até mesmo uma surtada, mas eu não os julgava por tais pensamentos. Talvez eles soubessem de todos os meus segredos e me culpassem também.

     Sentia-me como se todos me sentenciassem, como se apontassem seus dedos de acusações sobre mim e eu nada pudesse fazer, a não ser me espremer entre meus próprios devaneios e estagnar em minha própria mente perturbada e caótica.

     De longe, observei alguém me fitar com curiosidade. Analisei os cabelos hidratados da garota, bem como o sorriso cínico, a roupa apertada, que expunha seu corpo magro, até mesmo o guarda-chuva preto que segurava.

     — Olá, amorzinho. — Ela acenou. Talvez eu não devesse ouvi-la, já que ainda permanecia distante, porém, parecia que a chuva fazia questão de repercutir a voz da loira.

      Reconheci de imediato o amorzinho. No pesadelo real que tive, Maggie costumava falar tal apelido com todos. Entreabri a boca em curiosidade. Era ela. Só podia ser. A garota que derrubaram, que trazia lanches engordurados, a tal Jéssica.

       Era por isso que ela parecia ter uma predileção de me incomodar entre tantas pessoas? Por que eu era parecida com a pessoa que a machucou no passado, considerando que ela não sabia da verdade?

        Mais um peso se resguardou em meu ombro. Eu era pior do que aquela garota, por isso, sequer esbocei alguma reação, apenas a fitei pedindo desculpas, mesmo em silêncio. Eu conseguia me sentir menor do que eu já estava segundos antes.

       Jéssica simplesmente me deu as costas e foi embora, confusa, trilhando seu caminho.

        Meu celular começou a tocar uma música, alguém me ligava, e eu sabia quem era só pelo som. Era uma melodia diferente dos outros, única, para alguém especial.

       Deitei meu corpo sobre a superfície gelada do lugar, sem me importar em aumentar a sujeira de minha roupa, sem me incomodar com os respingos sobre minha face e sem interesse em fingir que estava tudo bem. As lágrimas escorreram, e talvez não fosse mais possível diferenciar mais os líquidos em minha pele.

      A música parou. Segundo depois, voltou, insistente. Segurei o celular nas mãos e encarei a tela com nossa foto em Londres. Estávamos tão felizes. Conectados. Ali eu ainda me sentia alguém digna de seu amor.

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